Espiritismo Explicando

Já se perguntou como você era antes do Espiritismo? Entenda mais sobre essa revelação Divina, que explica tanto sobre nós… Com ela, tudo faz sentido!

À primeira vista, o surgimento do Espiritismo pode parecer algo recente, em termos de história humana. Allan Kardec codificou as bases da Doutrina Espírita em meados do século XIX. Porém, iremos identificar que muitos dos fundamentos foram revelados há milhares de anos.

Nesse sentido, nesta publicação vamos discutir em um primeiro momento o caráter da Doutrina Espírita como continuação da revelação Divina. Em seguida, refletiremos como o Espiritismo atua em nossas vidas, a partir do capítulo “Espiritismo Explicando”, presente no livro Justiça Divina (Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel).

A expositora Ilani Nunes nos trouxe explanações acerca de tais assuntos em palestra disponibilizada nos canais da Associação Espírita Fé e Caridade, em 16 de fevereiro de 2021, servindo como fonte inspiradora. No presente texto, ao compreender o caráter da Doutrina, perceberemos o Espiritismo explicando (clareando) nosso caminho em direção à renovação moral com Jesus.

A Lei única e o Espiritismo

A Doutrina Espírita é sequência da revelação da Lei Divina aos homens. Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, sempre nos enviou auxílio para descortinarmos a Lei Divina gravada na nossa consciência.

Assim, missionários vieram nos guiar, ajudando-nos a sair gradativamente da cegueira causada pelo orgulho e egoísmo dominante.

O caráter essencial da revelação divina é o da Eterna Verdade1. A Lei de Deus é única. Desse modo, a lei do Decálogo, promulgada através de Moisés, já continha a mais sublime moral cristã, e, portanto, moral espírita.

Assim como o Cristo disse: “não vim destruir a lei, porém, cumpri-la”, o Espiritismo também afirma: “não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução”.4

O Consolador prometido por Jesus (Jo, 14:15-18) é o Espiritismo, que é o Cristianismo Redivivo!15. A mensagem de Cristo por sua vez, teve semente na crença do Deus único, nos Dez Mandamentos.

Cada revelação veio explicar, desenvolver e complementar os ensinamentos da anterior, adequando-os à capacidade do vaso receptor, ou seja, ao nível evolutivo dos que estavam na Terra.

Assim, temos que:

Moisés instalara o princípio da justiça, coordenando a vida e influenciando-a de fora para dentro. Jesus inaugurou na Terra o princípio do amor, a exteriorizar-se do coração, de dentro para fora.
E eis que o Cristianismo ressurge agora no
Espiritismo, induzindo-nos à sublimação da vida íntima, para que nossa alma se liberte da sombra que a densifica, encaminhando-se, renovada, para as culminâncias da Luz.” – Evolução em Dois Mundos, Cap. 20.23

Qualquer semelhança não é mera coincidência

Observemos o que nos diz o Antigo Testamento, em Deuteronômio (capítulo 6, versículos 4 a 6) e Levítico (capítulo 19, versículo 18):

“Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração” – Bíblia, Deuteronômio 6:4-6.

“Não te vingarás; não guardarás rancor. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” – Bíblia, Levítico 19:18.

Quando Jesus é questionado “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”, responde exatamente o que está em grifo acima (Dt, 6:5 e Lv, 19:18), dizendo que nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas (Mt, 22:36-40).

Jesus sendo a expressão mais sublime da Lei de Deus viva na Terra, quando nos disse “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, “este é o meu mandamento”, nos convida à mesma Lei de Amor (Jo, 13:34).

“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” não deixaria de ser também a maior premissa do Espiritismo. Esta máxima é inerente a todas obras básicas do Espiritismo, presente mais especificamente em O Evangelho segundo o Espiritismo (capítulo 11).

Portanto, é visível que o caráter da Lei de Deus revelada ao homem é o mesmo, tendo como foco o Amor.

