Autolibertação

Nossa autolibertação vai muito além de fazer o que se quer, quando se quer. Temos compromissos próprios e com outros espíritos encarnados ou desencarnados.

Autolibertação significa emancipação, liberação, desencarceramento, descativeiro, resgate, salvação, irradiação. Esses significados levam à reflexão de como mudar a si mesmo, como sair do cativeiro, como resgatar a si mesmo, como transformar para evoluir espiritualmente saindo da prisão dos sentimentos, pensamentos e ações pouco edificantes. Esse foi o tema de palestra realizada por Nilson Goes nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade.

No livro Fonte Viva, de Emmanuel pela psicografia de Francisco Candido Xavier, vemos no capítulo 47: 

“… Nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele” – Paulo (1 TIMÓTEO, 6.7).
Raciocinemos, então: nossa passagem aqui é de aprendizado e, se nos apegamos à materialidade, aos valores mesquinhos, a não abrir nosso coração, estamos, realmente, nos encarceirando e dificultando nossa vida presente e futura, ou seja, alongando nosso tempo de dificuldades e nossa chegada à uma vida de equilíbrio e serenidade.
— Fonte Viva, capítulo 47, “Autolibertação”.

Estamos arraigados às algemas do “eu”. Se chegamos aqui na terra necessitados dos outros e de auxílio e dela sairemos sós, que trabalhemos para crescer espiritualmente e auxiliar nossos irmãos. Para esse trabalho, necessitamos superar a nós mesmos e termos “amor ao próprio bem”. Que maravilhoso termos “amor ao próprio bem”! Que satisfatório amar fazer o bem! Encher nossa alma de vontade de auxiliar, de servir! Necessitamos viver conosco mesmos servindo a todos. Para isso, precisamos superar nossas imperfeições, nossos desajustes com a forma que encaramos a vida terrestre, ou seja, qual é o nosso real objetivo em cada encarnação. Trata-se da autossuperação, a batalha diária para a autocorreção, o reconhecimento de nossa pequenez, a anulação de “melindres pessoais” para que nossa vibração esteja em afinidade com o bem.

Autoobservação e autolibertação

A autolibertação está diretamente ligada com a análise do próprio eu, parar, silenciar e observar a si próprio. Este é um momento de cada um, consigo próprio, de íntima renovação para libertação das mazelas do orgulho, que nos impede de entender, que nos mantém cegos.

O medo da solidão nada mais é que a dificuldade de encarar a própria sombra e ter que gerar movimento para sair do lugar de inação. A ação, que vem da reflexão da necessidade da abnegação, da humildade, da caridade e benevolência é a capacidade de sair da situação de falta de amor próprio e amor ao próximo. Aprender a ser “só” e o que significa estar só. 

Ao olhar para dentro e começar o movimento de renovação, verifica-se que “nunca se está só” e aí vem a leveza diante da possibilidade de “fazer”. Fazer o bem para si e, consequentemente, para o outro. Começa então o voo da liberdade!

Vivemos, atualmente, situações desafiadoras e, claro, necessárias ao nosso crescimento. São estes desafios que abalam nossa estrutura física, psíquica e espiritual que podem trazer a renovação interior através do trabalho, construindo para auxiliar, trabalhando a misericórdia e a compaixão. 

Enfatizando o apelo do papa Francisco, devemos “construir, amar os desfavorecidos, lutar pela paz e melhorar nossa vibração”. E, ainda, as belas palavras de Desmond Tutu, grande lutador contra o Apartheid, na África: “somos todos irmãos”. Necessitamos uns dos outros para crescer.

Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em que nos encontramos. Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima dos teus desejos, e a Vontade Divina te aproveitará.
— Livro Fonte Viva, capítulo 4.

Autolibertação e perdão

Não podemos deixar de falar sobre o perdão quando nos referimos à autoliberdade. No capítulo XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, vemos que Jesus responde ao fariseu: 

“Amarás o senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito”; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo: “Amarás o teu próximo, como a ti mesmo”.
— Mateus, 22:34 a 40. 

Essa é a expressão mais completa da caridade. Seria, então, muito difícil nos libertarmos sem perdoar, sem guardar rancor. Que lutemos por isso todos os segundos de nosso dia: perdoar as ofensas que nos façam, entender e respeitar o estágio evolutivo e a individualidade de cada um. E, quando possível, utilizar do diálogo fraterno para entendermos realmente o que sentimos e o que o outro sente. “Fazer pelos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por nós”, conforme O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 4. Com certeza, quem perdoa está se libertando de um pesado fardo, que poderia durar muitas encarnações.

