Os mensageiros: a prece de Ismália

O trabalho da prece é mais importante do que se imagina. A oração, filha do amor, é comunhão entre o Criador e criatura, é poderoso influxo magnético.

Em palestra transmitida pelos canais digitais da AEFC, a expositora Ilani Nunes trouxe reflexões acerca de uma passagem do livro Os Mensageiros. Este é o 2º livro da coleção A vida no mundo espiritual, de Francisco Cândido Xavier pelo Espírito André Luiz. O tema abordado está contido no capítulo 24, chamado “A prece de Ismália”.

Um breve contexto

André Luiz e Vicente são espíritos desencarnados, que habitam a colônia espiritual Nosso Lar. Ambos, na última encarnação, foram médicos e buscam trabalhar e aprender com o instrutor Aniceto, no Ministério da Comunicação.

Para preparar os colaboradores, Aniceto organiza uma expedição com os dois para as esferas da crosta terrestre. O local era no Posto de Socorro de Campo da Paz, coordenado por Alfredo, que há muito tempo, por sua vez, foi recolhido como necessitado neste mesmo posto. Ismália era sua esposa espiritual, um Espírito mais avançado na escala evolutiva que todos ali presentes. 

Como a lei de Deus é de Amor, de Fraternidade universal, Ismália auxiliava Alfredo, incentivando-o no caminho reto. Ela visitava mensalmente o Posto de Socorro, inspirava os trabalhadores e fazia uma prece em benefício das pessoas que estavam internadas naquela instituição. Eles abrigavam 1980 espíritos adormecidos há anos ou séculos, contando com apenas 8 espíritos para cuidar dos mesmos.

A prece de Ismália era acompanhada por todos, palavra por palavra. De extrema beleza e sentimento cristão, clamava por misericórdia àqueles irmãos. E o magnetismo e vibração eram capazes de acordar alguns espíritos sofredores do sono profundo.

Reflexões sobre a prece de Ismália

  • Quais atitudes precisamos ter para que realmente tenha efeito a nossa prece?
  • E como proceder para que, ainda na vida material, possamos perceber as nossa dificuldades íntimas? 

Tratando-nos de tal forma que, ao chegarmos na vida espíritual, não estejamos nas mesmas situações dos que observamos no livro Os Mensageiros, que nos traz informações para o nosso aprendizado e auxílio! Sendo assim, observemos:

  • Como nós estamos procedendo diante das situações apresentadas em nossa vidas no sentido moral e espiritual?
  • Que atitudes estamos tomando para fortalecer a nossa em Deus? A confiança em nós mesmos? A compreensão do ambiente em que vivemos?
  • O que estamos fazendo para nos fortelecer intimamente? E outras perguntas possíveis neste sentido?

Estas perguntas e estas observações são para começarmos a refletir sobre a seriedade da vida e o nosso envolvimento com ela! 

Recorrendo ao relato de André Luiz, importante para o nosso aprendizado, vamos entender que a maioria dos espíritos adormecidos não acreditava na vida eterna e aguardava o dia do juízo final. Por isso, se encontravam nessa postura de sono profundo. Qual observação que podemos fazer?

Eles estavam desencarnados. E quanto os encarnados estão nas mesmas condições? Dormindo para as realidades espirituais e os deveres morais.

Diante disto, há necessidade de orarmos uns pelos outros, para melhorar a condição das pessoas para voltar ao mundo espiritual.

Este tema é para alertar, porque muito se fala, mas precisamos raciocinar fortalecer nossa fé em Deus, confiar em Jesus, orar muito e trabalhar com afinco para nossa melhoria moral e espiritual!

[…] o trabalho da prece é mais importante do que se pode imaginar no círculo dos encarnados. Não há prece sem resposta. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica. É comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo magnético que conhecemos.
— (fala de Aniceto) Os Mensageiros, capítulo 25.

