Fé inabalável

Costumamos gostar de Deus quando a vida nos sorri e tudo ocorre de acordo com nossas expectativas. Basta um revés para erguermos os olhos e perguntarmos: Por que comigo, Senhor?

Hoje vamos refletir sobre a fé inabalável. Lembremos do tempo de Jesus. Veremos o que podemos aprender com dois exemplos de fé: o Centurião de Cafarnaum e Jó.

Um centurião demonstra Fé

Entrando Jesus em Cafarnaum, dirigiu-se a ele um centurião, pedindo-lhe ajuda. E disse: “Senhor, meu servo está em casa, paralítico, em terrível sofrimento”. Jesus lhe disse: “Eu irei curá-lo”. Respondeu o centurião: “Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado. Pois eu também sou homem sujeito à autoridade e com soldados sob o meu comando. Digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem. Digo a meu servo: Faça isto, e ele faz”. Ao ouvir isso, Jesus admirou-se e disse aos que o seguiam: “Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel ninguém com tamanha fé […]”. Então Jesus disse ao centurião: “Vá! Como você creu, assim lhe acontecerá!” Na mesma hora o seu servo foi curado.
Novo Testamento, Mateus 8:5-13.

Uma fé inabalável fundamenta-se em Deus. Um exemplo de confiança baseada na palavra é o do Centurião de Cafarnaum. Além de uma cura à distância realizada por Jesus, há valiosas lições sobre a importância da prática do bem, da solidariedade, da intercessão, da gratidão e da fé.

Força do bem

Na versão do Evangelista Lucas, o centurião envia anciões dos judeus como mensageiros do seu pedido. Trata-se da intercessão em benefício de alguém: o centurião intercede pelo criado, os anciãos intercedem pelo centurião e Jesus intercede, junto a Deus, por todos.

Os atos do centurião e judeus indicam também que as pessoas de boa vontade conseguem, efetivamente, superar as divergências pessoais e culturais para, juntas, viverem em paz.

Humildade

A forma que o centurião se dirige a Jesus, chamando-o, respeitosamente, de Senhor, indica que reconheceu encontrar-se diante de uma autoridade a ser reverenciada. Percebeu a grandeza do Espírito do Cristo, a ponto de se sentir constrangido com o esforço do Senhor se deslocar até a sua residência. São palavras saturadas de humildade que revelam a beleza da alma daquele centurião. 

Exército do amor

O centurião mostrou compreender perfeitamente a organização do exército sideral. A analogia que ele estabeleceu entre seu comando e o comando de Jesus dirigindo os batalhões celestes, é das mais felizes para aclarar o modo de ação utilizado pelo Redentor do mundo na obra da salvação. 

Há, portanto, exércitos divinos como há os humanos. A diferença é que aqueles combatem por amor, e estes, por egoísmo. O amor fecunda as almas prodigalizando a vida e vida em abundância.

Escolhas

O servo doente serviu de instrumento da misericórdia divina para que o centurião manifestasse seu livre-arbítrio. Verificamos, que são nos acontecimentos cotidianos que temos a oportunidade de fazermos as nossas escolhas, revelando nossas reais disposições íntimas.

Árvore da fé

A árvore da fé viva não cresce no coração, miraculosamente. Qual acontece na vida comum, o Criador dá tudo, mas não dispensa o esforço da criatura […]. A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo. Não se faz possível a realização, quando excessivas ansiedades terrestres, de parceria com enganos e ambições inferiores, torturam o campo íntimo, à maneira de vermes e malfeitores, atacando a obra. A lição do Evangelho é semente viva. […] É imprescindível tratar a planta divina com desvelada ternura e instinto enérgico de defesa.
Vinha de Luz, Capítulo 40, Fé (grifo nosso).