Costurando reflexões: os Dez Mandamentos e o Espiritismo

Com base na literatura espírita e ponderações da palestra, a seguir vamos elencar apontamentos, a fim de relacionar os Dez mandamentos com as verdades espírita-cristãs. Após cada reflexão, correlacionou-se um comentário do benfeitor espiritual André Luiz sobre o mandamento em questão. Desse modo, temos que:

  1. Deus, nosso Pai e Criador, deve ser amado em primeiro lugar. O amor a Deus deve estar presente nos pequenos atos do dia-a-dia. Perceber a perfeição na criação e adorá-la é amar o Deus existente em toda a obra divina, incluindo nós e nosso próximo. “Não terás outros deuses além de mim” também nos lembra de que “Não se pode servir a Deus e a Mamon 11 ao mesmo tempo. Ou seja, para sempre refletirmos quem estamos colocando como prioridade: nossos interesses mundanos ou o caminho de redenção em direção ao Pai? Como nos lembra o livro Renúncia: “Não poderá haver acordo entre a virtude e o pecado 17.“Consagra amor supremo ao Pai de Bondade Eterna, n’Ele reconhecendo a tua divina origem” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  2. Não fazer ídolos ou cultuar imagem alguma” além de não humanizar o Divino, também se refere ao culto exterior, que não é bem visto aos olhos de Deus. Se importar com as aparências é ignorar a transformação moral interior que tanto necessitamos. Temos que edificar o Reino de Deus no coração, isto é, no nosso íntimo, à nível de sentimento, pensamento, fala e ação.“Previna-se contra os enganos do antropomorfismo, porque padronizar os atributos divinos absolutos pelos acanhados atributos humanos é cair em perigosas armadilhas da vaidade e do orgulho.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  3. “Não tomar o nome em vão do Senhor” é fazermos todo o bem possível em nome de Deus, por amor e obediência ao Pai. “Santificado seja o vosso nome” através de nossos atos, de nos tornarmos exemplo da Lei de Justiça, amor e caridade. Consiste em praticar o que pregamos em nossa vida, pois, na experiência religiosa, a teoria pede demonstração14. Por fim, é respeitar e render graças ao Pai, amando, trabalhando, perdoando, servindo a todos…“Abstém-te de envolver o Julgamento Divino na estreiteza de teus julgamentos.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  4. “Santificar o dia de sábado” pode ser entendido como os momentos de reflexão que o homem precisa, aliado ao refazimento das energias necessárias ao labor. Essa santificação do tempo pode ocorrer em qualquer instante de recolhimento. Santo Agostinho nos indica ao final de todos os dias para a introspecção, a fim de examinar a consciência, revisando a ações do dia e identificando o que precisamos reformar em nós3. Vemos aqui o “Orai e Vigiai” (Mt, 26:41).“Recorda o impositivo da meditação em teu favor e em beneficio daqueles que te atendem na esfera do trabalho, para que possas assimilar com segurança os valores da experiência.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  5. “Honrar o pai e a mãe” é um dever muito importante. Envolve amar e dar valor àqueles que viabilizaram estarmos encarnados. Mas também envolve o respeito, a atenção e a assistência nas necessidades, em dar-lhes o repouso na velhice e sermos solícitos como fizeram por nós na infância. Dessa forma, é obrigação cumprir para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade ordena relativamente ao próximo em geral10.“Lembra-te de que a dívida para com teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  6. “Não matareis” nos mostra que não é permitido destruir o que não se criou; nos lembrando da dádiva que é a vida terrena, oportunidade valiosa de evolução. Para além disso, “não matareis” também é não causar dano e sofrimento ao próximo. Não “matar” com calúnias, mentiras, maledicência e maus pensamentos em relação aos nossos irmãos. Também não devemos “matar” o tempo, buscando aproveitar esse talismã divino para evoluir no amor e na sabedoria.“Responsabilizar-te-ás pelas vidas que deliberadamente extinguires.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  7. “Não cometer adultério” é ser fiel a quem se ama, a fim de não quebrar a confiança existente em uma relação, não apenas na conjugal. O adultério já é configurado mesmo quando ocorre em pensamento, agravando a situação se for executado. Então, precisamos vigiar o pensamento, primeiro veículo de manifestação da vontade do Espírito. Por extensão, é um mandamento para aplicar em todos os atos da vida, buscando lealdade aos princípios morais esposados.“Foge de obscurecer ou conturbar o sentimento alheio, porque o cálculo delituoso emite ondas de força desorientada que voltarão sobre ti mesmo.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  8. “Não furtar” é não retirar os bens do próximo. Todavia, como nos diz Emmanuel, é preciso não furtar nem os recursos do corpo, nem os bens da alma14. Há pessoas que jamais furtaram os bens materiais, mas que roubam a esperança e o entusiasmo dos companheiros dedicados ao bem, com o pessimismo. Ou que roubam a tranquilidade do lar, a concórdia do ambiente, o tempo e alegria de quem trabalha. Que possamos refletir se não somos ladrões do bem, e ocupar nossas mãos com trabalho edificante, procurando sempre doar e repartir.“Evita a apropriação indébita para que não agraves as próprias dívidas.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  9. “Não levantar falso testemunho contra teu próximo”, pode ser entendido como não difamar, não faltar com a caridade. Se necessitamos de misericórdia para com Deus, também devemos ser misericordiosos. Também se relaciona com olhar para o outro com indulgência8 e buscar compreendê-lo antes de formar juízo de valor.“Desterra de teus lábios toda palavra dolosa a fim de que se não transforme, um dia, em tropeço para os teus pés.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.
  10. “Não cobiçar o que é do próximo” implica ter o ponto de vista espiritual em que todos temos aquilo que merecemos e precisamos. Implica em olhar com gratidão para o que se tem, sem desejar o que é do outro. Fazendo uma analogia figurada de uma orquestra, onde Deus é o Maestro, o Evangelho é a partitura, e o instrumento musical é seu talento: não devemos ficar nos comparando ou cobiçando a posição/ instrumento do outro. E sim, em seguir a sua partitura, harmonicamente com o todo. Além disso, o Evangelho nos mostra que não se trata apenas de não invejar o nosso irmão, mas sim de “sustentar aquele que é forte e fortalecer o fraco”.8“Previne-te contra a inveja e o despeito, a inconformação e o ciúme; aprendendo a conquistar alegria e tranquilidade, ao preço do esforço próprio porque os teus pensamentos te precedem os passos, plasmando-te, hoje, o caminho de amanhã.” – Evolução em Dois Mundos, cap. 20.