A prece de Ismália

A seguir, venha se emocionar também com a prece de Ismália (grifada em negrito), lendo o capítulo 24 do livro:

Dentro de poucos instantes, reuníamo-nos, de novo, ao grupo. (André, Vicente, Aniceto e Alfredo)
O administrador fez um sinal luminoso, em forma triangular, e observei que todos os cooperadores se puseram de pé, em atitude respeitosa.
— É o momento da oração, no Posto de Socorro, — disse Alfredo, gentil, como a prestar-nos esclarecimentos precisos.
O Sol desaparecera no firmamento, mas toda a cúpula celeste refletia-lhe o disco de ouro. Os tons crepusculares encheram as vizinhanças de maravilhosos efeitos de luz, muito visíveis agora ao nosso olhar, porque Alfredo, sem que eu pudesse conhecer o motivo, mandara apagar todas as luzes artificiais, antes da oração.
No centro dos pavilhões, a sombra se fizera, desse modo, muito intensa, mas o novo aspecto do firmamento, banhado em tonalidades sublimes, dava-nos a impressão da permanência em prodigioso palácio, em virtude do imenso teto azul iluminado a distância.
Fundamente impressionado, procurei convizinhar-me mais do pequeno grupo de companheiros.
Do quadro de colaboradores do castelo, apenas algumas senhoras permaneciam junto de nós, como se estivessem fazendo honrosa companhia à nobre Ismália. Os demais, homens e mulheres, mantinham-se nos lugares de serviço que lhes competiam, não longe das criaturas mumificadas.
Notei que, embora instado, Aniceto esquivou-se à chefia espiritual da oração, alegando que, por direito, essa posição cabia à devotada esposa de Alfredo.
Ismália, então, num gesto de indefinível delicadeza, começou a orar, acompanhada por todos nós, em silêncio, salientando-se, porém, que lhe seguíamos a rogativa, frase por frase, atendendo a recomendações do nosso orientador, que aconselhou repetir, em pensamento, cada expressão, a fim de imprimir o máximo ritmo e harmonia ao verbo, ao som e à ideia, numa só vibração.

— Senhor! — Começou Ismália, comovidamente, — dignai-vos assistir os nossos humildes tutelados, enviando-nos a luz de vossas bênçãos santificantes. Aqui estamos, prontos para executar vossa vontade, sinceramente dispostos a secundar vossos altos desígnios. Conosco, Pai, reúnem-se os irmãos que ainda dormem, anestesiados pela negação espiritual a que se entregaram no mundo. Despertai-os, Senhor, se é de vossos desígnios sábios e misericordiosos, despertai-os do sono doloroso e infeliz. Acordai-os para a responsabilidade, para a noção dos deveres justos!… Magnânimo Rei, apiedai-vos de vossos súditos sofredores; Criador compassivo, levantai as vossas criaturas caídas; Pai Justo, desculpai vossos filhos desventurados! Permiti caia o orvalho do vosso amor infinito sobre o nosso modesto Posto de Socorro!… Seja feita a vossa vontade acima da nossa, mas se é possível, Senhor, deixai que os nossos doentes recebam um raio vivificante do sol de vossa bondade!… [Essa prece continua logo abaixo.]

A voz de Ismália penetrava-me o recesso do coração.

Observando-a, por um momento, reparei que a esposa de Alfredo se transfigurara. Luzes diamantinas irradiavam de todo o seu corpo, em particular do tórax, cujo âmago parecia conter misteriosa lâmpada acesa.

imagem ilustrativa (AI generated)

Em vista do ligeiro estacato que imprimira à oração, observei a nós outros, verificando que o mesmo fenômeno se dava conosco, embora menos intensamente. Cada qual parecia, ali, apresentar uma expressão luminosa, gradativa.

As senhoras que acompanhavam Ismália estavam quase semelhantes a ela, como se trajassem soberbos costumes radiosos, em que predominava a cor azul. Depois delas, em brilho, vinha a luz de Aniceto, de um lilás surpreendente.

Em seguida, tínhamos Alfredo, cuja luz era de um verde suave e sugestivo, sem grande esplendor.

