O passe na visão espírita

O passe é transfusão de energias físio-psíquicas, operação de boa vontade, dentro da qual o companheiro do bem cede de si mesmo em benefício do próximo.

Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Ilani Nunes abordou sobre o passe à luz do entendimento espírita. Sendo assim, vamos refletir sobre o passe e a sua eficácia. Também, quais atitudes precisamos ter para que realmente tenha o efeito necessário para o nosso auxilio.

O passe não vem de hoje

Primeiro, vamos nos lembrar de duas passagens que nos remetem ao passe:

Ao pôr do sol, o povo trouxe a Jesus todos os que tinham vários tipos de doenças; e ele os curou, impondo as mãos sobre cada um deles.
— Lucas 4:40

Por essa razão, torno a lembrá-lo de que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos.
— 2 Timóteo 1:6

Jesus impunha as mãos nos enfermos e transmitia-lhes os bens da saúde. Seu amoroso poder conhecia os menores desequilíbrios da Natureza e os recursos para restaurar a harmonia indispensável.

Com isso, temos um indicativo de que o passe já era realizado há muito tempo.

Corroborando, o pesquisador espírita Gabriel Delanne fez um histórico, mostrando que o conhecimento do magnetismo para cura de enfermidades é citado em narrativas desde povos da antiguidade.

Delanne cita registros de magos da Caldeia e brâmanes da Índia que curavam pelo olhar. Assim como, faquires na Ásia que cultivavam com êxito as práticas magnéticas.

Os egípcios empregavam passes no alívio dos sofrimentos, como os executamos ainda em nossos dias. Há registros de que existia entre egípcios, em todas as épocas, pessoas dotadas da faculdade de curar por meio da aposição das mãos.

Os romanos também tiveram templos onde se reconstituía a saúde por operações magnéticas. Na Gália, os druidas possuíam em alto grau a faculdade de curar, como atestam muitos historiadores. Na Idade Média, o magnetismo foi praticado, principalmente, pelos sábios.

Os registros do conhecimento sobre os efeitos magnéticos se repete nos séculos seguintes. Por exemplo, com Franz Mesmer e o magnetismo animal. E no século XIX, com Allan Kardec e a codificação do espiritismo.

O que é o Passe?

“Passe” vem da expressão em francês passer, que significa passar. Na época de Mesmer era usado como termo para o ato de passar ou transmitir o fluido magnético através do movimento das mãos.

O Passe, à luz da Doutrina Espírita, é uma transmissão de energias fluídicas de uma pessoa – conhecida como médium passista – para a outra pessoa que as recebe, em clima de prece, com a assistência dos Espíritos Superiores.

Transfusão de energias

O benfeitor espiritual Emmanuel nos explica como devemos compreender o passe nos processos de cura:

 Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.
— O Consolador, capítulo 1, item 1.5, questão 98.

Emmanuel também mostra o passe como instrumento do movimento socorrista do Plano invisível:

Os passes, como transfusões de forças psíquicas, em que preciosas energias espirituais fluem dos mensageiros do Cristo para os doadores e beneficiários, representam a continuidade do esforço do Mestre para atenuar os sofrimentos do mundo.
— Caminho, Verdade e Vida, capítulo 153.

No livro Nos Domínios da Mediunidade, temos a definição do instrutor Áulus:

O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular.

A mente é determinante nas linhas de força subatômicas, por isso, uma mente renovada pelo passe é capaz de modificar o campo celular do próprio Ser.

Apoio de tratamentos

O benfeitor espiritual André Luiz nos ensina que:

 O passe é o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos.
— Opinião Espírita, capítulo 55.

Nota-se que o benfeitor utiliza a palavra “apoio“, visto que não se deve relegar tratamentos terrenos disponíveis. A ciência e medicina terrena também são instrumentos de melhoria da saúde global, e deve ser considerada de forma concomitante ao tratamento espiritual.

Objetivo do passe

O Atendimento pelo Passe visa a oferecer aos que necessitam e desejam receber fluidos de reequilíbrio e de paz. Tais fluidos são oferecidos pelos Benfeitores espirituais, por intermédio dos colaboradores encarnados, de maneira simples e organizada, com um planejamento previamente estabelecido.

Assim, o passe tem como principal objetivo auxiliar a restauração do equilíbrio orgânico do paciente. Por orgânico, entenda-se a estrutura completa do indivíduo: Espírito e perispírito, quando desencarnado; acrescidos do duplo etérico e corpo físico, quando encarnado.

O passe possui a finalidade de tratamento espiritual, mental/psiquico, emocional e físico.

Como funciona o passe?

