“Em qualquer posição de desequilíbrio, lembra-te de que a prece pode trazer-te sugestões divinas, ampliar-te a visão espiritual e proporcionar-te consolações abundantes; Todavia, para o Senhor não bastam as posições convencionais ou verbalistas”. – Vinha de Luz, Cap. 21, Oração e Renovação.23
Queridos irmãos, convidamos todos à leitura desse conteúdo, preparado com base na palestra do dia 18 de janeiro de 2021, oferecida pela Associação Espírita Fé e Caridade, cujo tema foi “Pedi e obtereis: a ação da prece”.
Ao falar da prece, precisamos entender primeiro o seu caráter geral, que é um ato de adoração a Deus, pois, através dela, elevamos nosso pensamento ao Pai. Ou seja, orar a Deus é pensar n’Ele; é aproximar nossa alma d’Ele; é pôr-se em comunicação com Ele (questões 649 e 659 de O Livro dos Espíritos1).
A prece agradável a Deus
Os amigos espirituais nos esclarecem na questão 658 de O Livro dos Espíritos que:
“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo. […] Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade […].” – O Livro dos Espíritos, Parte III, q. 658.1
Os Espíritos sempre disseram: a forma não é nada, o pensamento é tudo13. Sabemos então, que agrada a Deus a prece que vem do íntimo do nosso ser, cujo pensamento revela uma intenção do coração.
Devemos perceber que não é somente uma questão de agradar a Deus, mas de perceber que a “prece agradável” é aquela efetiva, que nos ajuda evoluir em nossa caminhada:
“Na essência, não é o Senhor quem necessita de nossas manifestações votivas, mas somos nós mesmos que devemos aproveitar a sublime possibilidade da repetição (da prece) […]”. – Vinha de Luz, Cap. 21, Oração e Renovação.23
Qualidades da prece
Jesus definiu claramente as qualidades da prece:
“Quando orardes, não vos coloqueis em evidência, mas orai secretamente; […] não é pela multiplicidade das palavras que sereis atendidos, mas pela sua sinceridade; antes de orar, se tendes algo contra alguém, perdoai-lhe; […] orai, enfim, com humilde […].” – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, item 4.3
A fala de Jesus sobre quando quisermos orar: “entrai no vosso quarto e estando fechada a porta, orai” (Mateus, capítulo VI), relaciona-se com estas colocações de Emmanuel:
“Quando orares, procura a câmara secreta da consciência e confia-te a Deus, como nosso Pai Celestial.” – Fonte Viva, Cap. 164, Diante de Deus.20
“O convite do Mestre, para que os discípulos procurem lugar à parte, a fim de repousarem a mente e o coração na prece, é cada vez mais oportuno.
Refugia-te no templo à parte, dentro de tua alma, porque somente aí encontrarás as verdadeiras noções da paz e da justiça, do amor e da felicidade reais, a que o Senhor te destinou.” – Fonte Viva, Cap. 147, Refugia-te em paz.18
O poder da prece está no pensamento; ela não se prende às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita.11
Ou seja, a prece é uma conversa íntima e sincera de aproximação com o nosso Pai.
Aquele que ora
A prece é recomendada a todos os Espíritos. Renunciar alguém à prece é negar a bondade de Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para com os outros, abrir mão do bem que lhes pode fazer.8
Kardec explica que:
“Acedendo ao pedido que se lhe faz, Deus muitas vezes objetiva recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Daí decorre que a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus e sempre mais eficácia, porquanto o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que somente nascem do sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, saem apenas palavras, mas não os impulsos da caridade, que dão à prece todo o seu poder.” – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, item 13.9
Mas mesmo aqueles que não se creem bons o bastante para exercer uma influência salutar, não devem se abster da prece. Deus leva em conta sua humildade (por crer-se inferior) e a intenção caridosa que o anima. E seu fervor e confiança em Deus são o primeiro passo para o retorno ao bem.9
Assunto da prece
A questão 659 de O Livro dos Espíritos nos mostra “as três coisas que podemos nos propor por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.” 1
- Louvar: é demonstrar a nossa admiração ao Pai; é reconhecer a importância d’Ele nas nossas vidas; é a nossa humildade perante a Deus; também é bendizer seus atributos, como sua soberana Justiça e Bondade, ou sua Perfeição, ideia que temos ao observar a Criação Divina.
- Agradecer: é reconhecer as bênçãos e benefícios recebidos; oferecer graças a tudo que nos chega que é necessário à nossa evolução espiritual. Podemos agradecer, por exemplo, pela vida que Deus nos deu, pelas oportunidades de aprendizado e reajuste, pelo trabalho e lutas redentores. Há muito o que agradecer, pois as dádivas são infinitas, basta regular o ponto de vista.
- Pedir: é solicitar ou mesmo suplicar por aquilo que há necessidade (seja de ordem moral, espiritual ou material), lembrando que Deus sabe antes o que nós precisamos. Nós podemos pedir por nós mesmos ou pelos outros, sejam esses outros encarnados ou desencarnados.
