Como lidar com as aflições da vida

Seguindo a moral de Jesus, purificamo-nos e, pelo progresso, alcançamos a perfeição e a paz do Senhor, paz ativa, plena de boas obras e sem mais expiações.

Justiça Divina, justiça das aflições

As vicissitudes (adversidades) da vida têm uma causa, e como Deus é justo, essa causa deve ser justa.
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 5, item 3.

Deus, sendo nosso Criador e Pai, ama profundamente seus filhos e quer sempre o melhor para nós. Se nós, como pais, queremos sempre o melhor para nossos filhos, imaginem Deus. Ele, que é a causa primária de todas as coisas, a inteligência suprema, é soberanamente Bom e Justo.

A soberana bondade (de Deus) implica a soberana justiça, porquanto, se Ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.
— A Gênese, capítulo II, item 14.

Querendo nosso bem, nosso Pai nos criou simples e ignorantes rumo à sabedoria e amor universal, rumo à perfeição (relativa, pois só Deus é Perfeito). E esse caminho passa pelas encarnações, pelas vicissitudes da vida corporal, que são um meio de nos aproximar dEle. Nossas encarnações também têm outra finalidade:

(…) a de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento em harmonia com a matéria essencial desse mundo (…). É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo II, questão 132.

Progredindo intelectual e moralmente, um dia seremos espíritos puros e sentiremos a felicidade plena, pois estaremos perfeitamente em paz com a nossa consciência. Uma vez que as Leis de Deus estão escritas na nossa consciência (questão 621, O Livro dos Espíritos). Somos co-criadores do Universo, e cada vez colaboraremos mais na obra divina.

Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete inevitáveis consequências.
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 5, item 5.

Deus, em sua sabedoria, deu o livre-arbítrio a seus filhos, que aumenta conforme evoluímos. A liberdade de escolha nos presenteia com o mérito de nossas próprias conquistas espirituais. De onde sabemos que somos artífices da nossa própria evolução.

Ignoramos e esquecemos a lei divina gravada na nossa consciência, por escolha nossa. Por isso, Deus nos dá oportunidades de realinhar nosso caminho a Ele, através das aflições. Mas acima de tudo Deus é Misericordioso, e permite que paguemos nossos débitos em suaves prestações de várias encarnações. E como sabemos: o amor cobre uma multidão de pecados (1Pedro, 4:8). Justamente porque o Amor é o meio de se aproximar de Deus.

Tipos de aflições

As aflições são situações que nos provocam dor, desconforto. Elas podem ser físicas, como: doenças, acidentes e deficiências de nascença. Ou podem ser morais, decorrentes como: desânimo, ciúmes, inveja e orgulho. A aflição moral, muitas vezes, é mais difícil de suportar, pois atinge diretamente nossas emoções e relacionamentos.

A Origem das Aflições

Independente do tipo, quando enfrentamos uma aflição, devemos buscar sua causa. E invariavelmente encontramos nossa própria imprudência, negligência ou alguma ação passada. Assim, percebemos que a responsabilidade pela aflição recai sobre nós mesmos.

Se a causa de uma infelicidade não depende absolutamente de nenhuma de nossas ações nessa existência, duas opções podem ser:

Trata-se de uma prova para a existência atual, ou de uma expiação da falta cometida em existência anterior.
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 28, item 30.

As três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências são o arrependimento, expiação e reparação

O arrependimento suaviza as dores da expiação, dando esperança e preparando as vias da reabilitação; mas somente a reparação pode anular o efeito, destruindo a causa da aflição.
— O Céu e o Inferno, capítulo VII, item 16.

Se estivermos passando por uma expiação decorrente de encarnação pregressa, pela sua natureza, poderemos conhecer a natureza da falta, em processo de autoconhecimento. Nossa consciência (onde está escrita a lei Divina) nos pune apenas naquilo que sabemos que nos afastamos do caminho do amor.

Na maioria dos casos o homem é o causador de seus próprios infortúnios, mas ao invés de reconhecer, acha menos humilhante para sua vaidade acusar o azar, má sorte, ou Deus. Deus não escolhe arbitrariamente quem sofre ou não.