Nessas leis enxergamos um direcionamento da ação do homem, em relação a Deus e ao próximo, para promover o aperfeiçoamento do Espírito.

Características do Espiritismo

Princípios básicos

A base do Espiritismo é formada principalmente pelos seguintes conceitos:

  • Existência de Deus.
  • Existência dos Espíritos.
  • Individualidade e imortalidade da alma.
  • Comunicabilidade dos Espíritos, relacionada à mediunidade.
  • Multiplicidade das existências, por meio da Reencarnação.
  • Pluralidade dos mundos habitados.
  • Evolução dos Espíritos e da matéria (Universo).
  • Livre arbítrio.
  • Moral cristã como código de ética para conduta humana.

Fazendo breves observações que realçam a ligação entre Cristianismo e Espiritismo:

  • Quando Jesus ressurge do sepulcro, evidencia que há uma vida imortal, que não perece com a carne. Ao dizer que “Ninguém poderá ver o Reino dos Céus se não nascer de novo” (Jo, 3:3), fica explícita a necessidade de novas existências na carne para nos depurarmos. Ou seja, a reencarnação como lei natural e instrumento de evolução. 7
  • Quando Jesus indicou que João Batista foi a reencarnação de Elias, notamos que, mesmo após desencarnar, Elias conservou a sua individualidade (sua essência como Espírito), reencarnando novamente na Terra sob outra personalidade apenas.
  • Após desencarnar, Jesus apareceu esporadicamente para seus discípulos; sendo um dos muitos exemplos no Evangelho acerca da comunicação entre os planos espiritual e material. O Cristo foi o médium por excelência entre nós e Deus.
  • Cristo, o Salvador Prometido, não é aquele que vai resolver nossas mazelas nos eximindo da responsabilidade. O indivíduo tem que ter vontade de se salvar, exercendo o seu livre arbítrio de acordo com a moral cristã para se elevar. “Ajuda-te e o Céu te ajudará!” 12
  • O Espírita, na essência, é o cristão chamado a entender e auxiliar (Livro da Esperança).
  • A Mensagem do Mestre é atemporal e transcendente, nos guia neste plano material, no entanto, os frutos colhidos ficam mais claros na verdadeira vida, no plano espiritual. Como bem disse o Mestre: “Meu Reino não é deste mundo” (Jo, 18:36).5
  • Jesus também disse que “Há muitas moradas na casa de meu Pai” (Jo, 14:2), apontando sobre a existência de outros mundos habitados no Universo.6

O Sublime Triângulo

O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal (livro O que é o espiritismo, Preâmbulo).

O tríplice aspecto dos princípios redentores da Doutrina fica bem claro no livro Fonte de Paz, em que Emmanuel escreve:

“A Ciência, a Filosofia e a Religião constituem o triângulo sobre o qual a Doutrina Espírita assenta as próprias bases, preparando a Humanidade do presente para a vitória suprema do Amor e da Sabedoria no grande futuro.”Fonte de Paz, O Sublime Triângulo.

