O tema do arrependimento foi proposto na palestra realizada por Adriano P. dos Santos, e convida cada um de nós a refletir sobre a importância desse sentimento como alavanca para a transformação íntima. Embora muitas vezes associado apenas à dor e ao sofrimento, o arrependimento, à luz da Doutrina Espírita, é um chamado à mudança de atitude e de mentalidade — a conhecida metanoia.
O amor como fundamento
O apóstolo Pedro nos recorda: “o amor cobrirá uma multidão de pecados” (1 Pedro 4:8). O arrependimento sincero, para ser fecundo, precisa estar acompanhado pelo amor — amor que se traduz em ações concretas, em gestos de fraternidade, em paciência e em perdão.
Emmanuel reforça esse princípio no livro Fonte Viva:
Aprendamos a servir sem cansaço, compreendendo que o amor é a única força capaz de renovar-nos para a vida eterna.
— Fonte Viva, cap. 137.
O ensinamento dos Espíritos
Allan Kardec dedica questões específicas ao tema em O Livro dos Espíritos (990 a 997). Ali encontramos a clareza de que o arrependimento é necessário, mas não suficiente:
O arrependimento auxilia o melhoramento do Espírito, mas não basta: é preciso a expiação e a reparação.
— O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. 7, item 16.
Dessa forma, os Espíritos ensinam que o caminho de restauração da consciência passa por três etapas fundamentais: arrependimento, expiação e reparação. O arrependimento é o impulso inicial; a expiação, a experiência educativa; e a reparação, o esforço de recompor o bem não realizado.
Arrependimento não é penitência
A tradição religiosa muitas vezes associou arrependimento à penitência, compreendida como uma imposição externa. O Espiritismo, porém, esclarece que o verdadeiro arrependimento nasce de dentro para fora. Não é punição, mas reconhecimento lúcido e voluntário da necessidade de mudar.
Muitas vezes, a dor expiatória surge antes mesmo do arrependimento consciente, funcionando como alerta para que o Espírito desperte. Quando acolhida com fé, essa experiência deixa de ser revolta para se tornar aprendizado. Emmanuel nos adverte:
“Evitemos a posição do aluno que estuda e jamais se harmoniza com a lição”
— Fonte Viva, cap. 42.
O arrependimento deve, portanto, conduzir-nos à ação renovada. Errei, mas posso levantar e seguir em frente, sem me deter em lamentos estéreis.
Exemplos de transformação
A história do cristianismo nos oferece testemunhos marcantes de conversão. Paulo de Tarso, de perseguidor, tornou-se apóstolo incansável, afirmando:
“Esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo”
— Filipenses 3:13-14.
Maria de Magdala, transformada pelo encontro com Jesus, também não ficou presa ao passado: tomou do arado e seguiu adiante, tornando-se uma das mais fiéis discípulas.
Esses exemplos mostram que o arrependimento verdadeiro não paralisa, mas impulsiona.
O momento é agora
O profeta Ezequiel, no Antigo Testamento, registra as palavras de divina inspiração:
“Não quero a morte do ímpio, mas que o ímpio se converta do seu caminho, e viva”
— Ez 33:11.
Adiar indefinidamente o arrependimento é cair no chamado “arrependimento tardio”, que prolonga dores e oportunidades perdidas. O Espiritismo nos convida ao hoje: aproveitar a bênção da encarnação, agir para reparar e construir o bem possível em cada circunstância.
O arrependimento, compreendido sob a luz da Doutrina Espírita, é mais que um peso de consciência: é ponto de partida para a regeneração individual e coletiva. É coragem para reconhecer equívocos, humildade para expiar e firmeza para reparar.
Emmanuel resume com sabedoria:
“Recordando também que se o arrependimento é útil de quando em quando, o arrepender-se toda hora é sinal de teimosia e viciação.”
— Fonte Viva, cap. 42.
Que possamos, então, não apenas nos arrepender, mas transformar o arrependimento em ação renovadora, colaborando com a obra de Jesus na edificação do mundo de regeneração.
Acompanhe agora a íntegra do áudio da palestra que inspirou esta publicação:
*Imagem em destaque via DALL.E do ChatGPT.