A palestra que deu origem a esta publicação foi uma reflexão profunda sobre a relação entre a espiritualidade e a ecologia, com foco em nosso papel na preservação do planeta e no processo de transição planetária. O palestrante Nilson Góes trouxe suas impressões e vivências a partir da participação no 9º Congresso Espírita do Distrito Federal, cujo tema foi “Espiritismo e Ecologia: Meu Papel na Transição Planetária”.
Durante o congresso, que contou com a presença de grandes nomes como André Trigueiro, Haroldo Dutra Dias, e Saulo César, a conexão entre o Evangelho e a ecologia foi abordada, destacando a responsabilidade humana na preservação do meio ambiente e a importância da conscientização espiritual para a transformação da Terra.
O tema central do congresso girou em torno da necessidade urgente de repensar nossas atitudes em relação ao meio ambiente. Durante sua palestra, Haroldo Dutra Dias questionou: “Por que o planeta está sendo destruído?” A resposta dada foi direta e profunda: “Porque estamos afastados da Lei Divina. Somos egoístas e predadores.” Essa reflexão remete à ideia de que pequenas ações cotidianas, como descartar lixo de maneira inadequada, contribuem para a poluição do ambiente físico, mas também da psicosfera, o campo energético que nos envolve e reflete nosso estado interior.
Poluição psíquica
O conceito de “poluição psíquica” foi abordado, com base na obra Após a Tempestade (Joana de Angelis, 1974), na qual a autora revela a preocupação dos ecólogos com a poluição física e, ao mesmo tempo, aponta para a poluição mental, que afeta a psicosfera e, por consequência, o nosso comportamento no mundo.
Joana de Angelis afirma que o ser humano ingere a mais terrível poluição, não apenas através dos resíduos materiais, mas também pelo cultivo de atitudes negativas, como o egoísmo, a violência e a indiferença. Essa poluição mental, quando não trabalhada, afeta profundamente a saúde coletiva e o ambiente espiritual em que vivemos.
Referências como as de Joana de Angelis e André Trigueiro destacam a urgência de adotar hábitos sustentáveis para garantir a sobrevivência no plano físico e espiritual. O livro Ecologia e Espiritismo (André Trigueiro, 2010), por exemplo, reforça a ideia de que a crise ambiental reflete uma crise moral. O autor argumenta que, para salvarmos o planeta, é necessário reavaliar nosso comportamento, nossos valores e, acima de tudo, nossa relação com a natureza e com o próximo.
Transição planetária
O congresso também abordou o conceito de “transição planetária”, um tema recorrente nas obras espíritas. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan Kardec), a ideia de que a Terra está passando por um processo de transformação moral e espiritual é claramente exposta. O ambiente natural e social, à medida que se deteriora, exige de cada um de nós ações de regeneração e, mais do que isso, uma transformação interna. O verdadeiro papel dos espíritas, nesse contexto, é serem agentes de mudança, tanto no plano físico, cuidando da natureza, quanto no plano espiritual, promovendo a harmonia psíquica e emocional.
O autor André Trigueiro, durante sua palestra, afirmou que “o planeta tem jeito”, desde que cada um de nós assuma a responsabilidade de criar hábitos saudáveis e sustentáveis, tanto em nossa vida cotidiana quanto nas nossas relações com os outros e com o meio ambiente. Ele também trouxe à tona o conceito de “educação moral para a subsistência sustentável”, sugerindo que a chave para a preservação do planeta está em nossa ética e em nossas escolhas diárias.
A ideia central da palestra, no entanto, foi a mensagem de Jesus, que sempre nos chamou a atenção para o respeito à criação divina.
Lei Natural e Natureza
Em sua reflexão final, Nilson Góes trouxe à tona a importância de nos questionarmos sobre o legado que estamos deixando para o futuro. O que estamos fazendo hoje para garantir um mundo mais justo, sustentável e harmonioso para as próximas gerações? Essa reflexão está profundamente ligada à ética espírita, que nos ensina a viver de forma responsável, respeitando a vida em todas as suas formas.
Em O Livro dos Espíritos (Allan Kardec), questões como o uso racional dos recursos naturais e a obrigação de cuidar da Terra estão presentes, indicando que a espiritualidade sempre nos convidou a nos preocuparmos com o bem-estar do nosso planeta e a sua relação com os seres humanos.
É o caso, por exemplo, das seguintes perguntas:
- Questão 132: Trata do propósito da encarnação dos Espíritos, incluindo o progresso e o cumprimento de suas responsabilidades no plano material. Isso implica que devemos cuidar do ambiente em que vivemos para cumprir esse progresso.
- Questões 705 a 707: Falam sobre os recursos naturais. Kardec pergunta se a natureza sempre provê o necessário para a humanidade e se é permitido ao homem explorar os recursos para seu benefício. As respostas destacam que a natureza oferece o suficiente, mas que o egoísmo e o mau uso dos recursos podem levar à escassez.
- Questões 728 a 733: Discutem sobre a destruição necessária e a relação da humanidade com o equilíbrio ecológico. Os Espíritos explicam que a destruição pode ser parte da lei natural, mas a destruição abusiva, movida pelo egoísmo ou pela ganância, é contrária às leis divinas.
Esses ensinamentos sugerem que o cuidado com o planeta é uma consequência do dever moral de respeitar a Lei Divina, que também conhecemos como Lei Natural, e agir com responsabilidade em relação ao nosso papel como coabitantes da Terra.
O 9º Congresso Espírita do Distrito Federal e a palestra que originou esta publicação nos deixam um importante aprendizado: somos todos responsáveis pela preservação do nosso planeta, não só pela conservação física do ambiente, mas também pelo cuidado com nossa psicosfera.
O momento de agir é agora, e as lições do Espiritismo, sempre guiadas pelo amor e pela sabedoria de Jesus, nos mostram o caminho da regeneração, através de atitudes sustentáveis no plano material e da harmonia mental no plano espiritual, que caminham juntas para garantir a verdadeira transição planetária.
Este é o momento de refletirmos sobre nossas práticas diárias e ajustá-las às necessidades do planeta, com a consciência de que, como espíritas, temos uma missão de evolução moral e ecológica, resgatando o verdadeiro sentido de viver em harmonia com a Terra e com o Universo.
**Colaborou para esta publicação: Andrei Araújo.
**Imagem em destaque: DALL.E via chatGPT.