Os Infortúnios Ocultos

Prestar auxílio aos infortúnios ocultos que acontecem ao nosso redor é seguir os passos que nosso Mestre Jesus nos ensinou, fazer o bem de forma fraterna.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capitulo 13, item 4, nos coloca diante dos infortúnios que assolam a humanidade. É o caso daquelas tragédias da natureza que atingem grande número de pessoas, os acontecimentos infelizes de grande repercussão e epidemias como a que a humanidade enfrenta neste momento.

Diante dessas calamidades, o homem se mostra solidário em sociedade, fazendo parte da nossa evolução. Mas, ao lado dos infortúnios que atingem determinado grupo de pessoas, existem aqueles discretos e ocultos. Com base na palestra Infortúnios Ocultos, transmitida pelos canais digitiais da Associação Espírita Fé e Caridade, em 18 de março de 2021, esta publicação traz uma reflexão a respeito deste tema.

Os Infortúnios Ocultos

Em nossa caminhada de aprendiz! como são felizes aqueles que nessas terríveis provações foram tocados pela fé espírita sincera! Permanecem calmos no meio da tormenta, como o marinheiro aguerrido em meio à tempestade. Eu, neste momento personalidade espiritual, muitas vezes sou acusado de brutalidade, de dureza e de insensibilidade pelas personalidades terrestres!… É verdade, contemplo com calma todos esses flagelos destruidores, todos esses terríveis sofrimentos físicos…. Mas se o posso fazer, é que minha visão espiritual vai além desses sofrimentos e, antecipando-se ao futuro, ela se apoia no bem-estar geral que será a consequência desses males passageiros para a geração futura, para vós mesmos, que fareis parte dessa geração e que, então, recolhereis os frutos que tiverdes semeado. — Comunicação mediúnica publicada na Revista Espírita em julho de 1867.

Allan Kardec descreve os sofrimentos que passam despercebido, nos lares sem queixas, sem coragem de sair pedindo ajuda, ou que estão impedidos de fazê-lo.

São esses infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham pedir assistência. — Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 11, item 4.

São as dores pessoais que acometem o irmão próximo a ti, seu vizinho, parentes, conhecidos e colegas de trabalho. Talvez até percebas a dor alheia, mas que de certa forma, pensas em não se envolver, pelo simples pensamento: “isso não é problema meu…”.

Aí reside a mudança, pois prestar auxílio a estas dores ocultas que acontecem a todo instante ao nosso redor é seguir os passos que nosso Mestre Jesus nos ensinou, fazer o bem de forma fraterna.

A verdadeira generosidade se faz presente através da caridade, que é o verdadeiro caminho a seguir.

A verdadeira caridade

Conforme questão 886 do Livro dos Espíritos:

Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.

Muitos se perguntam: como poderei ajudar um irmão se eu me encontro desprovido de bens materiais?

A verdadeira caridade vai além da ajuda material. Muitas vezes uma palavra de consolo, um olhar no olho do irmão que te aborda na correria do dia a dia, é simplesmente o que uma pessoa precisa para ficar bem.

A caridade está ao alcance de todos, do rico, do pobre, independe de qualquer crença particular. A sua importância se evidencia quando lembrado o tema proposto por Kardec:

“Fora da caridade não há salvação.”

Nenhum espírito atingirá o estado de Espírito Puro ou estado de salvação sem a prática da Caridade.

(…) palavra caridade, vós o sabeis, Senhores, tem uma acepção muito extensa. Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; ela não é tão somente a esmola. O homem é caridoso em pensa­mentos sendo indulgente para com as faltas do pró­ximo. A caridade em forma de palavra nada diz que possa prejudicar seu próximo. A caridade em ações assiste seu próximo na medida de suas for­ças… — Viagem Espírita, em 1862. Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux » Discurso III.

Vale trazer outro trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, através do qual podemos ter mais uma dimensão do que vem a ser a caridade:

Amar o próximo como a sí mesmo: fazer pelos outros que que quereríamos que os outros fizessem por nós. É a expressão máxima da Caridade porque resume todos os deveres para com o próximo. — O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 11.

Ser caridoso, fazendo o bem da forma mais desinteressada possível é, sem dúvida, uma virtude de mérito. Conforme a questão 893 do Livro dos Espíritos:

Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– É aquela que está fundada sobre a mais desinteressada caridade.

O exemplo de Simão, o cireneu

Para nossa reflexão, há um exemplo que vem dos tempos em que Jesus estava encarnado entre nós. Simão, o cireneu, é o testemunho da solidariedade que o mundo nos solicita até hoje. Conta o evangelista Lucas:

E, quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus. — Lucas, 23:26.

A partir da obra Quando Voltar a Primavera, de Amélia Rodrigues, a revista Consolador publicou um artigo que traz mais informações e uma interpretação da passagem bíblica.

Jesus estava fisicamente fragilizado, por conta da noite de vigília demorada e as agressões que sofrera, e carregava uma cruz de quase setenta quilos, vindo a cambalear.
Simão, que já conhecia Jesus e admirava-o a distância, comove-se com seu sofrimento, vindo a ser escolhido pelo soldado para ajudá-lo com a cruz. — Alessandro Viana Vieira de Paula, na Revista Consolador de Abril de 2015.

O autor do artigo, Alessandro VIana Vieira de Paula, reflete a partir de outros textos de Emmanuel e Joanna de Ângelis que todos nós, cada um a seu turno, teremos a oportunidade de agir como Simão, o cereneu.

Essa experiência faz parte do processo evolutivo, pois, através da lei abençoada da reencarnação, o amor autêntico e espontâneo, um dia, será patrimônio de todos.
O importante é promover o “bom combate”, conforme nos ensina Paulo de Tarso, para que possamos vencer o egoísmo e a indiferença, permitindo-nos o envolvimento pessoal com a dor alheia, até o momento da nossa adesão completa aos preceitos luminosos do Cristo, quando passaremos a socorrer sem questionar ou esperar gratidão, porque entenderemos que o amor é o sentimento por excelência a nos conectar com o Pai Celestial e a nos gerar uma imensa alegria de viver. — Alessandro Viana Vieira de Paula, na Revista Consolador de Abril de 2015.

Acompanhe abaixo a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências:

1. Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, IDE, 349,edição 2008.

2. Revista Espírita, Comunicação mediúnica, julho de 1867.

3. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, IDE, 178 edição, 2008.

* Colaborou com esta publicação: Magda do Carmo Gonçalves.

** Imagem em detaque de Puwadon Sang-ngern do Pexels.

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