Em mais uma edição do Conversando sobre o Espiritismo, exposição preparada para o trabalho de desobsessão das quartas-feiras na Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Julia Fertig nos traz o tema “A Porta Estreita”, a partir do ensinamento imortal trazido por Jesus:
Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela.
Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram.
— Mateus 7:13-14.
Fazemos diversas escolhas em nossas vidas. Somos convidados, a todos os instantes, a fazer escolhas. Em um só dia, por exemplo, decidimos ir ou não à casa espírita. Prestar ou não atenção no que o outro está falando. Ir para o trabalho, ir à escola, etc.
Imaginem, então, o tanto de escolhas que fazemos em uma encarnação. E quem dirá durante toda nossa vida espiritual, que é composta por diferentes encarnações, pois somos espíritos imortais.
Escolhas não tão boas: a porta larga
Nossas escolhas são divididas em dois tipos: as boas e as não tão boas. Podemos dizer que as escolhas não tão boas são as da porta larga. São fáceis, cômodas, atrativas, chamam nossa atenção. São escolhas muito atraentes.
Allan Kardec nos traz em O Evangelho Segundo o Espiritismo:
Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 18, item 5.
As paixões não são o problema. Kardec também nos fala em O Livro dos Espíritos que o problema é a gente deixar que essas paixões nos dirijam. Dessa forma, caímos nos excessos e a própria força que poderia fazer o bem, recai sobre nós mesmos e nos esmaga.
A Espiritualidade Superior é enfática ao afirmar que o homem, pelos seus esforços, pode vencer as suas más inclinações. Os espíritos nos dizem, na questão 909 de O Livro dos Espíritos que o que nos falta é vontade de se reformar e ainda lamentam: “Ah, quão poucos dentre vós fazem esforços!”.
Mas também temos a opção, todos os dias, das escolhas boas. Essas vamos chamar das escolhas da porta estreita.
Escolhas boas: a porta estreita
Kardec nos diz, em O Evangelho Segundo o Espiritismo que:
É estreita a porta da salvação porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se dispõem a fazer.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 18, item 5.
Toda porta constitui passagem em qualquer construção, que separa dois lugares, permitindo livre passagem entre eles. Quando passamos por uma porta estamos mudando de ambiente, certo?
Jesus nos diz “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita…”. Que esforço será esse?
No programa Estudando o Evangelho Segundo o Espiritismo, pela FEBtv, o expositor Simão Pedro reflete sobre o assunto. Ele nos diz que a porta larga é espaçosa, é cômoda. É fácil passar algo pequeno em um espaço grande. Mas passar algo maior por um espaço menor não é fácil, por isso a porta estreita não é cômoda.
Por exemplo, uma criança quando está aprendendo sobre formatos e coordenação motora, tenta passar uma peça quadrada em um formato circular e não consegue. Essa criança necessita de esforço de entendimento e de atitude. Conosco ocorre da mesma forma.
Esforço para passar pela porta estreita
Para passarmos pela porta estreita, precisamos nos esforçar. Mas isso não significa que precisa ser difícil, custoso… Apenas que necessita de esforço. Esforço não significa dificuldade, significa colocar a força necessária para a ação que se espera.
Temos ainda aquele pensamento de que precisamos sofrer para viver o reino dos céus dentro de nós. E não é isso. Não é esse sacrifício que Jesus espera de nós. É o sacrifício do esforço, da atitude, de domar às más inclinações.
E Simão Pedro elenca dois tipos de esforços necessários para nos adaptarmos à porta estreita.
Esforço 1: entendimento
Qual a melhor forma para passarmos pela porta estreita? Ao pensar vamos achando formas novas, diferentes. Por isso precisamos refletir: por que não estamos conseguindo? Por que outros conseguiram? O que eu deveria fazer?
Esforço 2: atitude
Quais forças estamos colocando para vencer a porta estreita?
As forças que temos que usar são as do sentimento e do comportamento. O que estou sentindo? Como estou me comportando?
Lembre-se: não precisa ser penoso, só precisamos encontrar os caminhos.
Preciso me colocar no molde que a porta me exige. O molde é o ensino do Cristo. Estamos nos moldando segundo o evangelho?
Precisamos perceber que é preciso discernimento para escolher entre a porta estreita e a porta larga. Buscamos coisas que nos alegram aqui e agora ou as coisas que me tornam felizes? A felicidade verdadeira ela não é passageira, ela é eterna.
A porta pode ser estreita, mas nos esforçando vamos diminuído as medidas da materialidade das nossas vidas e a porta se tornará larga para nós porque nos diminuímos. Diminuir como Cristo se diminuiu. Diminuir o orgulho, o esgoísmo, a vaidade, o ego, o ressentimento. Não precisamos alargar a porta, precisamos nos estreitar.
Mesmo quando nos achamos perdidos, vindos de uma longa trajetória de escolhas pela porta larga da perdição, Jesus, com seu coração misericordioso, nos proporciona novas oportunidades.
Quando Judas foi ao encontro do Cristo, segundo nos relata Humberto de Campos no livro Boa Nova, dar o beijo traidor e entregar Cristo aos soldados para a crucificação, Jesus diz: “Amigo, a que vieste?”.
Emmanuel nos diz na obra Caminho, Verdade e Vida:
Seu coração misericordioso proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao bem, até ao derradeiro instante.
Nesse gesto de inolvidável beleza espiritual, ensinou-nos Jesus que é preciso oferecer portas ao bem, até à última hora das experiências terrestres, ainda que, ao término da derradeira oportunidade, nada mais reste além do caminho para o martírio ou para a cruz dos supremos testemunhos.
— do livro Caminho, Verdade e Vida, capítulo 90.
A porta larga: entrada na ilusão. A porta estreita, entrada na renovação. O momento é este, o de escolhermos a porta, estreita ou larga.
Examina qual a passagem que escolhes por teus atos diários, na existência que se desenrola, momento a momento.
* Colaborou para esta publicação: Julia Fertig.
** Imagem em destaque: pexels.com.