A dor não é castigo, é instrumento de libertação. É um amparo providencial, que nos conduz à reparação necessária.
Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, a trabalhadora da casa Julia Fertig refletiu sobre o tema “Bastará sofrer para ser feliz?”. A proposta nos convida a olhar o sofrimento com outros olhos — não como castigo, mas como instrumento de aprendizado e transformação.
Já abordamos aqui no blog a importância de compreender as dores da vida sob a luz do Espiritismo, mas nesta reflexão vamos aprofundar o entendimento sobre os diferentes tipos de sofrimento, segundo Joanna de Ângelis, como eles impactam nossa jornada e, principalmente, como podemos vivê-los de forma consciente, amorosa e libertadora.
Mais do que suportar a dor, é necessário aprender com ela. Afinal, é nesse processo que se revela o verdadeiro crescimento espiritual.
Nossa relação com Jesus
Quando olhamos para Jesus e sua trajetória, percebemos o quanto ainda estamos distantes de sua postura diante da vida. Muitas vezes, identificamos em nós hábitos e reações que não vemos em Jesus. E é justamente esse o convite do Evangelho: trazer para nossa vida o que vemos na Dele e remover da nossa o que não vemos Nele.
Isso é evolução.
Jesus e a dor
Jesus não se esquivou das dores do mundo. Enfrentou traições, calúnias, ingratidões e indiferença, e mesmo assim suportou a cruz, amando. Ele confiou.
Nós também temos as nossas cruzes — mas não estamos sozinhos. Temos a Ele, o seu Evangelho e a Doutrina Espírita como guias e consolo.
Qual a finalidade da dor em nossas vidas?
A dor, ao contrário do que muitos pensam, não é castigo. Ela é instrumento de libertação. É um amparo providencial, que nos conduz à reparação necessária.
Assim como um remédio amargo que nos cura, a dor pode nos conduzir à felicidade, se soubermos aproveitá-la. Emmanuel nos lembra:
Não basta sofrer. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração.— Emmanuel, no livro Vinha de Luz, capítulo 80.
Aceitar e cumprir nossos deveres é o primeiro passo nesse processo de cura.
Por que então sofremos?
Joanna de Ângelis, no livro Plenitude, nos fala sobre três formas principais de sofrimento:
O sofrimento do sofrimento
É quando sofremos… por estarmos sofrendo. A dor chega, mas nossa não aceitação nos aprisiona ainda mais. Ficamos tristes, revoltados, resistindo ao que já é. A dor vem e passa, mas com o sofrimento do sofrimento a dor vem e fica.
Isso ocorre por apego. Apego à história que vivíamos, à identidade que construímos: “Eu não merecia isso”, “Fiz tudo certo”… Diante de perdas como um emprego ou um relacionamento, nos vemos forçados a reconstruir quem somos. Devemos nos questionar: “Quem eu era antes?”, “Quem a vida está me convidando a ser agora?”.
Esperamos que a justiça divina ocorra conforme nossos desejos, mas nos esquecemos de que Deus sabe mais. Ao resistirmos à dor, paralisamos a vida. Sofremos inutilmente.
Emmanuel e Joanna de Ângelis alertam que esse processo pode gerar o que chamamos de obsessão: pensamentos repetitivos de culpa, injustiça e revolta, que acabam nos sintonizando com irmãos encarnados e desencarnados na mesma vibração.
O sofrimento do sofrimento é resultado das aflições que ele mesmo proporciona. — Joanna de Ângelis.
O sofrimento da impermanência
Mudanças são parte da vida. Tudo está sujeito à transformação: nosso corpo físico, nossos laços familiares, nosso trabalho, nosso status.
Vivemos em um mundo de provas e expiações, e isso é maravilhoso, porque tudo se renova. Sempre teremos chances de recomeçar.
Mas sofremos quando tentamos controlar o que é incontrolável. Temos medo e esse medo vem do nosso despreparo em aceitar a transitoriedade da vida.
O homem vive na Terra sob a ação de medos: da doença, da pobreza, da solidão, do desamor, do insucesso, da morte. Essa conduta é resultado de seu despreparo para os fenômenos normais da existência, que deve encarar como processo da evolução. — Joanna de Ângelis, no livro Plenitude.
O sofrimento do condicionamento
Somos marcados por condicionamentos de diversas ordens: o condicionamento da educação, o condicionamneto do meio social e, muitas vezes, o condicionamento que trazemos de outras existências. Junto com esses condicionamentos do passado, trazemos feridas na alma que são difíceis de mudarmos. Um exemplo de condicionamento de outras existências, é o do egoísmo, da busca por privilégios, do apego ao conforto, da fuga da responsabilidade…
Romper com esses padrões é doloroso, mas necessário. Estamos aqui para isso: nos libertar.
O combate
A vida repete lições até que estejamos prontos para aprendê-las. Por isso, é essencial observar as repetições que se apresentam no nosso caminho. O que a vida está tentando nos mostrar? O que precisa ser transformado em nós?
“O sofrimento, portanto, quando se tem dele consciência, é facilmente evitável.” — Joanna de Ângelis
E como enfrentamos esse processo de transformação?
Ferramentas do combate:
Humildade: Reconhecer que não estamos no controle, e confiar que Deus, sim, está. Sua justiça é perfeita.
Esforço próprio: A humildade não é passiva. Precisamos agir, buscar corrigir em nós o que precisa ser transformado.
Prece: A oração é nosso canal com o Alto. Ela não muda os planos divinos, mas nos fortalece para enfrentá-los.
“A prece deve ser cultivada, não para que sejam revogadas as disposições da lei divina, mas a fim de que a coragem e a paciência inundem o coração de fortaleza nas lutas ásperas, porém necessárias.” — Emmanuel.
Amor: Mais do que pedir socorro, a forma mais elevada de nos dirigirmos a Deus é por meio da prática do bem.
“Decerto que muitas maneiras existem de preparar semelhante ato de confiança, tais como a oração que sublima e o estudo que esclarece, o trabalho que realiza e o entendimento que reconforta; entretanto, o modo único de nos dirigirmos corretamente ao Pai que está nos Céus, é aquele da prática do bem.” — Emmanuel
Portanto, não basta sofrer para ser feliz.
É preciso olhar para a dor como aprendizado. Recebê-la com humildade, enfrentá-la com coragem, e sair dela renovado, mais consciente, mais amoroso.
Confiemos em Jesus. Ele soube sofrer, porque soube amar. Que saibamos segui-Lo.
* Colaborou para esta publicação: Julia Fertig. ** Imagem em destaque via DALL.E do ChatGPT.