Você tem medo da morte?
A morte nos assusta, embora seja um fator decisivo em nossas vidas. Presença rotineira nos atos do dia a dia. O aprendizado da morte é matéria que deveria constar no currículo da nossa vida, mas não lhe damos importância. Por temor, talvez, como se falar em morte acelerasse a sua sombra entre nós. Na sociedade ocidental é um tabu.
Por que tememos tanto a morte? Medo do desconhecido? Temor inconsciente de que vamos encontrar alguma coisa a mais, levando-nos à revisão de nossas atitudes? Ou ainda o estímulo, durante séculos, para o medo diante da ideia corrente que anunciava o suplício eterno para as almas pecadoras?
Espiritismo explicando
Diante dessa cultura de medo, surge a colocação da Filosofia Espírita, junto com outras Filosofias Espiritualistas, baseada no princípio da imortalidade da alma, de que a morte não existe. Ela é a passagem do indivíduo para o plano espiritual, sem o corpo físico, mas mantendo sua individualidade e faculdades. A eternidade é vivida em diferentes mundos, dentro de um processo evolutivo que visa conduzir o homem à perfeição.
A morte pode distanciar os entes que são queridos, momentaneamente. Mas como o indivíduo não evolui sozinho, os reencontros se sucedem ao longo das existências, necessários até o aperfeiçoamento completo. Além dos reencontros no mundo espiritual, nos intervalos das reencarnações.
Ao contrário do pensamento positivista, a morte não é o fim de tudo. Muito mesquinho o pensamento de que o indivíduo vive somente uma vez e uma vida curta, sendo apenas mais um corpo na natureza.
Francisco de Assis, no cântico das criaturas, chama a morte de irmã:
Louvado sejas, meu Senhor/ Por nossa irmã a Morte corporal/ Da qual homem algum pode escapar.
— trecho do Cântico das Criaturas.
Sobre isso, o jornalista Nonato Albuquerque comentou numa reportagem:
É possível que Francisco de Assis tenha cantado a morte, chamando-a de irmã, ao invés de tributá-la na conta de castigo, como queriam os profetas do passado.
— Jornal O Povo, Fortaleza-CE, década de 80.
Educação para a morte
Ao nos educarmos para a morte e acreditarmos na imortalidade da alma, nosso comportamento se transforma. Como bem coloca Herculano Pires:
Conhecendo o mecanismo da vida, em que nascimento e morte se revezam incessantemente, os instintos de morte e seus impulsos criminosos irão se atenuando até desaparecerem por completo. Os desejos malsãos de extinção da vida, que originam os suicídios, os assassinatos e as guerras, tenderão a se transformar nos instintos da vida.
— Livro Educação para a morte, capítulo 4.
E complementa:
A esperança e a confiança em Deus, bem como a confiança na vida e nas Leis Naturais, criarão um novo clima no Planeta, hoje devastado pelo desespero humano. O medo e o desespero desaparecerão com o esclarecimento racional e científico do mistério da morte.
— Livro Educação para a morte, capítulo 4.
Glaucia Rezende Tavares, em seu livro Do Luto à Luta, explica:
Há morte na vida. Há vida na morte. O homem ilude-se em poder controlar a natureza, os objetos, as pessoas e até a morte, isentando-se de fazer contato com as dores, as fragilidades, os limites e as situações inesperadas que a vida oferece. Atualmente a morte deixa de ser reconhecida como um fenômeno natural e passa a ser definida como fracasso, impotência e inimiga a ser derrotada.
— livro Do Luto à Luta.
Perdemos coisas, objetos, mas não perdemos os afetos. Aqueles que retornam a pátria espiritual antes de nós cumpriram as tarefas inerentes, partiram primeiro na libertação. Também nós, nos libertaremos.
A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos permitem entreter com eles, nos oferece uma suprema consolação, numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo não há mais abandono. O mais isolado dos homens tem sempre amigos ao seu redor, aos quais pode comunicar-se.
— O Livro dos Espíritos, parte quarta, capítulo I, questão 936, trecho do comentário de Allan Kardec.
Precisamos nos educar para a morte, incluindo aquelas prematuras, para compreender que a Justiça de Divina, muitas vezes, nos proporciona o bem onde vemos apenas uma fatalidade.
Diz Sansão, Espírito, numa mensagem inserida em O Evangelho segundo o Espiritismo:
Por que medir a Justiça Divina pela medida da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas cruéis? Nada se faz sem uma razão inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 21.
Acompanhe agora uma palestra relacionada ao tema:
Nota: a partir da própria explicação do texto, vemos que o fenômeno comumente conhecido como “morte” na verdade é o desencarne da alma. A morte é apenas material, do corpo físico. Já o termo “vida”, foi por vezes usado no sentido da existência atual. Sabemos que a vida do Espírito é uma só, seja encarnado ou desencarnado. As existências terrenas desse Espírito é que são múltiplas. Optamos por manter os antônimos “morte e vida” nos trechos iniciais por serem mais familiares ao público geral, do que os termos “desencarne e existência”, que seriam mais adequados no espiritismo.
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*Colaborou para esta publicação: Maria Thereza Carreço de Oliveira.
** Imagem em destaque: via DALL.E ChatGPT.