As bem-aventuranças

Como certa vez afirmou o líder pacifista indiano Mahatma Ghandi, “se se perdessem todos os livros sacros a Humanidade, e só se salvasse o sermão da montanha, nada estaria perdido”.

As bem-aventuranças são os ensinamentos que Jesus proferiu no Sermão da Montanha. Este foi o tema da palestra trazida por Rogério Lima aos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade.

Vemos na exposição que são sete as bem-aventuranças: 

  1. bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus (Mt 5:3) 
  2. bem-aventurados os que choram porque serão consolados (Mt 5:4)
  3. bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra (Mt 5:5)
  4. bem-aventurados os misericordiosos porque encontrarão a misericórdia (Mt 5:7)
  5. bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5:8)
  6. bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5:9)
  7. bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mt 5:10).

Como certa vez afirmou o líder pacifista indiano Mahatma Ghandi, “se se perdessem todos os livros sacros a Humanidade, e só se salvasse o sermão da montanha, nada estaria perdido”.

Os bem-aventurados

Bem-aventurado é uma expressão de Jesus que significa “os felizes”, sob o aspecto espiritual. Esse significado já nos leva a perceber quanta reflexão exige o estudo das bem-aventuranças. Segundo Haroldo Dutra, em palestra proferida em São José do Rio Preto, Eurípedes Barsanulfo, quando se deparou com o Sermão do Monte, teve uma das primeiras grandes dificuldades de entendimento no estudo da doutrina espírita, tal era a profundidade do significado de cada palavra dita por Jesus.

O livro Pão Nosso de Chico Xavier, por Emmanuel, cita: 

Confere Jesus a credencial de bem-aventurados, aos seguidores que lhe partilham as aflições e trabalhos; todavia, cabe-nos salientar que o Mestre categoriza sacrifícios e sofrimentos à conta de bênçãos educativas e redentoras.
— Livro Pão Nosso, capítulo 89.

Vemos então, que “felizes” não significa ter bens materiais, poder ou posição, mas enfrentar as dificuldades com amor, calma, paciência e fé, sabendo que são degraus na nossa escala evolutiva. Os ensinamentos de Jesus vieram assim, de forma gradativa. 

Até recebermos a bênção dos livros codificados por Kardec, passamos por várias etapas. Como disse Jesus: “Não vim destruir a lei”, ou seja, o material que recebemos antes da Codificação Espírita, Velho Testamento, Novo Testamento, por exemplo, são e foram importantes para que tenhamos chegado onde estamos e possamos, um dia, atingir a posição de espíritos evoluídos. 

Segundo Haroldo Dutra, na mesma palestra proferida em São José do Rio Preto, os quatro pilares, para o entendimento do Sermão do Monte são os capítulos I, II, III e IV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que são, respectivamente: “Não vim destruir a lei”, “Meu reino não é deste mundo”, “Há muitas moradas na casa de meu Pai” e “Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. Quando estudamos estes quatro capítulos, verificamos claramente que as leis morais que estão no Evangelho vigoram no Universo infinito.

Bem-aventurados os pacificadores

Como, em uma palestra de trinta minutos ficaria difícil falar mais profundamente de cada aspecto do Sermão do Monte, dissertaremos especialmente sobre a sexta bem-aventurança: “Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus”.

Vejamos, inicialmente, que “pacificador” significa conciliador, harmonizador. Segundo Haroldo Dutra é “aquele que exerce a paz”, “o agente da paz”, “o amigo da paz”.

Neste momento, em sua maioria, os seres que habitam o planeta não poderiam ser chamados pacificadores. Há quem se alimente do desequilíbrio exercido por outros e seus sentimentos pouco edificantes. 

Para mudar esse quadro desarmônico é necessário olhar para dentro, verificando desequilíbrios para buscar uma nova alimentação psíquica. Ainda estamos invigilantes. É o estado em que nos encontramos. Se procurássemos ficar vigilantes a maior parte do nosso tempo, ainda assim entraríamos em desalinho, porque temos muitas questões a resolver, dessa e de outras vidas. Ou seja, somos aquilo que plantamos em várias encarnações e a colheita será de acordo com o plantio.  

Quantas vezes somos maledicentes e temos olhos para ver o que não é bom, esquecendo que todos estamos aprendendo e que um comentário negativo pode trazer reações imprevisíveis? Quando julgamos, estacionamos e perdemos a oportunidade da ação compreensiva. Ser “amigo da paz” significa manter a tranquilidade diante das tribulações.