O passe, processo fluídico-magnético, pode ser realizado por Espíritos encarnados e desencarnados. O magnetismo utilizado no passe geralmente é o Espiritual ou Misto.

passe com ação magnética mista

Allan Kardec nos explica o que é cada um deles, quando afirma que “a ação magnética pode se produzir de muitas maneiras”:

[…] 2) Pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento […]. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito.
3) Pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. Essa forma caracteriza o magnetismo misto, semiespiritual ou, se o preferirem, humano-espiritual.
Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é com frequência espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador.

O magnetizador, a que Kardec se refere, é o Espírito encarnado que aplica o passe em outrém, também chamado de médium passista.

Como os fluidos se movimentam?

Os fluidos se combinam em razão da semelhança de sua natureza; os fluidos dissemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.
— A Gênese, capítulo 14, item 21.

Assim, podemos dizer que fluidos do mesmo tipo se atraem, e fluidos de tipos opostos se repelem. Dessa forma, somos bombardeados, no dia-a-dia, pelo mesmo tipo de fluido que estamos a emitir.

Os fluidos podem ser deslocados e se reunir por ação magnética. Nosso pensamento — exteriorização da nossa vontade — é magnetismo. Logo, os fluidos podem ser deslocados, também, por ação da nossa vontade. Para isso, a vontade deve ser firme ao mentalizar o pensamento no passe.

O passe é utilizado visando ora ao recolhimento de fluidos prejudiciais, ora à aplicação de fluidos benfazejos. Daí serem classificados, quanto à sua finalidade específica, em:

  • passes para retirada de fluidos — caracterizam a fase de dispersão;
  • passes para concentração de fluidos — caracterizam a fase de doação.

Em certos momentos, os médiuns passistas tem que proceder à retirada e, em outros, à concentração de fluidos, relativamente ao paciente.

A fase de dispersão vem primeiro, para limpeza do campo fluídico do paciente. Nela procura-se retirar todos os fluidos deletérios que o envolvam. Só depois, vem a fase de doação de fluidos. Essa ordem evita que os fluidos a serem doados não sejam repelidos pelo envoltório fluídico do paciente.

Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ela ajude a si mesma.
A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções.
[…]
Renovemos o pensamento e tudo se modificará conosco.
— Nos Domínios da Mediunidade, capítulo 17.

É válido observar duas situações importantes para a eficácia do passe. Há requisitos básicos tanto para quem dá quanto para quem recebe os passes, expostos a seguir.

Postura do receptor

Quando o médium passista está aplicando o passe, várias forças encontram-se atuando sobre os fluidos que se pretende deslocar, sendo a produzida pela vontade do passista apenas uma delas. Há, contudo, uma outra força que não se deve menosprezar, pela sua grande relevância, que é aquela exercida pelo posicionamento mental do paciente.

É importante observar que os fluidos benéficos doados são apenas postos à disposição do paciente. Isso ocorre, pois a absorção desses fluidos poderá ou não se verificar, dependendo da receptividade do paciente.

Desse modo, o processo de atendimento pelo passe é tanto mais eficiente quanto mais intensa se faça a adesão daquele que lhe recolhe os benefícios. A vontade do atendido, como centro receptor de energias, erguida ao limite máximo de aceitação, determina sobre si mesmo os mais elevados potenciais energéticos.

Sugestões para melhor aproveitar o passe

Portanto, para maior eficácia, sugere-se para a pessoa que vem tomar passe no centro espírita:

  • Chegar cedo, para se envolver no ambiente previamente preparado pela espiritualidade;
  • assistir a palestra anterior, com atenção à essência da mensagem (nos casos de palestras anterior ao passe);
  • ter vontade de receber o passe e na sua potencial ação;
  • buscar ter a mente e o coração pacificado;
  • buscar pensamentos positivos, se desprender dos pensamentos não tão bons que nos acompanham;
  • buscar não se distrair, focar na oportunidade presente de receber ajuda;
  • e ficar em prece, se colocar na presença de Deus para receber o passe.

Após o passe, cada atendido poderá receber água magnetizada com as vibrações da prece.

O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.
— Nos Domínios da Mediunidade, capítulo 17.

Por fim, Emmanuel nos lembra da importância de fazer a nossa parte, e não se colocar como necessitado incapaz:

Ajuda o trabalho de socorro aqui mesmo com o esforço da limpeza interna.
Esquece os males (…), desculpa as ofensas de criaturas (…), foge ao desânimo destrutivo e enche-te de simpatia e entendimento para com todos os que te cercam.
O mal é sempre a ignorância, e a ignorância reclama perdão e auxílio para que se desfaça, em favor da nossa própria tranquilidade.
— Segue-me, capítulo 47.

Postura do médium passista

Quem dá o passe também deve manter bons pensamentos e sentimentos. O principal é: quanto mais elevarmos nosso pensamento em preces, maior será o poder de nossa irradiação.

No Livro dos Médiuns, Kardec informa que a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio:

Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias.
— Livro dos Médiuns, item 189.

