Por que dormes?

Em meio a tantas tarefas, dia após outro, será que estamos agindo com lucidez? Jesus vem questionar aos discípulos: Por que dormes? A hora é despertar!

Queridos irmãos, hoje iremos abordar sobre o tema Por que Dormes?, presente no capítulo 5, do livro As Perguntas de Jesus. A obra lançada neste ano de 2021 é de autoria do irmão Felipe Truccolo Mascarenhas. A palestrante Ana Maria abordou tal capítulo no dia 1º de junho de 2021, nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade.

Nesse livro, o autor selecionou 10 perguntas de Jesus contidas no Novo Testamento e outras 5 perguntas de Jesus compreendidas na obra Boa Nova, do Espírito Humberto de Campos e psicografia de Chico Xavier. Vale a pena a leitura!

Perguntas

Pensemos na importância da pergunta no nosso processo evolutivo.

Perguntar é uma maneira de sondar, de estimular o conhecimento e também exercitar a capacidade de ouvir. Ouvir as respostas que nos dão os outros e as que nos dá o próprio coração.
-– As Perguntas de Jesus, introdução.

Na primeira obra da Codificação Espírita, O Livro dos Espíritos, há 1019 perguntas que Allan Kardec fez para Espíritos benfeitores. Nessa obra, o Espírito Santo Agostinho nos instrui a fazermos perguntas para nós mesmos, como forma de roteiro para o autoconhecimento, e afim de nos melhoramos e resistir as tentações do mal.

Com as perguntas de Kardec, a Terra indaga às potências celestes, sondando as realidades do infinito. Com as perguntas de Jesus, o Céu sonda o infinito do mundo interior de cada criatura.
– As Perguntas de Jesus, introdução.

Assim, o Mestre Jesus questiona de forma profunda para o Espírito imortal que somos. Por isso, ao nos refazemos tais perguntas, busquemos o silencio interior, meditando sinceramente em cada uma delas.

Sobre essas perguntas, o autor Felipe Mascarenhas expõe:

Cada pergunta abrange uma determinada etapa da nossa jornada evolutiva do passado ao presente, ou que nos aguarda nas trilhas a serem percorridas no futuro.
-– As Perguntas de Jesus, introdução.

Jornada consciente

Se questionar sobre determinados pontos ao longo da jornada evolutiva é uma forma de buscar estar consciente nos pensamentos e ações da vida. Assim como, é uma forma de buscar sair dos automatismos e da nossa zona de conforto.

As perguntas dos quatro capítulos anteriores têm uma sequência nessa viajem interior de autodescobrimento. Por isso, vale contextualizá-las brevemente, são elas:

1) Qual é o teu nome? Nessa jornada, o primeiro passo é se descobrir como Espírito imortal, e olhar para a individualidade que se é. Nesta encarnação estamos vestindo uma personalidade, e assumimos outras personalidades em outras existências. Porém, sou a individualidade que adquiriu experiência nessas vivências e que sobrevive à morte do corpo físico. Nesse processo de autoconhecimento, quero descobrir a essência de quem sou. Dessa forma, tenho um ponto de partida para realizar de modo mais consciente o progresso espiritual.

2) Companheiro, a que vens? Importante pararmos para refletir sobre qual a minha missão aqui na Terra. Para quê reencarnei? Todos temos um planejamento reencarnatório e escolhemos o gênero das provas que passaremos aqui. Analisemos nossas dificuldades, as situações desafiadoras da vida, e busquemos notar se há semelhança entre elas. Cometemos crimes perante a Lei de Deus, e necessitamos nos redimir nos ajustando a esta. Cada um tem sua convocação pessoal para o seviço com o Cristo.

3) Que buscais? O que estou buscando, desejando intimamente e fazendo está de acordo com o meu propósito como Espírito imortal? Lembremos da lei de afinidade e sintonia, de ação e reação, em que sabemos que nós atraímos aquilo que mais pensamos. Nos questionemos qual o tipo de pensamento que mais povoa a minha mente em um dia. Qual meu desejo central? Observe e veja se isso está ajudando a atingir a sua missão.

4) Quantos pães tendes? Ao se observar, é providencial ver tanto nosso lado sombra quanto o luz. Temos muitos defeitos, sim. Mas e as virtudes? Quais são os talentos que adquiri nessas sucessivas encarnações? Estou dividindo-os com amor? Lembremos da parábola dos talentos e se estamos escutando o chamado à caridade.

Reconhecemos os apelos divinos ou será que ainda estamos patinando na invigilância e dormindo?

Por que dormes?

