Desobsessão: conceito, tratamento e cura

As terapias para desobsessão são inúmeras, todas voltadas ao princípio de elevação espiritual dos Espíritos, eliminando a área de interesse comum entre obsessor e obsidiado.

O tema desobsessão requer averiguação das causas de nossos desequilíbrios passados e atuais. Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Claudio Luiz nos traz um estudo sobre o conceito, o tratamento e a cura da obsessão.

Informa o palestrante que a forma de viver voltada ao materialismo ou ao espiritualismo é uma balança que ora coloca os seres em situação de tranquilidade, ora tira toda a paz e o equilíbrio, mudando a vibração sensivelmente.

Obsessão e materialismo

De acordo com nossa evolução, vamos nos distanciando do materialismo persistente, que, gradativamente, vai sendo substituído pelas bênçãos espirituais.

Para o materialista, de modo geral, a vida se resume na posse de coisas, no cultivo de prazeres efêmeros, na valorização da beleza física, no ter cada vez mais, muitas vezes levando essa forma de sentir e pensar às últimas consequências.

O materialismo está na base das mazelas morais que assolam a humanidade. Quando não se vê nada além da matéria, quando não se tem perspectivas além do túmulo, nada resta senão gozar ao máximo daquilo que o mundo tem a oferecer, daquilo que satisfaz os sentidos. 

Mas somos bem mais do que isso e, por este motivo, o vazio se instala em nosso eu profundo quando apenas atendemos nossas satisfações materiais. Somos então convocados ao movimento libertador. Mas não em vão. Entenderemos posteriormente: 

É neste minuto atormentado, que somos trazidos à arena dos princípios, para consagrar-nos à reconstrução do templo sagrado do Espírito.
— livro Doutrina e Aplicação, por Francisco Candido Xavier. 

Desobsessão e a fé espírita

As crenças e os princípios do Espiritismo incluem a existência de Deus, a imortalidade da alma, a reencarnação como meio de evolução espiritual, a possibilidade de comunicação com os espíritos, a pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados e a lei de causa e efeito que promove a justiça divina.

O mais importante princípio da Doutrina Espírita é a existência de Deus como o criador necessário de tudo o que existe: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (O Livro dos Espíritos, questão 1).

Contemple o Universo onde Deus se revela com sua leis sábias e obras admiráveis que constituem um conjunto grandioso de tanta harmonia e onde há perfeita adequação dos meios aos fins, que se torna impossível não ver a ação de uma Suprema Inteligência, como nos diz O Livro dos Espíritos, questão 4, em que o Codificador perguntou aos espíritos onde se pode encontrar a prova de que Deus existe e eles responderam: 

Num axioma [premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira], que aplicai às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que não é obra do homem e a vossa razão responderá.
— O Livro dos Espíritos, questão 4.

Quanto à imortalidade da alma, os fundamentos baseiam-se nas evidências concretas das manifestações dos Espíritos e no testemunho destes.

A reencarnação, baseada na justiça de Deus, concede infinitas oportunidades para que os espíritos se reajustem. É uma consequência necessária da lei do progresso. É através dela que o espírito repara seus erros e evolui, sendo assim um processo de aprendizagem.

E qual a finalidade das comunicações dos espíritos? Os espíritos são as almas dos homens que desencarnaram e retornaram ao mundo espiritual. Através da mediunidade, estes podem entrar em contato com o mundo material. Segundo Allan Kardec, a classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições que ainda terão que despojar-se. Sendo assim, as comunicações dos espíritos vão variar de acordo com o grau de adiantamento moral e intelectual de cada um, assim como acontece com as comunicações dos seres em nossa sociedade no mundo encarnado.

Desobsessão e sintonia

Se as comunicações se diferenciam pelo grau de adiantamento dos espíritos encarnados ou desencarnados, voltamos nossa atenção para a sintonia entre os espíritos, encarnados ou não. A afinidade é uma “faixa de união” em que nos integramos um ao outro. Nossos pensamentos atraem, absorvem, impulsionam ou afastam. Com nossa vontade, caminhamos para as mais variadas direções.

Em essência, somos o que pensamos e sentimos e, consequentemente, o que fazemos, conectando o nosso mundo interno ao universo externo.

Estamos ligados uns aos outros. Jesus nos deixou essas palavras: “há muitas moradas na casa de meu Pai”. (João 12: 1 a 3).

Os espíritos revelaram a Kardec a existência de inúmeros mundos habitados no Universo.

Assim como existe a pluralidade dos mundos, também há a pluralidade das existências, ou seja, o espírito reencarna diversas vezes em corpos diferentes. A cada reencarnação, o espírito tem a chance de reparar falhas do passado e progredir.

Diante desses esclarecimentos, já podemos perceber que os processos obsessivos acontecem porque, em algum momento, deixamos de seguir os ensinamentos de amor que nos foram passados. A troca respeitosa de ideias; a comunhão de propósitos, ideais e sentimentos; ou o debate acalorado de propostas antagônicas são exemplos de inumeráveis espécies de relações travadas pelos indivíduos no Universo. 

À luz da Doutrina Espírita, todos esses processos podem estar vinculados a complexos processos de interações espirituais e perispirituais, com as inevitáveis consequências. O bem estar do sistema Espírito-Perispírito é fundamental para a saúde global do indivíduo.

