Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, o trabalhador da casa Nelson Mate nos contou sobre uma frase do doutor Adolfo Bezerra de Menezes que incentivou Divaldo Pereira Franco a criar a Mansão do Caminho — um lugar de acolhimento e paz, que está sempre de braços abertos para auxiliar aqueles que necessitam de ajuda material, educacional e espiritual. A frase é a seguinte:
“Quando a caridade é muito discutida, o socorro chega tarde”.
O motivo da citação de Bezerra de Menezes foi, segundo a história, que algumas senhoras estavam no teatro em Moscou, todas de casaco de vison caríssimos e quando saíam, ao término do espetáculo, encontraram um homem em situação de rua e com frio. Uma delas ia tirando seu casaco para cobrir a pobre criatura, mas as outras senhoras não deixaram, já que era um casaco muito caro. A senhora desistiu de dar o casaco e ao chegar em casa pediu para um funcionário levar um cobertor ao homem. Ao chegar lá, o funcionário o encontrou morto de frio.
Oportunidade de fazer a caridade
Muitas vezes a oportunidade de fazer a caridade nos aparece de repente e, nós, na correria do dia a dia, não aproveitamos. E ao usar o termo aproveitar, nos referimos ao fato de que a caridade, que é um ato de amor desinteressado, nos traz a ilusão de que estamos auxiliando apenas o próximo. Mas estamos, também, auxiliando nossa própria evolução espiritual.
Cada ato de caridade contribui para nosso aprendizado moral. Como disse nosso mestre Jesus, a cada um é dado “segundo suas obras” (Mateus 16:27). Ou seja, o bem que compartilhamos volta para nossa própria fonte, assim como o bem que deixamos de fazer se volta contra nós mesmos.
Essas palavras nos levam a pensar em como está nosso mundo íntimo e qual a causa de nossas aflições. Elas podem ser atuais ou estar em nossas vidas anteriores. E como devemos agir em relação a essas aflições? Trabalhando, trabalhando sempre, para superar nossas dificuldades íntimas, que são os sentimentos que passam longe da prática da caridade, como o orgulho, a vaidade, a ambição, o ódio e outras tantas dificuldades que temos que superar para que possamos usar da caridade conosco mesmo e com nossos irmãos.
Caridade e trabalho
Em Nosso Lar, primeiro livro da série de André Luiz psicografada por Francisco Candido Xavier, lemos que o ministro Clarêncio diz a André Luiz, quando este chega ao local de trabalho e pergunta o que deveria fazer após o tempo que passou no Umbral:
“Aqui, o programa não é diferente. Apenas divergem os detalhes. Nos círculos carnais, a convenção e a garantia monetária; aqui, o trabalho e as aquisições definitivas do espírito imortal. Dor, para nós, significa possibilidade de enriquecer a alma; a luta constitui caminho para a divina realização.”
— Ministro Clarêncio, em Nosso Lar (André Luiz, Francisco Cândido Xavier).
A única certeza que temos aqui na Terra é que um dia deixaremos esse corpo carnal e voltaremos, no momento oportuno, para mais um processo reencarnatório, entre todos os que já vivemos e viveremos, para nosso progresso moral, até chegarmos ao estado de angelitude. E Deus nos vê como os anjos que um dia seremos, só está nos faltando a “vontade”.
Em O Livro dos Espíritos, questão 886, a espiritualidade superior esclarece que o verdadeiro sentido da palavra “caridade”, tal como entendia Jesus, envolve três virtudes: benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas, que conhecemos na doutrina espírita carinhosamente como BIP.
Analisando o que significam essas virtudes e o que envolvem em relação às mudanças que necessitamos fazer em nossas vidas, podemos verificar o quanto temos a trabalhar. Esse trabalho é prático e progressivo.
Realmente é preciso refletir antes de agir e verificar como está nosso coração, como nos sentimos em relação aos nossos irmãos e a nós mesmos. Como nos traz O Evangelho Segundo o Espiritismo, o ideal seria “amar ao próximo como a si mesmo”. Assim nos ensinou Jesus quando aqui esteve encarnado, deixando-nos por herança seu legado do amor irrestrito. Deus, quando olha para nós, não enxerga o que somos agora, mas o anjo que um dia seremos. Estamos destinados à angelitude. Mas, para isso precisamos trabalhar. E, para trabalhar, enfatizamos, precisamos da vontade forte.
Caridade material e caridade moral
Existem dois tipos de caridade que podemos praticar:
- a caridade material, mais fácil para nós, voltada aos encarnados e muito importante, que é voltada para o que temos, não para o que detemos;
- e a caridade moral, voltada às virtudes que desenvolvemos em nós, como o companheirismo, a palavra e o ouvido amigo, o abraço, o carinho, relacionados às necessidades emocionais.
A caridade não se restringe a oferecer algo material, mas envolve todas as relações em que se encontram os seres humanos, como nos posicionamos perante os desafortunados, com os mais necessitados e como vemos as questões de superioridade, igualdade ou inferioridade. Confundida vulgarmente com esmola, a caridade excede, sob qualquer aspecto considerado, as doações externas com que o homem supõe em tal atividade encerrá-la. A esmola evidentemente não merece reprovação, mas sim a maneira pela qual habitualmente é dada.
Sem dúvida, é valioso todo gesto de generosidade, quando se transforma em dádiva oportuna àquele que padece essa ou aquela provação.
Todas as potencialidades e virtudes estão dentro de nós. Podemos chamar de potências da alma! Jesus, nosso mestre amado, já dizia que tudo que ele fez nós podemos fazer, com fé, fé em nós mesmos. Devemos acreditar em nossas potencialidades. Aqueles que estão um pouco mais evoluídos auxiliam os que estão em outro estágio da caminhada, todos de mãos dadas, buscando o melhor para si e para a coletividade. Não há como desenvolvermos nossas potencialidades se não for nas relações interpessoais.
“Só a caridade , filha do amor celeste, é invariável”.
— José Silvério Horta, pela psicografia de Francisco Candido Xavier no livro Instruções Psicofônicas.
Com ela, veio Jesus à treva humana e, abraçando os fracos e enfermos, os vencidos e desprezados, levantou os alicerces do Reino de Deus que as forças do bem na Terra ainda estão construindo.
Guardemos a caridade
Para todos os corações encarcerados na sombra expiatória, é indispensável saibamos trazer, em nome do Cristo, a chama do amor que ilumina, salva, esclarece e aprimora.
Cabe-nos, assim, o mais amplo esforço para que a caridade persista em nossos pensamentos, palavras e ações. Guardemos caridade para com todos que nos rodeiam, os felizes, os infelizes, os jovens e os velhos, crianças e doentes, amigos e adversários.
Onde e com quem estivermos, que possamos ter a grandeza de não condenar, já que estamos todos aqui por necessidade de aprendizado.
Cultivemos a caridade em toda parte! Caridade que saiba renunciar a favor do outro, que se cale ajudando em silêncio e, que se humilhe, sobretudo, a fim de que o desespero não domine os corações dos que pretendemos amar, perdoando do fundo do coração.
Referências:
– O CÉU E O INFERNO. Cap. V. Ítem 4.
– O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questão 886.
– XAVIER, Francisco. Livro “Instruções Psicofônicas”. Pg. 163. Cap. 35
Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
** Imagem em destaque gerada via Gemini (Google AI).