Esta pergunta está no Evangelho de Lucas (cap. 22, v.46). A passagem se dá no Horto das Oliveiras, onde Jesus pede aos discípulos que o acompanhavam para ficarem em prece, a fim de que não entrassem em tentação, enquanto Ele orava intensamente a certa distância. Voltando até eles, encontrava-os adormecidos de tristeza, e disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.

Há lições que são direcionadas à multidão. Aquela que ouve falar de Jesus, recebe consolo e esclarecimento, todavia não aplica o conhecimento em seus gestos mais simples. Porém, essa lição é direcionada para quem já decidiu seguir os passos do Mestre Galileu.

É aí que o autor, Felipe Mascarenhas, nos diz que temos uma decisão importante na jornada evolutiva do Ser:

  • a de passar da condição de multidão para a de discípulo.

Discípulo é aquele que segue a disciplina ensinada por alguém. É o pupilo que vai abdicar dos interesses próprios e mundanos, para seguir o modelo de vida do Mestre Jesus. Se a disciplina ensinada por Jesus é a Lei de Deus, ou seja, a Lei de Justiça, Amor e Caridade, reconhece-se os discípulos por aqueles que amam, realizam obras no bem e aceitam a luta renovadora interior.

Jesus pediu para os discípulos João, Pedro e Tiago ficarem em vigilância e oração, ajudando-o naquele momento que precedia o Supremo Testemunho. Ou seja, o Mestre não convidou seguidores tímidos, e sim discípulos que sabiam das próprias obrigações. Porém, eles adormeceram, e Jesus vai até eles perguntar: Porque dormes?

Aquela oportunidade também era um ensinamento do Evangelho. Nenhuma ocasião passava em vão. Professor por excelência, Jesus utiliza a melhor estratégia de ensino e aprendizagem para plantar a semente do Evangelho. A pergunta porque dormes sobrevive aos séculos e chega até nós com toda sua profundidade.

Nesse contexto, o autor convida a reflexão para nós espíritas, que nos consideramos cristãos, discípulos de Cristo:

Em nossas vidas atravessamos épocas de estudos, aprendizado, preparação. São instantes em que o conhecimento da Doutrina se torna refrigério para nossas almas, abrindo novos horizontes e inspirando diferentes resoluções para o cominho da evolução. –- As perguntas de Jesus, cap. 5.

O preparo é quando nós vamos nos equipando com o guarda-chuva, a capa de chuva, a galocha… Para então enfrentarmos as tempestades de situações desafiadoras na vida. Todo processo de ensino e aprendizagem passa pela avaliação. A prova serve para avaliar a evolução dos pupilos.

E naquele momento de prova, de testemunhar a disciplina de Jesus, os discípulos dormem. E Lucas explica que estavam “adormecidos de tristeza”.

No Evangelho segundo Lucas comentado por Emmanuel, no capítulo 195, o benfeitor espiritual diz:

Jesus não justificou nem mesmo a inatividade oriunda do choque ante as grandes dores. –- O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Lucas, cap. CXCV.

A tristeza, a melancolia, o desânimo… Quantos de nós não estamos dormindo invigilantes nessa condição, ante os tempos difíceis?

É urgente examinar-se e realizar o esforço pessoal para se levantar do estado em que se encontra, permitindo-se plenificar pela luz que emana do Cristo.

Avancemos no processo educativo do Ser

Passamos por um momento de transição, do mundo de Provas e Expiações para o de Regeneração. Nessa situação, os que se comprazem na inércia da inobediência às Leis Divinas, irão mostrar uma forte resistência à mudança. Querem se manter nos interesses imediatos do materialismo, no preconceito e na revolta.

É preciso se educar!

O caminho da educação inicia com o ‘conhecer’, onde começamos a despertar para as realidades espirituais, porém ainda caracterizados por uma evolução na horizontalidade. Depois, passamos pelo processo de ‘conscientização’ no dia-a-dia, no qual o Ser sabe das suas responsabilidades e busca estar consciente (vigilante) perante seus pensamentos, palavras e ações. E, por fim, o verdadeiro despertar, que é colocar em prática o conhecimento, com a mudança para hábitos melhores. Essa etapa caracteriza a evolução na verticalidade, de quem levantou e despertou, iniciando as atitudes individuais no bem. Quem está desperto consegue ajudar quem está em sua volta. Assim, as atitudes individuais contagiam e passam a ser coletivas, ocorrendo o processo educativo coletivamente.

Pensemos sobre a evolução na horizontalidade e na verticalidade. Emmanuel, ao comentar o versículo “Desperta, ó tu que dormes!” da epístola de Paulo aos Efésios (5:14), nos esclarece:

Há muitos irmãos de olhos abertos, guardando, porém, a alma na posição horizontal da ociosidade. É preciso que os corações despertos se ergam para a vida e se levantem para trabalhar na sementeira e na seara do bem, a fim de que o Mestre os ilumine.
-– O Evangelho por Emmanuel: comentários às cartas de Paulo (grifo nosso).