Conceito de obsessão

Em O Livro dos Médiuns, no capítulo 23, Kardec informa que a obsessão é o “domínio que alguns espíritos podem adquirir sobre certas pessoas”. São sempre os espíritos inferiores que procuram dominar, pois os espíritos “bons” trabalham para o bem.

Nos processos obsessivos, acontece uma vinculação mental e emocional provocada por sentimentos mesquinhos. A educação dos pensamentos é muito difícil quando os sentimentos não são modificados para melhor. Por exemplo, a interação de caráter moral negativo entre um obsessor desencarnado e um obsidiado encarnado pode adquirir alta gravidade pelo condicionamento do ser obsidiado a manter determinados hábitos mentais, orais e físicos, uma vez que a permuta de sensações, telas mentais e fixações negativas são mantidas de forma contínua, inclusive durante as horas de sono do ser encarnado (podendo ser maior nesse momento).

Pessoas informadas sobre a vida espiritual e o processo obsessivo, como os espíritas e médiuns, frequentemente negligenciam os princípios básicos de conduta ético-moral e de vigilância (“vigiai e orai”).

Tipos de obsessão

Allan Kardec apresenta três graus principais de obsessão: obsessão simples, fascinação, subjugação (Livro dos Médiuns, cap. 23). Na continuação de suas publicações na Revista Espírita e em A Gênese, apresenta um quarto grau: possessão.

  • A obsessão simples verifica-se quando um espírito malfazejo se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que recebe, o impede de se comunicar com outros espíritos e substitui os que são evocados.
  • A fascinação tem consequências muito mais graves. Trata-se de uma ilusão criada diretamente pelo espírito no pensamento do médium e que paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações.
  • A subjugação é um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. Esta se encontra, numa palavra, sob um verdadeiro jugo.

Os motivos da obsessão variam de acordo com o caráter do espírito e ela não ocorre por culpa exclusiva dos espíritos inferiores, que ainda se comprazem no mal, pois não entram na vida do outro sem serem “convidados”. Atraímos energias condizentes com nossas vibrações. Quando o espírito, encarnado ou não, se rende ao pessimismo, ao ódio, ao medo, à inveja, ao egoísmo, ao orgulho, abre uma porta para energias similares.

Tratamento e cura de desobsessão

As terapias desobsessivas são inúmeras, mas todas voltadas ao princípio de elevação espiritual dos Espíritos, que elimina a área de interesse comum, e, portanto, de simbiose espiritual entre obsessor e obsidiado. Lembrando que a obsessão pode ocorrer de um encarnado para outro, de um desencarnado para um desencarnado e entre desencarnados.

O que leva um desencarnado a tornar-se um obsessor? Alguns continuam apegados aos bens ou pessoas que deixam na Terra, ou existem dívidas que podem ser materiais ou emocionais que vêm a ser cobradas pelo obsessor. Isso nos remete ao fato de que nada é por acaso. Quando em tratamento, aparecem ligações que foram esquecidas quando o espírito reencarnou.

Outros são obsessores por motivo de vingança, quando não esquecem o mal que foi feito em encarnações passadas.

Alguns se tornam obsessores por causa de seus vícios. São os “vampiros” que se aproximam dos encarnados para lhes sugar a mesma energia.

Pode ocorrer também obsessão em face da separação trazida pelo desencarne de um ente querido e o encarnado lamenta-se, chama o desencarnado de volta em pensamentos, gerando sofrimento para ambos, encarnado e desencarnado.

E, ainda, nos tornamos nossos próprios algozes quando nos mergulhamos em sentimentos de autocomiseração, rancor, raiva, tristeza, desilusões, auto julgamentos.

Todos esses motivos nos levam a entender que precisamos perdoar, compreender, aceitar, confiar e ter fé. Estamos aprendendo e vamos caminhando em direção ao bem. Se hoje estamos melhores, não significa que não agimos erradamente antes.

No caminho para a cura, várias estratégias são necessárias e importantes: 

  • buscar casa espírita para conversa fraterna e posterior tratamento, 
  • o Evangelho no Lar para auxiliar a modificar o ambiente energético da residência, 
  • buscar ajuda psicológica para que os pensamentos e convicções sejam renovados e, também, 
  • procurar auxílio físico com os médicos terrenos, já que esses processos obsessivos trazem consequências espirituais, mentais, psicológicas e físicas.

Orando com fé, mas, principalmente, transformando, vamos sentindo, sutilmente, a mudança energética. A autotransformação é imprescindível, o olhar para dentro sem autojulgamento e sem julgar o obsessor. Nossa melhoria está associada à melhoria dele também. Sempre que é feito um tratamento em casa espírita, percebe-se claramente a evolução de ambos, obsessor e obsediado e esse é um momento inesquecível, de grande emoção. Compreendemos, então, o quão felizes nos sentimos em entender que aquele que foi nosso inimigo ontem, hoje é um companheiro em processo de cura também. Não há palavras para exprimir tal momento!

Nossa felicidade está atrelada à felicidade do outro. Só sentiremos as bem-aventuranças com toda a sua profundidade quando estivermos todos juntos querendo o melhor para nós e para todos que nos rodeiam.

Referências:

  • LIVRO DOUTRINA E APLICAÇÃO. Pg 20.
  • O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questão 1.
  • O LIVRO DOS MÉDIUNS. Cap. 23.

Acompanhe agora o áudio da palestra que inspirou esta publicação:

E, ainda, uma palestra sobre a Prece aos Obsessores:

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
**Imagem em destaque via DALL.E do ChatGPT.

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