Depois dele, vinham alguns servidores ostentando na fronte claridades sublimes, expressas em variadas cores, e, logo após, Vicente e eu, mostrávamos fraca luminosidade, a qual, porém, nos enchia de júbilo intenso, considerando que a maioria dos cooperadores em serviço apresentava o corpo obscuro, como acontece na Esfera carnal.

Com voz pausada e comovedora, Ismália prosseguiu:

Temos, ao nosso lado, Senhor, infortunadas mães que não souberam descobrir o sentido sublime da fé, resvalando, imprudentemente, nos despenhadeiros da indiferença criminosa; pais que não conseguiram ultrapassar a materialidade no curso da existência humana, incapazes de ver a formosa missão que lhes confiastes; cônjuges desventurados pela incompreensão de vossas leis augustas e generosas; jovens que se entregaram, de corpo e alma, aos alvitres da ilusão!…
Muitos deles, atolaram-se no pantanal do crime, agravando débitos dolorosos!
Agora dormem, Pai, à espera de vossos desígnios santos. Sabemos, contudo, Senhor, que este sono não traduz repouso do pensamento… Quase todos os nossos asilados são vítimas de terríveis pesadelos, por terem olvidado, no mundo material, os vossos mandamentos de amor e sabedoria.

Sob a imobilidade aparente, movimenta-se-lhes o Espírito, entre aflições angustiosas que, por vezes, não podemos sondar. São eles, Pai, vossos filhos transviados e nossos companheiros de luta, necessitados de vossa mão paternal para o caminho!

Quase todos se desviaram da senda reta, pelas sugestões da ignorância que, como aranha gigantesca dos Círculos carnais, tece os fios da miséria, enredando destinos e corações!

Deprecando vossa misericórdia para eles, rogamos, igualmente para nós, a verdadeira noção da fraternidade universal!
Ensinai-nos a transpor as fronteiras de separação para que vejamos em cada infeliz o irmão necessitado do nosso entendimento!

Ajudai-nos a compreensão, a fim de que venhamos a perder todo impulso de acusação nas estradas da vida! Ensinai-nos a amar como Jesus nos amou!

Também nós, Senhor, que aqui vos rogamos, fomos leprosos espirituais, cegos do entendimento, paralíticos da vontade, filhos pródigos do vosso amor!… Também nós já dormimos, em tempos idos, nos Postos de Socorro da vossa misericórdia!…

Somos simples devedores, ansiosos de resgatar imensos débitos! Sabemos que vossa bondade nunca falha e esperamos confiantes a bênção de vida e luz!…

Fizera Ismália nova pausa, agora mais longa. Enxuguei os olhos umedecidos de pranto. Suave calor, todavia, apossava-se-me da alma. E tão intensa era essa nova sensação de conforto, que interrompi a concentração em mim mesmo, a fim de olhar em torno.

Fixando instintivamente o alto, enxerguei, maravilhado, grande quantidade de flocos esbranquiçados, de tamanhos variadíssimos, a caírem copiosamente sobre nós que orávamos, exceto sobre os que dormiam.
Tive a impressão de que eram derramados do céu sobre nossa fronte, caindo com a mesma abundância sobre todos, desde Ismália ao último dos servidores.

Não cabia em mim de admiração, quando novo fenômeno me surpreendeu. Os flocos leves desapareciam ao tocar-nos, começando, porém, a sair de nossa fronte e do peito grandes bolhas luminosas, com a coloração da claridade de que estávamos revestidos, elevando-se no ar e atingindo as múmias numerosas.

Ainda aí, reparava o problema da gradação espiritual.

As luzes emitidas por Ismália eram mais brilhantes, intensas e rápidas, alcançando muitos enfermos de uma só vez.
Em seguida, vinham as fornecidas pelas senhoras do seu círculo pessoal.
Depois, tínhamos as de Aniceto, de Alfredo e dos demais. Os servos de corpo obscuro emitiam vibrações fracas, mas visivelmente luminosas. Cada qual, naquele instante de contato com o Plano superior, revelava o valor próprio na cooperação que podia prestar.

Observando-me o assombro, Aniceto falou-me aos ouvidos:

— Na prece encontramos a produção avançada de elementos-força. Eles chegam da Providência em quantidade igual para todos os que se deem ao trabalho divino da intercessão, mas cada Espírito tem uma capacidade diferente para receber.

