Mansidão e paz
E por falar em mansidão e paz…
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
— Novo Testamento, Mateus, 5:5 e 9
Nestes momentos de conturbaçoes, o convite à mansidão e à pacificidade é um mergulho no próprio espírito. É incondicional a oferta inserida na mensagem de Jesus: inteiramente pacífica.
Mergulho em si mesmo é igual ao apaziguamento do nosso mundo íntimo. A partir deste contato, identificamos a necessidade de não violência também em atitudes externas. A não violência é um estado de espírito, expresso em comportamento externo.
As Leis Divinas, neste caso de atração e repulsão, atraem circunstâncias externas que proporcionem equilíbrio. Em caso contrário, a violência externa é resultado de nossa desorganização íntima.
Ao considerar mansos e pacíficos bem-aventurados, Jesus desperta-nos para necessidade de educarmos nosso mundo interno.
- O que é este educar?
– É colocar a mente mais harmônica a serviço do espírito com propósito de crescimento. Conseguir alinhar a função psíquica central da consciência (ego) com os propósitos do Espírito.
Quando tomamos a decisão de nos orientarmos pelos fluidos da brandura, mansidão, paz, do amor, passamos a estabelecer princípios organizadores voltados para o bem.
Conexão
No mundo prático, permeado de tecnologia, influencia as relações humanas. Distanciando-as, até certo ponto, acabam por torná-las mais frias.
Nessa sociedade desatenta, há mais desencontros que encontros, embora tantas facilidades tecnológicas.
É hora de estabelecermos ligações pelo coração, onde podem ocorrer entendimentos mais harmônicos. Neste olhar, o carinho, a doçura, a gentileza.
Adenáuer Novaes em Psicologia do Evangelho sugere:
Perguntar-se antes de falar: o que vou dizer é construtivo ou não? vai melhorar a relação vigente entre nós? vai favorecer a mim mesmo e ao outro?
Perguntas que ajudam a identificar o próprio crescimento interior e nas relações interpessoais.
Dentro da construção da mansidão e do ser pacífico mora também a paciência. Com as nossas imperfeições e com as imperfeições dos outros.
Voltando às considerações do autor Adenáuer Novaes:
A paz interior não é um conceito mental, nem surge simplesmente do controle dos pensamentos, mas nasce da abertura para assumir-se com seus conflitos e na determinação em solucioná-los. Negar seus problemas, comportando-se de acordo com um modelo ideal propagado por sistemas filosóficos e religiosos, é fugir da paz interior. O único caminho eficiente para alcançar este propósito é a coragem de olhar para dentro de si mesmo.
Viver experiências amorosamente.
Onde, Como? Nas relações com os outros, na relação consigo mesmo e com a vida.
Revezes e alegrias são experiências de capacitação para a vida verdadeira, a espiritual.
Paciência
Paciência = ciência da paz.
Paz = construção de um estado de ser, trabalhado com método, confiança, respeito, favorecendo nossa renovação e a do mundo.
Justo a paciência é a demonstração exterior da paz, por ser um mecanismo de não violência.
Paciência é caridade? Sim, e com significado muito especial. É sinalizadora do esforço pessoal (auto-descobrimento, auto-conhecimento e auto-iluminação). E sinalizadora do esforço direcionado ao que sofre ajudando-o com benevolência, resignação, indulgência, perseverança.
Quantos corações pacientes conseguem escutar gemidos agressivos, encolerizados, doentios. Não é fácil entender o desespero do outro. A paciência, esta expressão da ciência da paz, encoraja a quem auxilia e a quem sofre.
Filhos de Deus
Jesus usou o recurso tempo para iniciar o ministério, preparando as mentes com os missionários anteriores.
Definiu o espaço não apenas como uma dimensão feliz a ser conquistada no pós-morte. Mas trouxe o Presente, o momento hoje, como oportunidade para se marchar na busca de Deus pensando Sua Paternidade, através de quantos rodeiam nossos passos.
Oferece-se como Jesus-Homem, vivo e atuante, amando, servindo, esperando, ensinando, intercedendo. Construtor do estado de paz que dignifica, harmoniza, eleva, que estrutura o caminho no próprio caminhar.
Aqueles que aceitarem o desafio de “serem chamados Filhos de Deus….” saberão que a proposta é para continuarem num mundo adoecido, precisando restabelecer saúde moral.
Não fugirem, continuarem fabricando tesouros com fios de mansidão, além de paciência, afabilidade, bondade, tranquilidade, gentileza, cortesia e tantos outros.
Esses tesouros criarão estados pacíficos, enriquecendo moralmente as criaturas do organismo social.
Mansidão e sabedoria
A mansidão não quer dizer ociosidade, hesitação, fraqueza. Mas a sabedoria de guardar silêncio quando preciso, de falar sempre que necessário desfazendo enganos, esclarecendo.
Verdade, referida por Jesus, não é arma de agressão. Mas sim, luz que nos ilumina, e aos outros. Ser e sentir-se manso é ser calmo, operoso, humilde, confiante, estendendo a graça da esperança com alegria. Que melhor herança?
Como assegurar a paz no mundo? Depender das nações? Não somente, mas principalmente na construção e no cultivo da paz no cotidiano, entre as criaturas.
Quantos momentos com assuntos graves, quantos erros, problemas, conflitos, ofensas, desassossegos. Quantas crueldades, rebeldias, empecilhos nos trabalhos, queixas, convulsões, aflições, etc.
Muitos, no entanto, assimilando e consagrando-se a transformar as atitudes corriqueiras em entendimento fraterno, em críticas construtivas, em silêncios de dignidade, em acolhimentos confidenciais, em tratos de doçura, em desculpas, em palavras de consolo e esperança, em exercícios de tolerância, enfatizando alegria, bom ânimo.
Quanto puder tranquiliza a vida em torno. Ser manso é ingridiente para ser pacífico. Bem-aventurados, disse Jesus, porque além de serem reconhecidos como filhos de Deus, herdarão a Terra, da qual Deus, nosso Pai, é o Grande Proprietário. Está herança não é gleba fatiada. É o espaço de trabalho que Deus nos concede, nas vias das reencarnações, para aprendermos a equilibrar-nos.
Pacifica
Emmanuel, na revista Reformador 02/1960 faz considerações interessantes, que usamos como medidas sugestivas:
- O que busca: o Reino de Deus.
- Cenário: suas próprias lutas terrenas.
- Foi ferido? pacifica desculpando.
- Foi caluniado? pacifica servindo.
- Foi menosprezado? pacifica entendendo.
- Foi irritado? pacifica silenciando.
Armas (defesa):
- Perdão,
- Trabalho,
- Compreensão,
- Humildade,
- Oração.
Remédio: O Tempo
O tempo…
- Sazona o fruto verde.
- Altera o aspecto do charco.
- Amolece o rochedo.
- Cobre o galho murcho de novas flores.
Conclusão: Comece a construir o caminho para o Reino, a partir de você mesmo. Onde estiver seja pacífico, onde estiver seja um pacificador.
Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Maria Thereza Carreço de Oliveira.
**Imagem em destaque: via Pixabay.com