A Ciência e Filosofia vinculam a figura simbólica do triângulo à Terra, enquanto a Religião é o ângulo divino que a liga ao céu (O Consolador, Definição).

Para tal afirmação o autor espiritual recorre às três vigorosas sínteses da Codificação Kardequiana:

“Com a Ciência, asseverou o grande missionário:
A fé sólida é aquela que pode encarar a razão, face a face.
Com a Filosofia, afirmou peremptório:
Nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei.
Com a Religião disse bem alto:
Fora da caridade não há salvação.” – Fonte de Paz, O Sublime Triângulo.

No aspecto científico, o Espiritismo baseia-se nas relações que podem se estabelecer com os Espíritos13, em intercâmbio mediúnico, comprovando a existência da alma e sua imortalidade.

Como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações13. Quando o homem interroga, cogita, quer saber o “como” e o “porquê” dos acontecimentos, nasce a filosofia, para o entendimento dos problemas fundamentais da vida.

Como religião, o Espiritismo busca na ética pregada por Jesus os elementos que deverão nortear a conduta do Homem. É religião no sentido etimológico do termo, religare, ou seja, elemento de ligação da criatura com o Criador.

“Assim, Kardec coloca que a religião que irá unir todos os homens sob um mesmo estandarte será aquela que melhor satisfaça à razão e às legítimas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva, que em vez de se imobilizar, acompanhe a humanidade em sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem.” A Gênese, cap. XVII, item 32.

Espiritismo Explicando

Explicar é fazer com que fique claro, esclarecer. Diante de variadas situações desafiadoras que enfrentamos, teremos sempre o Espiritismo nos explicando (iluminando) o sentido das coisas, sendo capaz de nos despertar, consolar, fortificar e transformar.

Agora que vimos alguns fundamentos do Espiritismo, podemos vislumbrar as consequências de conhecer, sentir e viver esse que é o Cristianismo Redivivo. O texto a seguir nos chamará a alguns questionarmos:

Como eu era antes de conhecer o Espiritismo (seja nessa existência ou em outras)? Como era antes de começar a praticá-lo? O que mudou em mim? O quanto o Espiritismo já ajudou e ajuda na minha vida?

Refletindo sobre passado, presente e futuro, desfrutemos a seguir as palavras de Emmanuel, bem como os comentários a cada trecho do capítulo chamado Espiritismo Explicando, contido no livro Justiça Divina14:

Indagavas quanto ao Grande Porvir… A Doutrina Espírita sossegou-te as ânsias, explicando que te encontras provisoriamente no mundo, a serviço do próprio burilamento, para a imortalidade vitoriosa.

Estamos aqui na Terra para acelerar nosso processo de aperfeiçoamento moral e intelectual. Ter o contato com a matéria do plano físico, encarnando e reencarnando repetidamente, é necessário para irmos depurando nosso Espírito.

A pluralidade das existências faz parte do caminho evolutivo, em direção à comunhão perfeita com o Pai. O espírita tem fé inabalável no futuro, pois sabe da imortalidade da alma.

Perguntavas sobre os amargos desajustes entre corpo e alma, quando a enfermidade ou a mutilação aparece… A Doutrina Espírita asserenou-te a aflitiva contenda íntima, explicando que a individualidade eterna se utiliza, temporariamente, de um corpo imperfeito, como alguém que se vale de instrumento determinado para determinada tarefa de corrigenda a si mesmo.

Cada um tem o corpo físico de acordo com as necessidades para crescer espiritualmente. Deus nos empresta a estrutura física, para cumprirmos a proposta evolutiva prevista em nosso planejamento reencarnatório, seja a nível de prova ou expiação.

O espírita respeita no corpo de carne um santuário vivo que lhe cabe sublimar19.

Inquirias com respeito à finalidade dos problemas domésticos… A Doutrina Espírita harmonizou-te o pensamento, explicando que o lar é instituto de regeneração e de amor, onde retomas a convivência dos amigos e desafetos das existências passadas, para a construção do futuro melhor.

Na família terrena, convivemos com Espíritos simpáticos, antipáticos, e às vezes estranhos. Espíritos antipáticos vêm na mesma família para a reconciliação e entendimentos necessários. Representa oportunidade de resgate, para ambos se ajustarem diante a Lei de Amor.

O lar é a escola das almas. Pode ser o cadinho santo ou o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento na verdade é recurso espiritual (livro Jesus no Lar, capítulo 2).