A história de Jó

Outro exemplo que temos de fé inabalável é de Jó. Jó foi um homem justo e temente a Deus, que enfrentou grandes perdas e sofrimentos sem jamais perder sua fé. Ele era muito rico, possuía muitos bens e tinha uma grande família com dez filhos. Além de ser honesto e correto, Jó ajudava as pessoas ao seu redor e sempre orava por sua família, demonstrando sua devoção a Deus.

A fé de Jó foi severamente testada quando o mal o atingiu de diferentes formas. Jó perdeu tudo o que tinha: seus bens, seus filhos e até sua saúde, ficando coberto de feridas dolorosas. Jó se entristeceu profundamente, prostrou-se no chão e orou. Não se revoltou. Reconheceu que tudo o que tinha havia sido dado por Deus, e que o Senhor achara por bem tirar tudo dele. Dessa forma, afirmou sua fé e mostrou resignação à vontade do Pai.

Sua esposa, atormentada pela dor, disse que ele deveria amaldiçoar Deus e morrer. Contudo, Jó permaneceu firme em sua fé. A esposa, revoltada, o abandonou. Sozinho, isolado, Jó foi visitado por amigos que tentaram convencê-lo de que ele deveria ter cometido algum pecado para merecer tanto sofrimento, ao invés de consolá-lo.

No final, Deus restaurou a vida de Jó, devolvendo-lhe o dobro de tudo o que ele havia perdido, incluindo nova família e muitos anos de vida próspera e feliz. A história de Jó nos ensina que, mesmo diante das adversidades, devemos confiar em Deus, pois Ele sempre cuida de nós e tem um propósito para nossas vidas, mesmo quando não conseguimos compreender.

O que podemos aprender com a história de Jó

Podemos aprender várias lições interessantes a partir da vida e a história de Jó. Sua fidelidade e integridade durante as tristes tragédias nos servem de encorajamento a permanecer com fé em Deus apesar das circunstâncias que enfrentamos.

  • Fé inabalável na fragilidade: a vulnerabilidade humana em meio ao sofrimento é uma realidade que precisa coexistir com a fé em Deus.
  • A dor atinge a todos inevitavelmente: quando a tempestade chegar, a atitude correta será continuar confiando e dependendo do Senhor, apesar das circunstâncias.
  • A dor nem sempre é uma punição: coisas ruins também acontecem a pessoas “boas”. Jesus disse que os filhos de Deus enfrentariam aflições. E Ele exemplificou isso, não porque necessitava para sua evolução, mas porque é nosso Guia e Modelo.
  • Deus continua bom e misericordioso: as nossas fatalidades não mudam que Deus é. Ele permanece cuidando de nós, principalmente nas nossas aflições e sofrimentos.
  • Confiar no processo: Nem sempre enxergamos a causa ou o propósito das dificuldades enfrentadas durante nossa encarnação. Importante focar na coragem e resignação para enfrentar a situação no presente. Muitas vezes entenderemos melhor a causa apenas no plano espiritual. Mas importante saber que nada acontece por acaso.
  • Ofereça consolo, empatia e misericórdia aos atribulados: os amigos de Jó foram duros e não o consolaram. Não aumente o peso do fardo daquele que sofre.
  • Não guardar rancor do mal que fazem contra nós: Jó não ficou ressentido contra seus amigos, mas orou por eles, mesmo depois de tantas acusações erradas ao seu respeito.

A fé religiosa

No Capítulo XIX, do Evangelho segundo o Espiritismo, o item 6 discute sobre o significado da fé religiosa e distingue dois tipos de fé:

Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega.
Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX, A fé transporta montanhas, item 6.

Em seguida, explica sobre o futuro da fé cega e da raciocinada:

Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona.
Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade. Preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é na luz meridiana.
Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX, item 6.

A fé cega já não é deste século, tanto assim que o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio.

Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa.

Fé, edificação íntima de cada um

Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, de onde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe.
Mas ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Todos que buscam sinceramente a fé a encontrarão.