Autolibertação e vigilância

Para que possamos nos libertar das amarras a que nos sujeitamos nessa e em outras vidas é necessário que cuidemos do nosso psiquismo, que nossa mente entre em contato com espíritos do bem, que querem a evolução do planeta. Para isso, é necessária vigilância e oração. 

No livro Vida Plena, Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, vemos no capítulo 2: 

Mente a mente, processos de intercâmbio entre os espíritos envoltos na indumentária carnal e os dela desvestidos, sempre uma está influenciando outra mente. Não há isolamento de natureza mental entre os seres humanos, assim como de vibração entre todos os seres vivos. Tratando-se de uma verdadeira guerra moral, na qual o planeta terra se encontra, a potência do bem experimenta a agressão do mal em incessante batalha.
— Vida Plena, capítulo 2. 

Vigilantes, podemos agir no bem, não nos deixando levar pelas influências externas e internas, claro, já que permitimos a sintonia com espíritos que ainda não evoluíram. 

Ainda no capítulo 2 do livro Vida Plena, lemos: 

O ser humano é belicoso, graças ao instinto de conservação da vida, mas a razão que o ergue ao altar da sublimação, tem por objetivo alterar-lhe a conduta combativa para labores criativos e não destrutivos.
— Vida Plena, capítulo 2. 

Autolibertação e responsabilidade

Raciocinemos, então, que nossa liberdade só é viável quando assumimos a responsabilidade por nós e, consequentemente, pelo planeta em que vivemos. Cada passo que damos influencia nossa vida e a de outros seres. Não podemos fazer apenas por fazer, sem pensar nas consequências de nossos atos. Deus, Jesus e os espíritos de luz que trabalham pelo Universo estão ao nosso lado para que não venhamos nos comprometer com energias deletérias. 

Quando analisamos o que significa nossa autoliberdade, verificamos que vai muito além de fazer o que se quer, quando se quer. Temos compromissos próprios e com outros espíritos encarnados ou desencarnados e, a mudança interior, que gera liberdade, é de grande força para quem se transforma e para aqueles que partilham dessa transformação. Vamos vencer os desafios, transformando nossa mudança em uma corrente de afeição e solidariedade, para que todos possamos crescer juntos.

Verificamos, então, que a autoliberdade requer mudança, emancipação, desligamento de padrões de pensamentos, atitudes e palavras. Vigiar nossos pensamentos e falar para nós mesmos: “mude seu pensamento se ele não é edificante” é o passo inicial para todas as considerações feitas até agora. Léon Denis, no livro O problema do ser, do destino e da dor, explica no capítulo 24: 

O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente em torno de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem e para o mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações, e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura.
— O problema do ser, do destino e da dor, capítulo 24.

Assim, a reflexão e o silêncio para olhar para si e mudar os padrões de pensamento nos auxiliam sobremaneira na liberação das amarras que nos prendem a situações em que estacionamos, sofremos e não aproveitamos a oportunidade de progresso.

Para finalizar, uma pequena história do livro As perguntas de Jesus, de Felipe Truccolo Mascarenhas. No capítulo 13, conta o autor que, caminhando em uma rua em Osório, no Rio Grande do Sul, costumava encontrar uma bela árvore, sempre repleta de flores. Certo dia, de coração partido, encontrou-a completamente podada. Com o tempo, novas folhas começaram a nascer e ele refletiu: “não deveria ser esta a nossa resposta às podas da vida, a constante renovação? Frequentemente resistimos às mudanças por estarmos acostumados a determinado padrão de conduta. Em nossas vidas a poda se manifesta com diversos nomes. Para uns, pode ser a enfermidade, para outros, a saudade”. 

Continuamente, exercitamos a ciência de recomeçar. Que possamos compreender o quanto somos abençoados por termos a oportunidade de refazer nossos passos!

Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

REFERÊNCIAS:

– FRANCO, Divaldo Pereira. Vida Plena. Cap. 2.

– DENIS, Leon. O problema do ser, do destino e da dor. Cap. 24.

– MASCARENHAS, Felipe Truccolo. As perguntas de Jesus. Cap. 13.

– O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. XI, ítens 1 e 4.

– XAVIER, Chico. Fonte Viva. Caps. 4 e 47.

*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
**Imagem em destaque: via Pexels.com

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