O espírita trabalha para pacificar o ambiente doméstico, com compaixão, perdão e muita compreensão.

Interrogavas em torno dos entes amados, além do túmulo… A Doutrina Espírita dissipou-te as dúvidas, explicando que o sepulcro não é o fim, tanto quanto o berço não é o princípio, e que toda criatura, ao desenfaixar-se dos laços físicos, prossegue na marcha de aprimoramento e ascensão, do ponto em que se achava na Terra.

O desencarne é uma passagem para a nossa pátria real. Lá, nossos entes queridos continuam aprendendo sob a Lei do Progresso. A separação é temporária entre os que se amam. Assim, é certo de que iremos reencontrar nossa família espiritual. O relacionamento com entes amados continuará ao longo de nossa jornada espiritual, apoiando-se durante e entre sucessivas encarnações.

O espírita sente saudades, mas consola-se com o “Até breve!”.

Interpelavas o campo religioso, acerca da Justiça Divina… A Doutrina Espírita suprimiu-te a inquietação, explicando que Deus não concede privilégios, e que, em qualquer estância do Universo, a alma recebe, inelutavelmente, da vida o bem ou o mal que dá de si própria.

Na Lei de Causa e Efeito, o que você faz é o que você recebe (colhemos o que plantamos). Todas as coisas que existem no Universo vivem em regime de afinidade. Nada que alcança nossa existência é ocasional ou fruto de reação sem nexo. Ou seja, nosso livre arbítrio indica com precisão a posição que ocupamos no Cosmo. Cada indivíduo deve a si mesmo a conjuntura favorável ou adversa em que se situa no momento atual.

O espírita aceita sem revolta dificuldades e provações da vida (com obediência e resignação), abraçando o trabalho construtivo, seja qual for a posição em que se encontre19.

Torturavas a mente, qual se devesses respirar em cárcere de mistério, toda vez que cogitavas das questões transcendentes da fé… A Doutrina Espírita acalmou-te, explicando que ninguém pode violentar os outros, em matéria de crença, acentuando, porém, que toda fé, para nutrir-se de luz, deve ser raciocinada, em bases de lógica, porquanto, diante das Leis divinas, cada consciência é responsável pelos próprios destinos.

Não podemos forçar os outros a terem fé. Temos que respeitar que nem sempre as pessoas estarão interessadas em compreender. A Doutrina espírita não tem o objetivo de que incomodemos os outros com a nossa fala. Ela serve para harmonizar a família e o ambiente que atuamos. Então devemos refletir a forma como transmitir os ensinamentos que abraçamos. O ensino e o argumento mais convincente é o do exemplo.

O espírita empenha-se no aprimoramento individual, na certeza de que tudo melhora em torno, à medida que busca melhorar-se.19

É necessário valorizar a Doutrina que, generosamente, nos valoriza… Sustentar-lhe a integridade e a pureza, perante Jesus que a chancela, é procurar o nosso aperfeiçoamento e trabalhar por nossa união.

O Espiritismo valoriza o Espírito, pois nos ajuda a se desprender das coisas materiais e ir, aos poucos, elevando nosso Espírito a planos mais sutis e felizes. Ao valorizarmos sua prática, valorizamo-nos.

Segundo Cavalcante27 no livro Fundamentos da Doutrina Espírita, quando entramos em contato com o Espiritismo, começamos a percorrer um longo caminho, passando por três fases: (1ª) em que a pessoa entra para o Espiritismo; (2ª) em que o Espiritismo entra nessa pessoa; e (3ª) a mais difícil, em que o Espiritismo já pode sair de dentro da pessoa, manifestando-se em sua conduta de amor diante de si mesmo, seus semelhantes e Deus.

Dessa maneira, o verdadeiro espírita estima o dever irrepreensivelmente cumprido, seja no lar ou na profissão, na vida particular ou na atividade pública. Exalta o bem, procurando a vitória do bem, com esquecimento de todo mal19.

Pureza doutrinária

A mensagem final do capítulo nos chama para mantermos a integridade e a pureza doutrinária. Sustentá-las é nos esforçarmos para praticar a Lei de Deus de forma cada vez mais integral em nossa vida, seguindo o caminho reto da humildade e da caridade (amor em ação).

Manter a integridade da Doutrina Espírita é não a moldar aos nossos interesses. É aplicá-la em si próprio, e não impor a aplicação no outro.