As provas, no entanto, chovem ao nosso derredor. Por que fugimos de observá-las? Da parte de uns, há descaso. Da parte de outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos. Da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante dela.
Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX, item 7.

Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram.

As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam. As segundas têm ainda de aprender. E se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra. Ou seja, a fé é construída, um processo.

Fé raciocinada

A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.

A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da humanidade.

Aprende-se no Espiritismo que, na sua caminhada evolutiva, o Espírito vai conhecendo as leis de Deus, vai percebendo-lhes a perfeição. E quanto mais as conhece, mais se identifica com elas, mais confia na justiça e no amor do Criador, mais se conscientiza da Sua perfeição, mais tem fé. Essa, a fé que nasce do entendimento: inabalável, indestrutível.

Emmanuel nos ensina:

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.
Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da razão, tocados pela luz do sentimento. […]
O Consolador, trecho da pergunta 354.

Tempo de confiança

Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelar-se-á igualmente a confiança na hora adequada.
Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para o bem-estar. É difícil demonstrar-se amizade nos momentos felizes.
Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em que necessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor.
Sem isso, seria impossível aferir valores.
Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação direta do Cristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial, mas, vencida a dificuldade, esperem a indagação:
— Onde está a vossa fé?
E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominar-se, a educar-se e a vencer, serenamente, com as lições recebidas.
Caminho, Verdade e Vida, Capítulo 40, Tempo de confiança.

Costumamos estar de bem com Deus quando a vida nos sorri e tudo corre de acordo com nossas expectativas. Basta um revés para nos desestruturarmos, erguermos os olhos e perguntarmos: “Por que comigo, Senhor?”

A Doutrina Espírita nos traz luz sobre as causas dos males que nos afligem. Muitas vezes são reações a ações nossas, do passado, que se refletem nesta vida. Outras vezes são consequências de más escolhas que fizemos nesta vida mesmo, acreditando que passariam em branco.

O Espiritismo também nos elucida que escolhemos, antes de reencarnar, as provações pelas quais iremos passar. Porém, esquecemos disso e, diante das dificuldades, questionamos a Bondade e a Justiça do Pai.

As provas que enfrentamos são, na verdade, um bem, pois nos ajudam a cultivar a humildade, a paciência, a resignação, preparando-nos para a vida futura.

Nota de fé

Em qualquer fase da vida, Quando a prova te apareça, Tempestade ou mágoa espessa Ao peso de férrea cruz, Recorda que o Céu te envia Mais amparo do que pensas, Mesmo nas trevas mais densas, Deus te acende nova luz. Conflitos, problemas, lutas, Nas sendas por onde vamos, São lições que precisamos, A fim de saber servir; Não há desprezo ante os Céus, Olha o charco que se enflora, Pensa na noite e na aurora E guarda a fé no porvir. Sofrimento é igual à nuvem… Estrondo, fúria, ameaça… Depois… é chuva que passa, Frutos ganhando apogeus; Se hoje sofres, não te esqueças, Que amanhã, no Espaço Infindo, O dia virá mais lindo, Brilhando no amor de Deus.
— Maria Dolores, capítulo 21, Nota de Fé,
psicografia de Francisco Cândido Xavier.

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Bibliografia:

  • KARDEC, Allan. Evangelho segundo Espiritismo. Capítulo XIX, itens 6 e 7.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Maria Dolores. Pelo Espírito Maria Dolores.
  • _______ Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. Capítulo 40, Tempo de Confiança.
  • _______ Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Capítulo 40, Fé.
  • _______ Fonte Viva. Pelo Espírito de Emmanuel.
  • _______ O Consolador. Pelo Espírito de Emmanuel. Pergunta 354.
  • Bíblia de Almeida revista e atualizada.
  • site Momento espírita, Paciência de Jó.

*Colaborou para esta publicação: Ilani Nunes.
** Imagem em destaque: via DALL-E.

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