Essa capacidade é a conquista individual para o mais alto. E como Deus socorre o homem pelo homem e atende a alma pela alma, cada um de nós somente poderá auxiliar os semelhantes e colaborar com o Senhor, com as qualidades de elevação já conquistadas na vida.
— O Mensageiros, capítulo 24.

A prece de Cerinto

Enquanto a prece de Ismália intercede pelas criaturas com aparência imóvel, na prece de Cerinto, a alma em movimento se apresentando, pedindo misericórdia para os que fazem mal. Ou seja, já trabalhando as suas imperfeições, um exemplo muito importante para complementar nosso tema:

Quantos venham a ler a mensagem constante deste capítulo, decerto nem de longe experimentarão a surpresa de nosso grupo, em cuja intimidade Cerinto, é o amigo espiritual que no-la transmitiu, caminhou, pouco a pouco, da sombra para a luz.

A princípio, era um Espírito atrabiliário e revoltado chegando mesmo a orientar vastas falanges de irmãos conturbados e infelizes, ainda enquistados na ignorância.
Discutia acerbamente. Criticava. Blasfemava.
De nossos entendimentos difíceis, manda a caridade nos detenhamos no silêncio preciso.

Surgiu porém o dia em que a influência de nossos Benfeitores Espirituais se revelou plenamente vitoriosa.
Cerinto modificou-se e transferiu-se de Plano mental, marchando agora ao nosso lado, sedento de renovação e luz como nós mesmos.
Foi por isso com imensa alegria que lhe registramos a comovente rogativa, por ele pronunciada em nossa reunião da noite de 24 de novembro de 1955.

“Senhor de Infinita Bondade.

No santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não te peço por mim, Espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de tua Excelsa Justiça.

A tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral e isso basta ao revel pecador que tenho sido.

Não te peço, Senhor, pelos que choram.
Clamo por teu amor, a benefício dos que fazem as lágrimas.

Não te venho pedir pelos que padecem.
Suplico-te a bênção para todos aqueles que provocam o sofrimento.

Não te lembro os fracos da Terra.
Recordo-te quantos se julgam poderosos e vencedores.

Não intercedo pelos que soluçam de fome.
Rogo-te amor para os que furtam o pão.

Senhor Todo-Bondoso!… Não te trago os que sangram de angústia.
Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.

Não te peço pelos que sofrem injustiças.
Rogo-te pelos empreiteiros do crime.

Não te apresento os desprotegidos da sorte.
Sugiro teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria

Não te imploro mercê para as almas traídas.
Exoro-te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão.

Pai compassivo!…
Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas…
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à tentação.
Paralisa os braços que apedrejam.
Detém os passos daqueles que distribuem a morte…
Ajuda-nos a todos nós, os filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiraram, desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal!…”
— Cerinto

Nosso objetivo e trazer um traço de lembrança que precisamos melhorar nossa forma de tratar nossa questão espiritual!

E para encerrar esta observação, trazemos a prece do Espírito Antero de Quental, do Livro Estrelas no chão, de Chico Xavier por espíritos diversos:

A prece

Sob o guante da treva, o Homem gemia:
— Senhor, a carne é a minha sepultura!
Por que a jornada tormentosa e escura
Em que sofro o rigor da ventania?

Padeço, errante, a imensa noite fria
De aflição, desconforto e desventura…
Alivia-me as chagas de amargura,
Socorrendo-me a senda de agonia!…

Respondeu-lhe o Senhor — Espera e ama!
Receberás do Céu Sublime Chama
Para a angústia revel que te domina!

E deu-lhe a Prece por brilhante estrela.
Desde então, o Homem, forte e calmo, ao tê-la,
Seguiu da sombra para a Luz Divina.

— livro Estrelas no chão, capítulo A prece.

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Acompanhe também o áudio da palestra:

*Colaborou para esta publicação: Ilani Nunes.
** Imagem em destaque: via Pixabay.com.

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