Estamos imersos na sua Lei de Amor, e colhemos o que plantamos, seja fruto dessa encarnação ou outra. Ou somos testados, provados, naquilo que acreditamos estar preparados para superar.

A aflição, se encarada como oportunidade, nos ensina, e se bem suportada, nos purifica, preparando-nos para uma vida futura melhor.

Escola divina

A vida é repleta de ensinamentos intrínsecos, que absorvemos através das experiências diárias, das relações com o próximo e da observação da criação Divina. Em cada detalhe, podemos reconhecer a presença e os ensinamentos de Deus.

Após muito tentar no dia-a-dia, vamos desenvolvendo virtudes, capacitando o Espírito. Porém, chega o momento dos testes, das provas, que aferem o estado de assimilação do conteúdo pelo aluno. Às vezes, acreditamos ter conquistado uma virtude, mas ao enfrentarmos uma situação desafiadora, percebemos que ainda há um caminho a percorrer para desenvolvê-la plenamente.

Nossa evolução é como se fosse uma espiral, passamos ciclicamente por desafios parecidos, em variados pontos que ainda precisamos desenvolver em nós. Se já superei um desafio e adquiri certo nível de humildade, por exemplo, mais adiante um novo desafio surgirá, testando uma humildade maior ainda. Em um movimento ascendente buscando virtudes cada vez mais plenas. Caso contrário, se me revoltei, o mesmo desafio tornará a aparecer na nossa vida, talvez disfarçado de outros nomes, mas aparecerá. Como um repetente na escola da vida.

O Espírito nunca retroage na sua evolução, uma vez que adquiriu determinado nível intelectual e moral, não o perde. Entretanto, caso for repetidamente adiando sua evolução, isto é, decidir ficar estagnado, as situações podem se mostrar mais difíceis. Representando às vezes aquele empurrão ou chacoalhada para nos tirar da inércia imóvel.

Somos como plantas em busca a luz do Sol. Mas, no nosso caso, procuramos o amor Divino e a felicidade. Se uma determinada escolha nos tira da rota, dessa fonte de calor e luz, a Providência nos oferece artifícios de recondução a esse caminho.

Como lidar com as aflições da vida?

A seguir apresentamos um desenho esquemático das causas e consequências relacionadas a uma aflição, conforme lidamos com ela.Mecanismos que envolvem as aflições da vida.

Acima vemos a relação entre as aflições da vida e a forma como as encaramos. As dificuldades podem ter origem em provas, que são desafios inevitáveis para desenvolvermos virtudes, planejados antes da reencarnação. Ou ter causa em expiações, que decorrem de ações passadas e poderiam ser evitadas por escolhas mais conscientes.

Diante dessas aflições, a atitude adotada influencia diretamente o resultado. Se encaramos com resignação, compreendendo a aflição como parte do aprendizado, avançamos no caminho do crescimento espiritual. Continuaremos passando por aflições e expiações remanescentes, mas é sinal que estamos avançando.

Por outro lado, se reagimos com revolta, a aflição vira sofrimento, e indica uma estagnação temporária na nossa evolução. Temporária, pois a evolução é lei Divina, e não podemos ficar estagnados para sempre.

Se seguimos pelo caminho da revolta, receberemos nova oportunidade de superar nossos desafios, ou seja, expiação nessa mesma existência ou em uma próxima. Se por exemplo, passamos a maior parte de nossa existência apenas reclamando, nos revoltando, ou se vitimando diante das aflições, após desencarnar, podemos enxergar melhor nossos equívocos. Detectando o erro, temos duas opções: permanecer na culpa (estagnação) ou se arrepender e seguir em frente. No caso do arrependido, ele implora por nova encarnação, a fim de pagar seus débitos e evoluir mais rapidamente, e é atendido o quanto possível. No caso daqueles que ficam na culpa, ou daqueles que nem mesmo querem enxergar suas faltas, a reencarnação é compulsória. Isso, porque Deus não abandona nenhuma de suas ovelhas, e cedo ou tarde, até os espíritos mais refratários cedem a Lei de Amor.