Em busca de paz

Onde buscar a paz? Dentro de nós. E isso não significa “descanso”, mas sim pensamentos, palavras e ações edificantes, o que gera movimento e reflexão. No livro Ação e Reação, de André Luiz, o orientador Druso, que chegou à Mansão da Paz no plano espiritual como sofredor, mas se transformou em trabalhador do Cristo, falou: “Os conflitos aqui são incessantes – disse Druso -; no entanto, temos aprendido nesta Mansão, que a paz não é conquista da inércia, mas sim, fruto do equilíbrio entre a fé no Poder Divino e a confiança em nós mesmos, no serviço pela vitória do bem”.

Os conflitos nos auxiliam a evoluir, a conquistar, a cada passo, a possibilidade de analisar nossos erros e construir o caminho da paz. Devemos verificar os desejos que nos agitam, que nos deixam ansiosos e perturbados, sem conseguir usar a capacidade de pensar. Saber lidar com nossos desejos, nossas paixões, analisando o que podem trazer de salutar e positivo para nossa economia espiritual. 

Vemos em O Livro dos Espíritos:

A paixão está no excesso provocado pela vontade, pois o princípio foi dado ao homem para o bem e as paixões podem conduzi-lo a grandes coisas. O abuso a que ele se entrega é que causa o mal. Toda paixão que aproximou o homem da natureza animal distancia-o da natureza espiritual.
— O Livro dos Espíritos, questão 907.

Então, precisamos de vontade, de esforço próprio. A paz é construída com abnegação, com sabedoria. E nunca podemos esquecer da prática da “oração”. 

Se orar a Deus e ao seu bom gênio com sinceridade, os bons espíritos virão certamente em seu auxílio, porque essa é a sua missão.
— O Livro dos Espíritos, questão 910.

Paulo de Tarso, na primeira epístola aos Coríntios, fala sobre práticas más, contendas e divisões na Igreja de Corinto: 

Rogo-vos, irmãos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos. (…) Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Porque de Deus somos cooperadores.
— 1Coríntios 1:10.

A união fraternal é o caminho que nos leva a Deus, que nos foi deixado por Jesus em palavras e atos de amor. A paz entre nós todos é conquistada com compreensão do nível de evolução de cada caminhante do planeta. Quando pudermos compreender que as escolhas de cada um de nós tem consequências e que responderemos por elas, esperaremos com calma, trabalho e a certeza de que tudo se resolverá, na hora certa. No livro Paulo e Estevão, Abigail fala sabiamente: “ama, trabalha, espera e perdoa”.

O pacificador é um semeador, ou seja, promove a paz. É necessário não apenas revidar o mal, é preciso propagar o bem. 

Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para não se praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, item 10. 

Então, lutemos a boa luta porque a paz é irresistível. Somos filhos de Deus, aqueles que fazem Sua vontade, que é sempre o bem!

Finalizamos com as reflexões da mensagem “A arte de ser leve”, trazida por Joanna de Ângelis, do livro Vida Feliz, psicografado por Divaldo Pereira Franco:

Vive sempre em paz.
Uma consciência tranquila, que não traz remorsos de atos passados nem teme ações futuras gera harmonia.
Nada de fora perturba um coração tranquilo, que pulsa ao compasso do dever retamente cumprido.
A paz merece todo teu esforço para consegui-la.
— Joanna de Angelis, no livro Vida Feliz.

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências:

– CARTA AOS CORÍNTIOS. 1ª e 2ª epístola.

– XAVIER, Chico. Ação e Reação. Cap. III, pgs 38 e 39. 1957.

– XAVIER, Chico. Pão Nosso. Psicografia pelo espírito Emmanuel, Cap. 89. 2008.

– XAVIER, Chico. Paulo e Estevão. 45ª edução. 2017.

– EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Caps. I, II, III, IV.

– FEB. As Bem Aventuranças. Estudo aprofundado da Doutrina Espírita. Livro II. Ensinos e Parábolas de Jesus, Módulo II.

– FRANCO, Divaldo Pereira. Vida Feliz. Psicografia pelo espírito de Joanna de Ângelis. A Arte de ser leve.

– LIVRO DOS ESPÍRITOS. As leis morais. Pg. 220.

– LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questões 907 e 910.

– PALESTRA. Haroldo Dutra. As Bem Aventuranças. São José do Rio Preto.

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
** Imagem em destaque: Monte das Bem-Aventuranças, Pictorial Library of Bible Lands.

Compartilhe:

Outros Posts