Sustentar sua pureza é manter a simplicidade que lhe é característica, exercendo a fraternidade, amando Jesus no coração de cada irmão. Também é ter bases firmes sempre em Allan Kardec e Jesus Cristo.

Os espíritas de agora, cristãos igualmente redivivos, são convocados à redenção da Terra, como trabalhadores da última hora.

“O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. Conscientes, porém, de que se faz impraticável a redenção do todo sem o burilamento das partes, unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo (…) Para que todos sejamos um, em sintonia sublime com os desígnios do Supremo Senhor.” O Evangelho por Emmanuel, Em nome do Evangelho.

Dessa forma, devemos trabalhar por nossa união, não só entre espíritas, mas também devemos nos unir como humanidade. Sem preconceitos, respeitando-se mutuamente. No cenário atual de pandemia, somos convidados mais fortemente à união e à fraternidade. Passamos por uma grande prova coletiva, que impulsiona todo o planeta para a Regeneração.

Nesse contexto, temos que assumir nossa responsabilidade como indivíduos, na transformação moral que nos cabe e no que podemos auxiliar no processo de nossos irmãos. Compete-nos a coragem de vencermos a treva cristalizada conosco, a fim de que o reinado do Cristo fulgure entre nós para sempre!22

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 1 (O Caráter da Revelação Espírita), item 10.

2. Id. Ibid. Cap. 17. item 32.

3. Id. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. Brasília: FEB, 2013. Parte Terceira. Cap. 12 (Da perfeição moral). Conhecimento de si mesmo. questão 919.a.

4. Id. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap.1 (Não vim destruir a Lei).

5. Id. Ibid. Cap. 2. (Meu Reino não é deste mundo).

6. Id. Ibid. Cap. 3. (Há muitas moradas na casa de meu Pai).

7. Id. Ibid. Cap. 4. (Ninguém poderá ver o Reino dos Céus se não nascer de novo).

8. Id. Ibid. Cap. 10 (Bem-aventurados os que são misericordiosos). Item 17.

9. Id. Ibid. Cap. 11 (Amar o próximo como a si mesmo).

10. Id. Ibid. Cap. 14 (Honrai o vosso pai e a vossa mãe).

11. Id. Ibid. Cap. 16 (Não se pode servir a Deus e a Mamon).

12. Id. Ibid. Cap. 25 (Buscai e Achareis).

13. Id. O que é o Espiritismo. Tradução Revista Reformador de 1884. São Paulo: Montecristo Editora. 2020. Preâmbulo.

14. XAVIER, Francisco Cândido. Justiça Divina. Pelo Espírito Emmanuel. FEB, 2014. Reunião Pública. Capítulos: Espiritismo Explicando; Experiência Religiosa; e Não Furtar.

15. Id. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 210.

16. Id. Ibid. Definição.

17. Id. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. 36. Ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2019. Primeira Parte, Cap. 1 (Sacrifícios do Amor). p.16.

18. Id. Fonte de Paz. Espíritos diversos. Prefácio Emmanuel. 5ª ed. Araras, IDE, 2011. O Sublime triângulo.

19. Id. Livro da Esperança. Pelo Espírito Emmanuel. Uberaba: CEC, 2008. Capítulo 66 (O Espírita).

20. Id. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo João. Pelo Espírito Emmanuel. Coordenação de Saulo Cesar Ribeiro da Silva. Vol. 4. 1ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2015. 208. Em nome do Evangelho.

21. Id. Jesus no Lar. Pelo Espírito Neio Lúcio. 37. ed. 2ª imp. Rio de Janeiro: FEB, 2010 Cap. 2 (A escola das almas).

22. Id. Construção do Amor. Pelo Espírito Emmanuel. Editora CEU. Cap. 13.

23. XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. 27. ed. 12. imp. Brasília: FEB, 2020. Primeira Parte, Cap. 20, (Corpo Espiritual e religiões), p. 85.

24. BÍBLIA. Sagrada Bíblia Católica. Antigo Testamento. Deuteronômio e Levítico.

25. BÍBLIA. Sagrada Bíblia Católica. Novo Testamento. Evangelhos de Matheus e João.

26. SANTO NETO, Francisco do E. Um modo de entender: uma nova forma de viver Pelo Espírito Hammed. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004. Cap. 40.

27. CAVALCANTES, José Benevides. Fundamentos da Doutrina Espírita. 9ª ed. EME. 2020.

Imagem da capa: Edgar Degas, A Paisagem de Colinas.

*Colaborou para esta publicação: Ana Maria Beims Lopes.

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