Em nossas múltiplas existências, quantas oportunidades já tivemos de seguir o caminho com Jesus e as desperdiçamos? Esta é uma das perguntas inevitáveis que nos fazemos, quando lemos a obra “Há Dois Mil Anos”, de autoria espiritual de Emmanuel, psicografada por Francisco Cândido Xavier.
Foi desta obra literária que o palestrante Rudnei Martins trouxe o recorte de uma belíssima passagem, quando se dá o encontro do poderoso senador romano Públio Lentulus com Jesus. É nesta palestra, transmitida pela Associação Espírita Fé e Caridade, em 23 de fevereiro de 2021, que se baseia esta publicação.
Importante destacar que o autor espiritual, Emmanuel, relata nesta obra sua encarnação como senador romano Públio Lentulus Cornelius.
Um pouco da história
Públio Lentulus Cornelius, poderoso senador romano, é casado com Livia, esposa e mãe virtuosa. O casal possui dois filhos, Marcos e Flávia, sendo a filha portadora de hanseníase.
Em uma conversa com um amigo, também senador, Flamínio Severus, Públio fala sobre os desfortúnios vividos pela família devido à falta de tratamento para a doença da filha, apesar de todo seu poder econômico e político. O amigo então sugere a mudança de toda a família para a Palestina, onde as condições climáticas são mais favoráveis, a fim de procurar tratamento para a pequena Flávia.
Em Cafarnaum
Fixando residência em Cafarnaum, depois de algum tempo, a saúde de Flávia piora a cada dia. A criada da casa, Ana, convertida ao cristianismo, conversa muito com Lívia sobre as pregações que ouve de Jesus, às margens do lago Genesaré, despertando o interesse de Lívia por aquele homem extraordinário que tanto bem faz, principalmente aos desvalidos.
Flávia pede ao pai para ver Jesus, o que o deixa enfurecido, demonstrando todo seu orgulho e prepotência em ter que procurar um homem simples e ignorante. Mas por insistência da esposa, ele o faz, em nome da saúde da filha.
O Encontro
…Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem. Foi nesse instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava aquele sítio. Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível. Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas, no seu coração marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. Nem a sua apresentação a Tíbério, nas magnificências de Capri, lhe havia imprimido tal emotividade ao coração. Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração:
– Senador, porque me procuras? – e, espraiando o olhar profundo na paisagem, como se desejasse que a sua voz fosse ouvida por todos os homens do planeta, rematou com serena nobreza:
– Fôra melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade… Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!…
Públio Lentulus nada pôde exprimir, além das suas lágrimas copiosas, pensando amargamente na filhinha; mas o profeta, como se prescindisse das suas palavras articuladas, continuou:
– Sim… não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina… Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra…
Comovido e magnetizado, o senador considerou, intimamente, que seu espírito pairava numa atmosfera de sonho, tais as comoções desconhecidas e imprevistas que se lhe represavam no coração, querendo crer que os seus sentidos reais se achavam travados num jogo incompreensível de completa ilusão.
– Não, meu amigo, não estás sonhando… – exclamou meigo e enérgico o Mestre, adivinhando-lhe os pensamentos. – Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios… Se o desdobramento da vida humana está subordinado às circunstâncias, és obrigado a considerar que elas existem de toda a natureza, cumprindo às criaturas a obrigação de exercitar o poder da vontade e do sentimento, buscando aproximar seus destinos das correntes do bem e do amor aos semelhantes. Soa para teu espírito, neste momento, um minuto glorioso, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração, doravante, um cântico de amor, de humildade e de fé, na hora indeterminável da redenção, dentro da eternidade… Mas, ninguém poderá agir contra a tua própria consciência, se quiseres desprezar indefinidamente este minuto ditoso! Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!
Públio fitou aquele homem extraordinário, cujo desassombro provocava admiração e espanto. Humildade? que credenciais lhe apresentava o profeta para lhe falar assim, a ele senador do Império, revestido de todos os poderes diante de um vassalo? Num minuto, lembrou a cidade dos césares, coberta de triunfos e glórias, cujos monumentos e poderes acreditava, naquele momento, fossem imortais.
– Todos os poderes do teu império são bem fracos e todas as suas riquezas bem miseráveis. As magnificências dos césares são ilusões efêmeras de um dia, porque todos os sábios, como todos os guerreiros, são chamados no momento oportuno aos tribunais da justiça de meu Pai que está no Céu. Um dia, deixarão de existir as suas águias poderosas, sob um punhado de cinzas misérrimas. Suas ciências se transformarão ao sopro dos esforços de outros trabalhadores mais dignos do progresso, suas leis iníquas serão tragadas no abismo tenebroso destes séculos de impiedade, porque só uma lei existe e sobreviverá aos escombros da inquietação do homem – a lei do amor, instituída por meu Pai, desde o princípio da criação… Agora, volta ao lar, consciente das responsabilidades do teu destino… Se a fé instituiu na tua casa o que consideras a alegria com o restabelecimento de tua filha, não te esqueças que isso representa um agravo de deveres para o teu coração, diante de nosso Pai, TodoPoderoso!…
O senador quis falar, mas a voz tornara-se-lhe embargada de comoção e de profundos sentimentos. Desejou retirar-se, porém, nesse momento, notou que o profeta de Nazaré se transfigurava, de olhos fitos no céu… Aquele sítio deveria ser um santuário de suas meditações e de suas preces, no coração perfumado da Natureza, porque Públio adivinhou que ele orava intensamente, observando que lágrimas copiosas lhe lavavam o rosto, banhado então por uma claridade branda, evidenciando a sua beleza serena e indefinível melancolia. Nesse instante, contudo, suave torpor paralisou as faculdades de observação do patrício, que se aquietou estarrecido. Deviam ser vinte e uma horas, quando o senador sentiu que despertava. Leve aragem acariciava-lhe os cabelos e a Lua entornava seus raios argênteos no espelho carinhoso e imenso das águas. Guardando na memória os mínimos pormenores daquele minuto inesquecível, Públio sentiu-se humilhado e diminuído, em face da fraqueza de que dera testemunho diante daquele homem extraordinário. Uma torrente de idéias antagônicas represava-se-lhe no cérebro, acerca de suas admoestações e daquelas palavras agora arquivadas para sempre no âmago da sua consciência. Também Roma não possuía os seus feiticeiros? Buscou rememorar todos os dramas misteriosos da cidade distante, com as suas figuras impressionantes e incompreensíveis… — Há Dois Mil Anos.
“A Fé é divina…”
Ao voltar para casa, Públio encontra a pequena Flávia nos braços da mãe, com sinais de recuperação e relata que naquela noite sentiu mãos que a acariciavam. Lívia também relata uma luz que envolveu a menina, mas o orgulho do senador, o impede de admitir que Jesus intercedeu por sua menina e que a fé e as orações das duas mulheres curaram sua filha.
Há Dois Mil Anos
O palestrante nos leva a refletir, assim como Públio (Emmanuel), quantas vezes temos a oportunidade de fazer algo e deixamos de fazer porque nosso orgulho, vaidade ou egoísmo nos dominam.
Rudnei também nos convida à leitura integral da obra “Há Dois Mil Anos” e também das subsequentes: “Cinquenta Anos Depois”, “Paulo e Estevão”, “Ave Cristo” e “Renúncia”, para compreendermos:
O tanto de tempo que o nosso senador Públio Lentulus perdeu para voltar ao ponto onde ele poderia partir daquele momento que ele teve esse encontro com Jesus.
— Rudnei Martins.
Confira a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Sandra Lemos.