Vida Interior

Jesus nos orienta a entrar em contato com nosso cômodo íntimo, a vida interior, assim como Ele, que se encontrava em permanente contato com Deus.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que vos assemelhais a sepulcros caiados, os quais se mostram vistosos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda impureza.
— Mateus, 23:27.

Com esta passagem pinçada do evangelho de Mateus, o expositor Gerson Tavares deu início à reflexão durante a palestra exibida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade. Nesse trecho do evangelho Jesus destaca a necessidade de trabalharmos a assepsia da vida interior, enquanto as aparências externas nada representam.

Sociedade de aparência

Neste cenário contemporâneo, de redes sociais e tecnologia, em que tudo encontra-se em âmbito digital, em que imagens e vídeos são transmitidos para todo o planeta com muita facilidade, cada vez mais essas expressões externas e exibições estão se tornando mais intensas. A preocupação com a imagem exterior vem sendo potencializada.

Jesus alertava, chamando de hipócritas, os escribas e os fariseus que tinham por tradição religiosa a preocupação em lavar as mãos e orar nos templos em pé e em voz alta para demonstrar que eram homens cumpridores das leis de Deus. Joana de Angelis, em sua Série Psicológica, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, chama de sociedade de aparência.

Mergulho na vida interior

Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto interno e, tendo fechado a porta, ora ao teu Pai em segredo e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.
— Mateus, 6:6.

Jesus nos orienta a entrar em contato com nosso cômodo íntimo, o recolhimento interior, assim como Ele, que se encontrava em permanente contato com Deus. Segundo Karl Gustav Yung, pai da psicologia analítica, “quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”, chamando a atenção para a necessidade desse mergulho interior. Jung nos fala sobre a estrutura psíquica do ego, sendo o centro da consciência e nos fala do self, a divindade em nós.

Joanna de Ângelis, em sua Série Psicológica, “chama atenção da necessidade do ego manter uma harmonia de relação, sintonia, numa homeostase (equilíbrio) eixo ego self,” explica Gerson Tavares. Joanna de Ângelis traz o self como sendo a potência do espírito, de evolução. É o Reino de Deus dentro nós, o senso moral aguardando ser desenvolvido.

O palestrante nos lembra que Sócrates já falava do autoconhecimento muito antes de Jesus. Quando o filósofo grego desenvolveu o método da Maiêutica como método de educação e de autoconhecimento, propunha que a dinâmica desse método era puxar algo de dentro do espírito para fora.

A Doutrina Espírita, nos contextos dos séculos XIX, XX, XXI e durante o tempo de jornada da transição planetária, é a mais excelente proposta a nos oferecer o aporte de saberes profundos para entendermos a vida interior. A doutrina demonstra cientificamente a imortalidade da alma, para dizer que não somos um organismo, mas que o ser que anima e intelectualiza nosso organismo sobrevive. É o nosso espírito, a mente, o ser que pensa, sente, intenciona, idealiza, planeja, se emociona, ama, odeia. Este ser é a nossa subjetividade, somos nós, espíritos imortais.

Retendo Lixos Mentais

A sociedade, na construção histórica civilizatória, produziu todos os atrativos e investimentos para o mundo exterior. Atraem-se as atenções das pessoas que se deixam possuir por toda forma de pressão externa, levando-as a descuidarem de seu mundo íntimo.

Essa pressão é tão forte que o indivíduo está sempre ligado a essa dinâmica externa. Ele permanece atrelado ao que aconteceu ontem ou ao que fará amanhã, assimilando tais ocorrências do passado ou do futuro, que muitas vezes vêm acompanhadas de sentimentos como pessimismo, desesperança, mágoas, revoltas ou expectativas negativas.

Quando não conseguimos assimilar algo que nos aconteceu, tirando a lição proveitosa para nosso crescimento e eliminando aquilo que será tóxico à nossa dinâmica mental, estaremos cultivando lixos mentais e emocionais.

Façamos Silêncio

Gerson nos convida a cuidarmos do silêncio ambiente e trabalharmos o silêncio interior. O palestrante sugere algumas técnicas e dentre elas cita a prática do Mindfulness, ou Atenção Plena, adotada por vários profissionais de saúde mental no Brasil. Gerson nos lembra que Jesus falava sobre atenção plena quando disse:

Vigiai e Orai.
— Mateus 26:41.

Conhecemos a natureza de nossos sentimentos? O psiquiatra italiano Roberto Assagioli, fundador do movimento psicológico Psicossíntese, diz que há pessoas que não vivem, deixam-se viver, como barcos à deriva, enquanto que há outras que são autoconscientes, conhecendo exatamente a trajetória de suas vidas.

À medida que conhecemos a Doutrina Espírita, vamos compreendendo a necessidade de adentrarmos a nossa vida interior, nosso quarto interno, que contém as razões pelas quais fazemos o que fazemos e sentimos o que sentimos, e assim nos conheceremos subjetivamente.

Não há mergulho interior sem trabalho reflexivo

Diálogo interno é fundamental para que nos encontremos e a descoberta da verdade sobre nós é libertadora. E assim vamos, aos poucos, renovando o inconsciente, reformulando e revolucionando o nosso mundo interno com um novo conteúdo de paz, equilíbrio e serenidade, calcado no evangelho de Jesus, que nos projeta para o amor.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação

* Colaborou para esta publicação: Sandra Lemos.

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