Assim, o Espiritismo nos convida à aceitação ativa (resignação) e ao esforço constante no bem comum para evoluirmos diante dos desafios da vida.

A Importância da Resignação

O fardo é proporcional às nossas forças, assim como a recompensa será conforme a nossa resignação e coragem.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 18.

Deus não impõe aflições maiores do que podemos suportar. Antes de reencarnarmos, escolhemos nossas provas, pois acreditamos ser capazes de vencê-las. Se escolhemos enfrentar a pobreza, por exemplo, é porque queríamos lutar contra a tentação da revolta e vencê-la.

No entanto, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos e perdemos a oportunidade de aprender com o sofrimento. Quando enfrentamos as dificuldades com coragem e esperança, conseguimos aliviar nosso fardo e crescer espiritualmente.

O Papel da Fé

A fé na bondade de Deus é essencial para suportar as provas. Aquele que tem fé (mãe da esperança.e da caridade) compreende a justiça Divina, e encontra consolo e força para seguir em frente.

A esperança é a estrela que norteia as nossas mais belas aspirações e ilumina a noite tenebrosa. A é o remédio seguro para o sofrimento.

Quem tem fé trabalha com coragem e alegria. Assim como, confia no amparo espiritual, sabendo que Deus sempre envia consolo àqueles que se esforçam no bem. O auxílio divino vem por meio dos espíritos amigos que nos amparam com seus conselhos e nos fortalecem.

Deveis, pois, sentir-vos felizes por Deus reduzir vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranquilidade no porvir.
— O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 12.

Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à ideia da sua próxima cura.

O Alívio em Jesus

Não devemos esquecer da maneira como Jesus conseguiu transmitir ao povo rude e atrasado a sua mensagem. Foi através da esperança de uma vida futura boa, se fossem bons nesta vida. Não podia falar de uma vida espiritual claramente, pois não seria compreendido.

Mas como entender que sofrer era bom e vantajoso, se nós ainda hoje duvidamos? Poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus.

Jesus nos convida a encontrar alívio caminhando em Sua direção, seguindo o exemplo que Ele nos deixou como nosso Mestre. Seu jugo é leve, porque se baseia na humildade e caridade, ao contrário do jugo terreno, que aprisiona pelo orgulho e egoísmo.

O jugo de Jesus é a humildade, a fraternidade, o perdão, o amor, a resignação, a calma, a paciência e a confiança em Deus.
— O Evangelho dos Humildes, capítulo 11.

A vida como caminho de evolução

A vida terrena é uma preparação para a vida eterna. A aflição bem compreendida e aceita leva ao progresso espiritual, enquanto a revolta gera novas dívidas. Jesus demonstrou que o amor e a renúncia são os verdadeiros caminhos para a paz e felicidade duradouras.

O Evangelho consolador de Jesus é um guia seguro diante os rudes embates da vida. Repleto de ensinamentos sobre resignação, fé, esperança, coragem, nos oferece verdadeiro consolo. Ao segui-lo, pouco a pouco nos purificamos e nos aproximamos de Deus, nosso Pai.

Acompanhe agora a palestra relacionado ao tema:

*Colaborou para esta publicação: Ana Maria e Rudnei Martins.
** Imagem em destaque: via DALL.E ChatGPT

Referências bibliográficas e sugestões complementares:

  • O Evangelho segundo o Espiritismo. cap. 5, 6 e 28. Allan Kardec.
  • O Evangelho dos Humildes. cap. 5, 11. Eliseu Rigonatti
  • Pão Nosso. cap. 130. Onde estão? Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
  • Através do tempo. Item 30. André Luiz. Psicografado por Chico Xavier
  • Parábolas e Ensinos de Jesus. As bem-aventuranças. E Nas pegadas de jesus. Cairbar Schutel
  • Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda. cap. 7. O jugo leve. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo p. Franco.
  • Elucidações Evangélicas. cap. 76. Antônio Luiz Sayão.

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