No dia 2 de outubro de 2024, em mais um episódio de Conversando sobre o Espiritismo, série que traz reflexões sobre os ensinamentos do evangelho e da Doutrina Espírita, a expositora Julia Fertig abordou um tema que toca o íntimo de cada um de nós: a passagem de Jesus na casa de Zaqueu.
Este episódio do Evangelho nos traz lições profundas sobre autoconhecimento, amor ao próximo e, principalmente, sobre a importância de desenvolvermos a capacidade de amar a nós mesmos.
Trindade: Amar a Deus, ao Próximo e a Si Mesmo
No cerne do Espiritismo, somos constantemente lembrados da importância de amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos. Muitos de nós focamos no amor a Deus e ao próximo, mas esquecemos que o amor próprio é essencial. Afinal, como podemos verdadeiramente amar os outros se não nutrimos esse sentimento por nós mesmos?
Mas o convite não é para aquele amor egoísta que nos faz enxergar apenas as nossas necessidades e desafios. É um convite para nos amarmos assim como Jesus nos ama. “Como a si mesmo” é a base de tudo. Se não conseguimos amar a nós mesmos, não estaremos preparados para amar plenamente ao próximo.
O Que Nos Impede de Nos Amarmos?
Muitas vezes, somos incapazes de perceber os potenciais que existem dentro de nós. Ficamos cegos diante de nossas capacidades, presos em um ciclo de críticas e derrotas. Contudo, Jesus nos disse: “Vós sois a luz do mundo”. Essa afirmação não foi política, nem uma tentativa de agradar. Foi uma verdade que ainda temos dificuldade em enxergar.
Para muitos, ser “a luz do mundo” parece uma meta inalcançável, pois acreditamos que devemos ser perfeitos para sermos a luz do mundo. Estamos tão acostumados a viver na sombra das derrotas que, quando algo bom acontece, rapidamente nos perguntamos: “O que vai dar errado em seguida?”. É uma questão de comodidade, de nos apegar às falhas e não reconhecer nossas vitórias e potencialidades.
Exemplos de Transformação: Jesus e Três Personagens do Boa Nova
Na trajetória de Jesus, ele encontrou diversas figuras que, à primeira vista, poderiam ser vistas como pecadores sem esperança. No entanto, Jesus enxergou além das falhas, focando nas possibilidades de redenção e crescimento espiritual.
1. A Mulher Adúltera
Carregando uma dor profunda e sendo julgada por seus erros, essa mulher encontrou em Jesus a redenção. Ele não a acusou, apenas pediu que seguisse em frente e não mais pecasse. Ele via nela o potencial de transformação.
Erguendo-se Jesus e não vendo ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: mulher, onde estão teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela, ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus, nem Eu tampouco te condeno; vá e não peques mais.
— João 8:3.
2. Zaqueu, o Cobrador de Impostos
Zaqueu sabia que era traidor do seu próprio povo, ao viver a vida coletando impostos do seu povo para distribuir para Roma. Mas mesmo assim quis conhecer Jesus. Para que fosse notado, subiu em uma árvore, e foi surpreendido quando o Mestre decidiu almoçar em sua casa. Mais uma vez, Jesus não focou em seus defeitos, mas sim na possibilidade de mudança que Zaqueu estava demonstrando.
Zaqueu representa a soma de dificuldades que os arrependidos trazem no coração. Sintonizados, entretanto, com o Evangelho de Jesus, reconhecem que é possível vencer os desvios de caráter e corrigir os erros cometidos.
— apostila Ensinos e Parábolas de Jesus, tomo II, Módulo V — Aprendendo com fatos cotidianos (FEB).
3. Saulo de Tarso
Antes de se tornar o apóstolo Paulo, Saulo perseguiu e matou cristãos. Apesar de seus atos cruéis, Jesus enxergou nele a luz do mundo. Mesmo após um passado de orgulho e violência, Jesus o buscou para transformar sua vida em um exemplo de redenção.
Foi quando notou que Jesus se aproximava e, contemplando-o carinhosamente, o Mestre tocou-lhe os ombros com ternura, dizendo com inflexão paternal:
– Não recalcitres contra os aguilhões! […] Levanta-te, Saulo! Entra na cidade e lá te será dito o que te convém fazer!…”
— Jesus, na obra Paulo e Estevão, por Emmanuel, na psicologia de Francisco Candido Xavier.
Esses três personagens nos mostram que não há defeito terrível o suficiente que nos impeça de prosseguir em nossa jornada espiritual. Jesus aposta em nós, mesmo quando nós mesmos não conseguimos ver a luz que carregamos.
Reflexão: Trabalhar e Acreditar
Não podemos usar nossas dificuldades e imperfeições como desculpas para não agir. Tudo começa a funcionar verdadeiramente quando estamos dispostos a tentar, a caminhar ao lado de Jesus e a nos permitir melhorar.
Jesus nos chama exatamente como estamos, sem esperar que alcancemos a perfeição antes de servi-lo. Ele nos diz: “Vem, vem como você tá…”, porque é no processo de seguir seus passos que nos transformamos. Quando reconhecemos a luz que há em nós, deixamos de ser cegos às nossas capacidades e potenciais.
Isso não significa que ignoraremos nossos problemas ou seremos passivos diante das dificuldades. Pelo contrário, aceitaremos nossas limitações e buscaremos mudanças possíveis, diminuindo o poder que as dificuldades exercem sobre nós.
Interrompendo o Fluxo Mental Negativo
Em momentos de tristeza, é comum que todos os problemas e dificuldades venham à tona, e nos tornemos vítimas desse fluxo mental negativo. No entanto, a música de Djanise França Consciência nos lembra:
Se sinto a dor tentando desabar
a beleza que há e já abrigo em mim
se sinto que a treva tenta me anuviar
querendo me mostrar que dor não tem fim
tento logo recontar
todas bênçãos que há…
— música Consciência, por Djanise França.
Interromper esse ciclo negativo, focando nas bênçãos que já temos, nos ajuda a lidar melhor com os problemas. As dificuldades continuarão existindo, mas elas nos afetarão menos à medida que fortalecemos nossa fé e confiança.
Conclusão: A Luz que Já Existe em Nós
Precisamos reforçar e relembrar o lado de luz que habita em nós. Toda vez que alimentamos nosso lado negativo, abrimos espaço para a obsessão e a negatividade. Ao escolhermos enxergar nossas qualidades e trabalhar para nos tornarmos melhores, seguiremos os passos de Jesus, confiantes de que…
Um dia todos nós seremos anjos…
vamos trabalhar e acreditar…
— música Anjos, por Grupo Acorde.
O caminho da luz é um processo contínuo de aceitação, trabalho e fé. Que possamos nos amar, assim como Jesus já nos ama.
Acompanhe agora a íntegra da reflexão do Conversando sobre o Espiritismo:
*Colaborou para esta publicação: Julia Fertig.
**Imagem em destaque: via DALL.E do ChatGPT.