Aprendestes que foi dito: “Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.” Eu, porém, vos digo: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. — Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?”
— Mateus, 5:43 a 47.
Com esta passagem do evangelho, a palestrante Rilliam Shaeffer iniciou sua exposição sobre sobre o tema Retribuir o Mal com o Bem, a partir do capítulo XII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Amai os vossos inimigos“.
Ao lermos o Evangelho, percebemos que o que ele nos propõe pode parecer-nos inicialmente algo difícil de praticar. Mas, aprofundando o tema, vemos que consiste em não se ter a intenção de odiar, mas que tentemos orar por aqueles que nos caluniam, que atacam e perseguem.
Assim, ao retribuirmos o mal com o bem, já vamos trilhando o caminho da evolução espiritual. Ao desenvolver bons sentimentos por aqueles que nos odeiam damos nossos passos no bem.
Raciocínios sobre bem e mal
Para avançar ao tema, a expositora aborda algumas questões que costumam aparecer em algum momento de nossas vidas e que ajudam a esclarecer como lidamos com o bem em retribuição ao mal.
- Que é Deus?
Na resposta à primeira questão de O Livro dos Espíritos, vemos que “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Na sequência, ao ler sobre os atributos de Deus, entendemos que é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
- Provas da existência de Deus
Sobre essa questão, a espiritualidade superior nos esclarece a partir do provérbio que diz: “Pela obra se reconhece o autor. Pois bem: vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”
Se julgarmos o poder pela Sua obra, percebemos que fomos criados por Deus, e portanto somos parte Dele.
- Quem criou o mal?
Sabemos conter na lista de atributos divinos, como vemos na questão 13 de O Livro dos Espíritos:
- Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
- É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.
- É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
- É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
- É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus.
- É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.
O mal, portanto, não é criação divina.
- Como distinguir o mal do bem?
Na questão 621 de O Livro dos Espíritos, aprendemos que a lei divina está escrita em nossas consciências. É portanto, nossa consciência que rege nossas atitudes e que nos aponta o bem e o mal. Nossa própria consciência atua como um juiz. Deus é infinitamente bom e justo, tanto que faz com que nós mesmos percebamos nossas limitações, nossas ações, para que possamos mudar nossas atitudes, a fim de galgarmos à suprema evolução.
Claro, que não será apenas em uma encarnação que iremos corrigir nossos erros. Cada um tem seu entendimento, a seu tempo.
Na questão 630 de O Livro dos Espíritos vemos que: “O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus, e o mal tudo o que dela se afaste. Assim, fazer o bem é conformar-se à lei de Deus; fazer o mal é infringi-la.”
O que leva ao mal
A inclinação para o mal tem relação com o livre arbítrio.
Livre-arbítrio é […] a liberdade de fazer, ou não fazer, de seguir tal ou tal caminho, para o seu adiantamento, o que é um dos atributos essenciais do Espírito.
— Obras póstumas, cap. III, Criação, item 16.
Devemos saber que o mal também faz-se necessário nesta fase de nossa escala evolutiva para chegarmos ao nosso crescimento. Como nos esclarece a espiritualidade superior:
Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo.
— O Livro dos Espíritos, questõa 634.
Ações no bem
E aqueles que não praticam o mal, mas nada fazem de útil, estão agindo de acordo com suas consciências e com a Lei de Deus? São os conhecidos por “neutros”, “em cima do muro”. A estes a espiritualidade superior esclarece que deixar de praticar o bem já é em si um mal.
(…) cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.
— O Livro dos Espíritos, questão 642.
O Bem está relacionado à virtude, ao amor, a ser bom, caridoso, sóbrio, modesto, a todas essas qualidades. Então, se não as praticar em meu dia a dia nada farei, e o bem é que não estarei realizando.
Há quem não consiga praticar o bem?
Aquele que não estiver cego pelo egoísmo consegue praticar o bem, sendo útil na medida do possível, sempre que o auxílio se torne necessário. Há diferentes formas de se fazer o bem, e orar é uma delas. Especialmente quando ainda não consigo me aproximar do irmão.
A caridade é algo que podemos fazer a um amigo ou a um desconhecido. As oportunidades sempre estão em nosso caminho, bem diante de nós.
E se cairmos no mal, como superar?
Já temos em mente que as tendências negativas podem vir de outras existências e se repetirem agora, como forma de nos apercebermos sobre quais decisões mais acertadas devemos tomar.
Sabemos que estamos num mundo de expiação e provas, “razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.” (O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 3, item 4.)
Aqui ninguém é melhor ou perfeito, todos estamos em um mesmo barco procurando aprender e evoluir. Portanto, é preciso estarmos sempre atentos a orar e vigiar. Mas saiba, se erramos, não devemos nos demorar em sentimento de culpa.
Conforme nos orienta o Espírito Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco:
A culpa deve ser liberada a fim de que os seus danos desapareçam. (…) A soma das tuas ações positivas quitará o débito moral que contraíste perante a Divina Consciência, porquanto o importante não é a quem se faz o bem ou o mal, e sim, a ação em si mesma em relação à harmonia universal. A culpa deve ser superada mediante ações positivas, reabilitadoras, que resultarão dos pensamentos íntimos enobrecedores.
— Joanna de Angelis no livro Momentos de Meditação (psicografia Divaldo Franco).
Tenhamos em mente a reforma íntima, que é o esforço constante que o Espírito realiza para evoluir moralmente. A cada novo dia precisamos fazer ajustes. Sabemos que ao aceitarmos o convite do Bem, todo dia será dia de recomeçar.
Recomeço no Bem
A palestrante finaliza a palestra falando de recomeços e nos presenteia com trecho de uma música, cantada por Milton Nascimento e Dani Black, que fala que podemos sempre sermos melhores do que ontem.
Eu sou maior do que era antes
Estou melhor do que era ontem
Eu sou filho do mistério e do silêncio
Somente o tempo vai me revelar quem sou
Eu sou maior (eu sou maior)
Do que era antes (do que era antes) Estou melhor (estou melhor)
Do que era ontem (do que era ontem) Eu sou filho do mistério e do silêncio Somente o tempo vai me revelar quem sou.
— música de Dani Black.
Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
* Colaborou para esta publicação: Magda do Carmo Gonçalves.
** Imagem em destaque: (c) Sarah K. Lee.