Transmissão do pensamento
O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, seja quando o ser chamado vem ao nosso apelo, seja quando nosso pensamento o alcança.6
As preces feitas a Deus são ouvidas pelos Espíritos incumbidos da execução de suas Vontades. Já quando oramos a bons Espíritos, nossas preces são ouvidas e serão reportadas a Deus. Esses outros seres, que não a Deus, estão na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada ocorre sem a Vontade de Deus.5
Para nos inteirarmos do que ocorre na transmissão do pensamento, antes é necessário compreender que todos os seres, encarnados ou desencarnados, encontram-se mergulhados no fluido cósmico universal. Mas…
O que é o fluido cósmico universal?
“…é a matéria elementar primitiva. […] Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele.
Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao primeiro pertencem os do mundo invisível e ao segundo os do mundo visível.” – A Gênese, Cap. XIV, item 2.14
Então, esse fluido universal ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, assim como nós estamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Tal fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito.6
Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção.15
Como esses fluidos são o meio condutor, o pensamento pode lhes modificar as propriedades. Dessa forma, é evidente que os fluidos devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos.16
Para ocorrer a conexão mental entre os seres pensantes, Kardec elucida que:
“Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente fluídica possuirá a mesma proporção do vigor do pensamento e da vontade que lhe dá origem.” – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, item 10.6
Percebemos, desse modo, que a vontade é muito importante para que ação da prece seja efetiva. Quanto maior é a vontade e mais puro e elevado é o pensamento, maior será a energia dessa corrente fluídica e ela terá maior alcance.
É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações. 6
No livro Entre a Terra e o Céu 21, há diversas explicações acerca da prece, fornecidas pelo Ministro Clarêncio, um dos ministros da cidade espiritual de Nosso Lar, como vemos no capítulo 1:
“— Todo desejo é manancial de poder. A planta que se eleva para o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida, é um ser que ansiou por multiplicar-se…
— Em nome de Deus, as criaturas, tanto quanto possível, atendem às criaturas. Assim como possuímos em eletricidade os transformadores de energia para o adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em todos os domínios do Universo, os transformadores da bênção, do socorro, do esclarecimento…
— A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina.
— Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de frequência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras.” – Entre a Terra e o Céu, Cap. 1, Em torno da prece.21
Como vimos, a prece é ação. Por isso dizemos que “Oração é a hora da ação”. Essa ação é captada por antenas receptoras de seres que sintonizam com a nossa prece.
Ação da prece e o livre arbítrio
Na questão 660 de O livro dos Espíritos, Kardec questiona se A prece torna melhor o homem? E tem como resposta:
“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia Espíritos bons para assisti-lo. É este um auxílio que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.” 1
Pela prece, os bons Espíritos nos sustentam em nossas boas resoluções e nos inspiram idéias sãs. Adquirimos, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, caso deste nos afastamos.7
Atraindo a inspiração salutar dos bons Espíritos, pode-se pedir deles a força para resistir aos maus pensamentos, cuja realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos de nós o mau pensamento que nos pode causar dano.8
Deus permite que os Espíritos nos sugiram caminhos, mas eles não irão fazer o trabalho de iluminação espiritual por nós, caso contrário, perderíamos a responsabilidade dos nossos atos e o mérito da escolha entre o bem e o mal. Temos que aprender a exercer o livre-arbítrio para o bem e o amor ao próximo.
O homem se acha, então, na posição daquele que solicita bons conselhos e os põe em prática, mas conservando a liberdade de segui-los, ou não.8
Pedi e obtereis
Agora fica mais claro que seria ilógico concluir desta máxima: “o que quer que seja que pedirdes pela prece vos será concedido”, que basta pedir para se obter. E seria injusto acusar a Providência por não ceder a todo pedido que Lhe é feito, pois Deus sabe, melhor do que nós, o que é para o nosso bem. Tal ocorre da mesma forma que um pai sábio recusa ao filho coisas que podem prejudicá-lo e são do seu interesse.4
Com isso, Emmanuel nos diz que, ao pedir, se faz essencial:
“Não nos esquecermos de que a nossa capacidade visual abrange, mais ou menos, unicamente o curto espaço dos sessenta segundos de um minuto, enquanto que o Senhor, que nos acompanhou as numerosas existências passadas – […] temporariamente esquecidas –, nos conhece o montante das necessidades de hoje e de amanhã.
A Providência Divina possui os recursos e caminhos que lhe são próprios para alcançar-nos.
Oraremos, sim; no entanto, é imperioso, em matéria de pedir, rogar isso ou aquilo ao Senhor sempre de acordo com a Sua Vontade, porque a Vontade do Senhor inclui, invariavelmente, a harmonia e a felicidade de nossa vida.” – Ceifa de Luz, Cap. 44, Oraremos.17
O que Deus irá nos conceder sempre, se pedirmos com confiança, é a coragem, a paciência, e a resignação. Também irá conceder-nos os meios de nos tirarmos por si próprios das dificuldades, mediante idéias que os bons Espíritos farão surgir, deixando-nos, dessa forma, o mérito da ação. Deus assiste os que se ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”. 4
Reflexões sobre a prece
Vimos a importância desse recurso disponível para nosso auxílio. Porém, será que fazemos o uso desse recurso? E para além disso, será que fazemos bom uso dele?