Atrasando a iluminação íntima, muitos de nós nos mantemos nessa posição horizontal…

Tropeçando ainda em conveniências

Muitos nascem e renascem no corpo físico, transitando da infância para a velhice e do túmulo para o berço, à maneira de almas entorpecidas no egoísmo e na rebelião, na ociosidade ou na delinquência, a que irrefletidamente se acolhem.
-– Coragem, cap.32 (Vida e Morte).

Atualmente, temos um mundo de comodidades adquiridas a partir da tecnologia. O mau uso desse instrumento reflete nosso desenvolvimento intelectual acentuado e moral atrasado. Devido nossas intenções menos nobres, vivemos em meio a mil distrações nos atraindo para essa ociosidade e preguiça.

Mesmo nas atividades espíritas, podemos nos distrair e ficar ociosos. Externamente ocupados com um turbilhão de atividades, porém sem sentir o imo do coração verdadeiramente tocado para a transformação moral.

Isso ocorre principalmente quando fazemos tais atividades no automático. Os pensamentos estão em outra faixa vibracional que não no amor e na caridade. Isso atrapalha o trabalho no bem, íntimo e externo.

Novamente, a importância da vigilância, em estar frequentemente nos perguntando por quê e para quê estou fazendo isso? Qual meu objetivo com essa ação? Para estarmos mais conscientes no trabalho, que primeiro é interior.

E lembrar que esse cuidado deve se dar no cotidiano, na convivência com familiares e todos que nos rodeiam. Nos perguntemos se estamos dando a devida atenção para o que realmente importa, em termos de evolução espiritual.

Sobre os ditos cristãos, que ainda se encontram dormindo, presas ainda dos interesses mesquinhos e vaidades efêmeras, Emmanuel comenta:

Falam do Cristo, referem-se à sua imperecível exemplificação, como se fossem sonâmbulos, inconscientes do que dizem e do que fazem, para despertarem tão só no instante da morte corporal, em soluços tardios.
-– O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Lucas, cap. CXCV.

Neste mesmo capítulo, afirma:

Nos ensinos fundamentais de Jesus, é imperioso evitar as situações acomodatícias, em detrimento das atividades do bem.
-– O Evangelho por Emmanuel.

Levante-se!

Indispensável ao trabalhador decidido a fazer do Evangelho o seu código de conduta, desenvolver o hábito da prece a da atitude vigilante.
-– As perguntas de Jesus, cap. 5.

Então que possamos ter a vontade firme e a coragem suficiente de DESPERTAR para a AÇÃO NO BEM. De buscar a disciplina do “Orai e Vigiai”. Lembrando que a oração também pode ser entendida como a hora da ação no bem.

Se estivermos despertos, seremos capazes de perceber a dor alheia, os infortúnios ocultos, de compreender melhor o irmão e se colocar no lugar dele, de alertar os companheiros adormecidos e ajudá-los a se levantar.

Muitas vezes, nosso modo de viver é o único Evangelho que o próximo sabe ler. As palavras esclarecem, mas os exemplos transformam. Aquele que vive desperto convida os demais a assim viverem, pelo exemplo.

Despertos da condição de Espírito imortal e da responsabilidade de trabalhador do Cristo, que nossa vida possa ser exemplo do Evangelho!

O aprendiz figurará no mundo como sendo o campo de trabalho do Reino, onde se esforçará, operoso e vigilante. Compreendendo que Cristo prossegue em serviço redentor para o resgate total das criaturas.
-– O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Lucas, cap. CXCV.

Sabemos que depende de nossa escolha acordar e viver valorizando o tempo que o Senhor nos Deus nessa encarnação. Então utilizemos esse recurso precioso para auxiliar, amar e servir.

Levantemo-nos para as boas obras e o Senhor nos ajudará, para que possamos ajudar os outros!
O Evangelho por Emmanuel: comentários às cartas de Paulo.

Acompanhe na íntegra a palestra que inspirou essa publicação:

Referências:

MASCARENHAS, Felipe Truccolo. As Perguntas de Jesus. 1ª ed. – Porto Alegre: Fergs, 2021.

SILVA, Saulo C. R. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Lucas. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 2015.

SILVA, Saulo C. R. O Evangelho por Emmanuel: comentários às cartas de Paulo. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 2017.

XAVIER, Francisco Cândido. Coragem. Por Espíritos diversos. Capítulo 32 (Vida e Morte, por Emmanuel).

*Colaborou para esta publicação: Ana Maria Beims Lopes.

** Imagem em destaque: Jonathan Petersson via Pexels.

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