Muitos se queixam de imperfeições e dificuldades; inúmeros não enxergam as oportunidades e os talentos que usufruem.
Se todos temos empeços, todos igualmente desfrutamos vantagens.
Uns, possuindo vastos recursos, ocasionam prejuízos sem conta; outros, cercados de obstáculos, produzem valores imperecíveis.
— Livro Sol nas almas, capítulo 30, Prejuízos e Vantagens.
Enxergando além das dificuldades
Os prejuízos aos olhos do mundo seriam nossas aflições e dificuldades. Entretanto, na verdade, tudo tem um motivo de ocorrer, e a dificuldade é atraída pela necessidade de provação ou expiação, isto é, de evolução. Não necessariamente significa sofrimento, pois depende da forma como encaramos a vida. Se for pela resignação, o desafio ou dor pode até persistir, mas certamente se encontrará algum proveito para evolução espiritual.
Ou o prejuízo também pode ser visto no âmbito dos nossos defeitos morais, que todos temos, mas ou queremos esconder debaixo do tapete, ou a exaltamos demais num vitimismo. Nem um, nem outro. O que devemos fazer é identificar e olhar para nossas chagas morais com carinho, cuidado e atenção, compreendendo nosso nível evolutivo, mas buscando formas efetivas de melhorar sempre.
“Nem tudo são flores”, mas respire, nem tudo são “dores” também. Voltemos nosso olhar para as vantagens da vida, nossas virtudes já adquiridas, o quanto já melhorei intelectual e moralmente nessa encarnação. E além, o quanto posso compartilhar isso, ou seja, olhemos para nosso potencial de trabalhar com Jesus,
Impressão digital
Nós temos a marca de Deus em nós, a centelha divina que caminha rumo à perfeita sintonia com a lei de Amor. Criados espíritos simples e ignorantes, que galgarão com as próprias pernas à sabedoria e amor universais, nós, por nossa vez, deixamos nossa marca em tudo, pensemos nisso.
Colocado entre espírito e matéria, temos o fluido universal, estamos todos imersos nele. Portanto, assim como ar que nos rodeia, e constantemente inspiramos oxigênio e expiramos gás carbônico, inspiramos esse fluido universal e exalamos algo com a nossa impressão digital. A todo instante estamos modificando tudo ao nosso redor, com a própria vibração, e que nem notamos o quanto interferimos no ambiente, nos espíritos a nossa volta (encarnados e desencarnados).
Lembrando disso, naturalmente vem a importância de trazer a consciência para a responsabilidade disso. Que marcas estou deixando por onde passo? Quando olho para trás, consigo ver flores nascendo por onde passei? O que estou plantando? Ou as marcas que estou deixando são os espinhos da discórdia, rancor, ingratidão, impaciência? Talvez seja um misto disso.
Que marcas estou deixando em mim mesmo? Pode ser óbvio, mas tudo o que pensamos, falamos e agimos marca nossa alma, nosso perispírito. Carregamos essas marcas até o momento da mudança. Quais marcas deixo no outro?
Que prisma estou usando?
Quando olhamos para vida pelo prisma do pessimismo e vitimismo, deixamos passar valiosas oportunidades. Novas surgirão, mas não exatamente da mesma forma, provavelmente serão mais complexas e desafiadoras.
Quando nos percebermos constantemente insatisfeitos e angustiados, é porque algo tem que mudar. Mudar primeiro o olhar, ansioso e preso nas correrias do mundo material, para o olhar presente, consciente das oportunidades abundantes que me aparecem.
As oportunidades estão em tudo, estão nos convites-desafios da vida, que surgem para satisfazer o desejo intrínseco da alma de evoluir. O convite a paciência, compreensão e tolerância, a começar sempre dentro do lar. O convite de Jesus de olhar para “boa parte” das pessoas, que assim como nós, tem virtudes e defeitos.
Pensemos na vantagem de olhar como Jesus, que enxerga a frente, enxerga para além da pedra bruta que somos, cheios de imperfeições a lapidar. Ele enxerga o diamante luminoso, radiante que um dia seremos, e temos em forma de gérmen dentro de nós.
Notemos, então, os prejuízos da forma de enxergar a vida pelo lado da escassez, do que falta, do imperfeito, insuficiente, da reclamação.
E possamos ver as vantagens de enxergar como Jesus, pelo lado da abundância, do que já somos e conquistamos, da gratidão por isso. O olhar racional, consciente, que vigia e que ora. Que sabe que é imperfeito, mas consegue encontrar em si os talentos que Deus confiou para semear.
Escolho a partir da lente interior
Dirijamos as lentes do estudo desapaixonado sobre nós mesmos e perceberemos, de imediato, o que realmente somos e o que podemos ser, em matéria de bem ou mal, para os outros, na ordem da vida, tudo dependendo da aplicação de nosso livre-arbítrio.
— Livro Sol nas almas, capítulo 30, Prejuízos e Vantagens.
Novamente, a importância do autodescobrimento sempre. Auto-Descobrir no sentido de denudar-se, de se olhar para além das máscaras sociais. De buscar se conhecer, como Santo Agostinho sugere na questão 919 de O Livro dos Espíritos. Com sinceridade, de quem quer entender seus desejos e motivações por detrás das escolhas.
A todo momento estamos escolhendo. Que possamos seguir vigiando e orando (buscando sintonia numa faixa mais elevada) para fazermos melhores escolhas. E possamos escolher ser mais úteis ao próximo, para encontrar a verdadeira felicidade de quem sabe servir com Jesus.
Meditando
Eu, enquanto espírito imortal que sou, aceito e acolho minhas imperfeições. Acolho tudo ainda que não sou, que percebo precisar melhorar em mim. Abraço minha incompletude e sombras, compreendendo que ainda há momentos que causo prejuízos na minha evolução, mas que me comprometo comigo mesmo, para refletir mais no dia a dia, a fim de perceber toda vez que estou pensando, falando e agindo contra a lei de amor de Deus, contra minha própria evolução. E a partir do momento que eu identifico e percebo isso, me esforçarei também, Senhor, para não ficar preso no erro. Assim como numa meditação, onde não nos prendemos aos pensamentos, deixarei os pensamentos ruins irem embora, me libertando deles ao substituí-los por novos pensamentos bons. Me esforçarei para focar mais na superação dos problemas, de como posso lidar de maneira mais leve em relação a eles. E seguir em frente reparando o mal que fizer, com a ação no bem. Assim, após olhar com amor e compreensão para tudo aquilo que não sou, olho também para aquilo que quero ser, com paz. Enxergo em mim, Senhor, a Tua marca divina, a Tua impressão digital do amor, e sinto em mim o potencial de cocriar com Amor no meu universo de relações. Enxergo meu potencial de agir no bem, de dar um passo além para plantar esse bem. O amor que nos conecta PAI, essa fé em ti, e no meu potencial é que será o meu suporte, a minha base forte para seguir em frente. O Teu amor preenche todos meus poros, todos aqueles buraquinhos que tento preencher com outras coisas que me esvaem pelos dedos. Preenche tudo, Pai, e me faz querer transbordar esse amor no próximo, entendendo também todas as imperfeições e limitações dele, e ter um olhar compassivo de que estamos caminhando juntos rumo a Ti. Que eu possa me sentir fortalecido, na minha coragem para fazer diferente, na minha resignação para todas as dificuldades que todos temos, e na minha fé, que pode transportar montanhas e me mostrar todas a vantagens infinitas de seguir nosso Mestre Jesus. Assim seja.
* Colaborou para esta publicação: Ana Maria Beims Lopes.
** Imagem em destaque via ChatGPT.