Já sabemos que a ação da prece ocorre pela transmissão do pensamento e que o mesmo se propaga através do fluido cósmico universal. Mas qual é qualidade desse fluido que estamos ajudando a construir com a ação do nosso pensamento?
Qual é o nosso papel na contribuição para formação dos fluidos espirituais do nosso Planeta Terra? E quais são os pensamentos que alimentamos neste momento delicado de pandemia? Isso auxilia nós como Humanidade?
Bem, essas são perguntas que cabe a cada um de nós responder para si.
Prece e prática
“A oração refrigera, alivia, exalta, esclarece, eleva, mas, sobretudo, afeiçoa o coração ao serviço divino. Não olvidemos, porém, de que os atos íntimos e profundos da fé são necessários e úteis a nós próprios.” – Vinha de Luz, Cap. 21, Oração e Renovação.23
A prece é uma ferramenta indispensável. Ter compromisso com ela é ter compromisso com a nossa evolução, é cooperar com nossos irmãos. Que possamos utilizar desse instrumento todos os dias, com qualidade.
No Evangelho segundo o Espiritismo, temos que: A prece do dia é o cumprimento dos nossos deveres.12 E o dever é a obrigação moral, inicialmente diante de si e em seguida diante dos outros.2
Como exemplo disso, o Padre Damiano (uma das encarnações de Emmanuel) nos diz sobre seu hábito da prece, no livro Renúncia:
“Na vigília (pela manhã), estabeleço propósitos redentores; e no exame da noite julgo-me a mim mesmo, para verificar onde se cristalizaram minhas maiores fraquezas, a fim de emendá-las no dia imediato. O mundo, a meus olhos, é uma vasta oficina, onde poderemos consertar muita coisa, mas reconhecendo que os primeiros reparos são intrínsecos a nós mesmos.” – Renúncia, Cap. 6, Novos Rumos.22
Lembre-te pois, que o culto à prece é marcha decisiva. A oração renovar-te-á para a obra do Senhor, dia a dia, sem que tu mesmo possas perceber.19
Agora que sabemos desses preciosos ensinamentos à luz da Doutrina Espírita, fica o convite: vamos orar?
Ainda são abordados os seguintes itens na palestra:
- Confira a prece inicial da doutrinária, de autoria de Eurípedes Barsanulfo;
- Exemplo no Templo do Socorro de Nosso Lar, no livro Entre a Terra e o Céu;
- Exemplo de “Ajuda-te e o Céu te ajudará”: Tobias perdido no deserto;
- Eficácia da prece;
- Os males causados por nós mesmos;
- Prece de um pai para um filho, presente no livro Entre a Terra e o Céu.
Confira no vídeo abaixo a íntegra da palestra:
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. Brasília: FEB, 2013. Parte Terceira.
2. Id. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap.17 (Sede perfeitos), item 7.
3. Id. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap.27 (Pedi e Obtereis), item 4.
4. Id. Ibid., item 7.
5. Id. Ibid., item 9.
6. Id. Ibid., item 10.
7. Id. Ibid., item 11.
8. Id. Ibid., item 12.
9. Id. Ibid., item 13.
10. Id. Ibid., item 14.
11. Id. Ibid., item 15.
12. Id. Ibid., item 22.
13. Id. Ibid., Cap. 28, item 1.
14. Id. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 14 (Os fluidos), item 2.
15. Id. Ibid., item 14.
16. Id. Ibid., item 16.
17. XAVIER, Francisco Cândido. Ceifa de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2019. Cap. 44, (Oraremos), p. 48.
18. Id. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 16. imp. Brasília: FEB, 2020. Cap. 147 (Refugia-te em paz), p.162.
19. Id. Ibid. Cap. 149 (No culto à prece), p.166.
20. Id. Ibid. Cap. 164 (Diante de Deus), p.182.
21. Id. Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. 27. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2020. Cap. 1 (Em torno da prece), p. 5-6.
22. Id. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. 36. Ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2019. Cap. 6 (Novos Rumos). p.157.
23. Id. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 15. imp. Brasília: FEB, 2020. Cap. 21 (Oração e Renovação), p. 31.
Sugestões de leitura:
- Livro Fonte Viva (capítulos: 69. Firmeza e constância, 93. Altar íntimo, 147. Refugia-te em paz e 149. No culto à prece).
- Livro Vinha de Luz (capítulo 98. A prece recompõe).
- Livro Ceifa de Luz (capítulo 56. Temas da prece).
- Livro Pão Nosso (capítulos 45. Quando orardes e 108. Oração).
*Colaborou para esta publicação: Ana Maria Beims Lopes.