Sugestões para servir de melhor instrumento

Aconselha Emmanuel que a higiene, a temperança, a medicina preventiva e a disciplina jamais deverão ser esquecidas.

Adverte, ainda, que tudo na vida é afinidade e comunhão sob as leis magnéticas que lhe presidem os fenômenos. Doentes afinam-se com doentes. O médium receberá sempre de acordo com as atitudes que adotar perante a vida.

O médium precisa afeiçoar-se à instrução, ao conhecimento, ao preparo e à melhoria de si mesmo, a fim de trazer para a vida e para os homens o que signifique luz e paz.

Assim, tendo em vista maior eficácia do trabalho, recomenda-se ao aplicador do passe:

  • esforçar-se por conquistar grande domínio sobre seus pensamentos, sentimentos, acentuado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, vigorosa e racional. Deverá desenvolver as qualidades que atraem os Bons Espíritos, como a bondade, a simplicidade de coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais;
  • alimentar-se nos mais levemente, principalmente nos dias de aplicar passe (evitar carnes e alimentos condimentados). Primar pela discrição, evitando distrações aos atendidos, em prejuízo do objetivo da atividade. Nesse sentido, recomenda-se evitar o uso de vestimentas, adereços, perfumes ou cosméticos exagerados. Também devem ser evitados gestos excessivos ou exóticos, lembrando a simplicidade cristã que deve orientar os trabalhos do Centro Espírita.

Outros requisitos não menos importantes para os que operam no setor de passes em instituições são os seguintes:

  • Horário; confiança; harmonia interior; e respeito.

O problema da pontualidade é fundamental em qualquer atividade humana, mormente se essa atividade se relaciona e se desenvolve em função e na dependência da Esfera Espiritual. Nem um minuto a mais, nem a menos, para início dos trabalhos.

Imperfeitos, porém nos façamos úteis

Seria audácia por parte dos discípulos novos a expectativa de resultados tão sublimes quanto os obtidos por Jesus junto aos paralíticos, perturbados e agonizantes.
O Mestre sabe, enquanto nós outros estamos aprendendo a conhecer. É necessário, contudo, não desprezar-lhe a lição, continuando, por nossa vez, a obra de amor, através das mãos fraternas.
Onde exista sincera atitude mental do bem, pode estender-se o serviço providencial de Jesus. Não importa a fórmula exterior. Cumpre-nos reconhecer que o bem pode e deve ser ministrado em seu nome.
— Caminho, Verdade e Vida, capítulo 153.

POR MAIS LUZ

Indagas, muita vez, ao mundo em derredor,
Que fazer por mais luz, ante a Vida Maior,
Pensando no esplendor do Eterno Lar…
E a repeti-la sempre, eis que a vida te diz
Uma palavra só para seres feliz:
– Perdoar, perdoar…
Para que o homem viva em altos cimos,
Na cúpula dos bens que usufruímos,
Desenvolvendo o dom de pesquisar,
Perdão, em si, é a própria lei da vida,
Tudo te roga, em torno, alma querida:
– Perdoar, perdoar…
O chão perdoa a lâmina violenta,
A fim de produzir o pão que te alimenta
Na lavoura a brilhar…
Na madeira de casa, algum machado bronco
Escutou na floresta o grito de algum tronco:
– Perdoar, perdoar…
O grão que móes para formar um bolo,
A lenha que te aquece e te oferta consolo
No lume a crepitar:
Do topo da montanha ao poço mais profundo,
Tudo te ensina sempre, a repetir no mundo:
– Perdoar, perdoar…
Desse modo, igualmente, alma querida e bela,
Da existência nobre à vida mais singela,
Quase ninguém caminha sem errar…
Ofensas e agressões? É preciso esquecê-las.
Por mais luz pede o Céu, acendendo as estrelas:
– Perdoar, perdoar…
— Maria Dolores

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Bibliografia:

  • Allan Kardec. A Gênese.
  • ________. Livro dos Médiuns.
  • Orientação ao Centro Espírita (OCE) – FEB.
  • Therezinha Oliveira. Fluidos e Passes.
  • Luiz Carlos de Melo Gurgel. Passe Espírita.
  • Marta Antunes de Oliveira Moura. Passes.
  • Projeto Manoel Philomeno de Miranda. Terapia pelos Passes.
  • Francisco Cândido Xavier. Pelo Espírito André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade.
  • ________. Pelo Espírito André Luiz. Opinião Espírita.
  • ________. Pelo Espírito Emmanuel. Caminho, Verdade e Vida.
  • ________. Pelo Espírito Emmanuel. O Consolador.
  • ________. Pelo Espírito Emmanuel. Segue-me.

*Colaborou para esta publicação: Ilani Nunes.

*Imagem em destaque via pexels.com.

Compartilhe:

Outros Posts