Em palestra para a Associação Espirita Fé e Caridade, em 9 de março de 2021, Larissa Martins traz uma exposição fundamentadas principalmente no capítulo 2 da obra O Céu e O Inferno, de Allan Kardec, e no capítulo entitulado “Pavor da morte”, do livro Os Mensageiros, de André Luiz, pela psicografia de Francisco Candido Xavier.
No capítulo 85 do livro Cartas do Coração, pela psicografia de Francisco Candido Xavier, o espírito Tancredo Noronha nos esclarece que, na realidade, o homem nunca se prepara à frente do túmulo e as nossas dificuldades crescem, ante as preocupações que a distância compulsória nos impõe.
No futuro, os homens cogitarão de se prepararem, em bases de educação raciocinada, sobre o que lhes acontecerá depois da morte no Plano Físico, por que, efetivamente, ninguém vai morrer, no sentido de desaparecer, de vez que nos achamos todos, queiramos ou não, diante de nossa própria imortalidade, além do corpo que usamos atualmente. — Francisco Candido Xavier no livro O Evangelho de Chico Xavier, capítulo 32.
Esse é um tema que deve fazer parte de nossas cogitações e reflexões, da forma que entramos para esse mundo pelas portas do berço, dia virá que teremos de deixá-lo pelas portas do túmulo. É comum nos encontrarmos às voltas com reflexões, como:
- De que forma devemos nos preparar para a morte?
- Do que temos medo?
- Acreditamos na vida espiritual?
- Ficaremos sozinhos?
- Poderemos rever nossos amores?
Toda religião procura confortar os homens, ante a esfinge da morte.
A Doutrina Espírita não apenas consola, mas também alumia o raciocínio dos que indagam e choram na grande separação. – Emmanuel, no livro Justiça divina.
E no livro Monte Acima, pela psicografia de Francisco Candido Xavier, Emmanuel acrescenta:
O Evangelho à frente da civilização, é o sol que nos clareia o caminho. Aqueçamo-nos em seus raios e o serviço do Bem se nos fará grande condutor para o mundo melhor de amanhã.
Em diversas obras da codificação, bem como nas obras subsidiárias, podemos encontrar consoladoras revelações a respeito do momento da morte, sobre jamais estarmos a sós no desenlace.
No livro Palavras do Infinito, o benfeitor Emmanuel traz informações preciosas sobre o momento derradeiro.
A impressão da alma no momento da morte varia com os estados de consciência dos indivíduos.
Para todas as criaturas, porém, manifesta-se nesses instantes a bondade divina. Os moribundos têm invariavelmente a assistência dos seus protetores, e amigos invisíveis que os auxiliam a se libertar das cadeias que os prendem à vida material. Entre os homens não existe a necessidade de alguém que auxilie os recém-nascidos a se desvencilharem do cordão umbilical?
As sensações penosas do corpo são mais ou menos acordes com a moléstia manifestada. Elas porém passam e nos primeiros tempos, no plano espiritual, vai a alma colher os frutos de suas boas ou más obras na superfície do mundo.
O adágio popular: “Tal vida, tal morte” vai aí receber então a sua sanção plena.
Durante o desencarne, portanto, a criatura nunca está a sós. Mas o tipo de companhia pode ser categorizado em dois grupos:
- O primeiro é constituído de benfeitores espirituais e de Espíritos especializados nos processos que conduzem à desencarnação. Encontram-se também familiares e amigos queridos, já desencarnados, que ali permanecem aguardando ou auxiliando o processo de desligamento final.
- No segundo grupo os desencarnantes que não souberam amealhar amizades, que levaram uma existência marcada por ações más, podem defrontar-se com entidades malévolas, direta ou indiretamente ligadas a ele, causando-lhe transtornos dos mais variados e intensos.
De qualquer forma, há sempre benfeitores espirituais que, como voluntários, auxiliam o desencarnante, mesmo que este não possua grandes méritos. Cooperados especializados aglutinam esforços no afã de desligarem, sem incidentes, o Espírito eterno do aparelho físico terrestre. — Martins Peralva, no livro Estudando a mediunidade.
Causas do temor da morte
Na primeira parte da obra O Céu e o Inferno, Allan Kardec nos traz esclarecimentos sobre o temor da morte.
O homem, seja qual for a escala de sua posição social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuição que a morte não é a última fase da existência e que aqueles cuja perda lamentamos não estão irremissivelmente perdidos. A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele creem apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por que?
Este temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento. — O Céu e o Inferno.
Mais adiante, Kardec discorre sobre como a Doutrina Espírita transforma nossa visão sobre vida e morte e porque os espíritas não temem a morte.
A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da infelicidade, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo. — O Céu e o Inferno.
Semelhante reflexão é encontrada em O Livro dos Espíritos, na pergunta 165.
165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação. Mas, a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.
Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos. — O Livro dos Espíritos.
No livro Cartas e Crônicas, Humberto de Campos (Irmão X), pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, traz uma mensagem intitulada “Treino Para Morte”. Consultado a respeito do tema, Irmão X elencou alguns itens de como podemos agir para evitar as surpresas da morte.
Preocupado com a sobrevivência além do túmulo, você pergunta, espantado, como deveria ser levado a efeito o treinamento de um homem para as surpresas da morte.
A indagação é curiosa e realmente dá que pensar. Creia, contudo, que, por enquanto, não é muito fácil preparar tecnicamente um companheiro à frente da peregrinação infalível.
Os turistas que procedem da Ásia ou da Europa habilitam futuros viajantes com eficiência, por lhes não faltarem os termos analógicos necessários. Mas nós, os desencarnados, esbarramos com obstáculos quase intransponíveis.
A rigor, a Religião deve orientar as realizações do espírito, assim como a Ciência dirige todos os assuntos pertinentes à vida material. Entretanto, a Religião, até certo ponto, permanece jungida ao superficialismo do sacerdócio, sem tocar a profundez da alma.
Importa considerar também que a sua consulta, ao invés de ser encaminhada a grandes teólogos da Terra, hoje domiciliados na Espiritualidade, foi endereçada justamente a mim, pobre noticiarista sem méritos para tratar de semelhante inquirição.
Pode acreditar que não obstante achar-me aqui de novo, há quase vinte anos de contado, sinto-me ainda no assombro de um xavante, repentinamente trazido da selva matogrossense para alguma de nossas Universidades, com a obrigação de filiar-se, de inopino, aos mais elevados estudos e às mais complicadas disciplinas.
Em razão disso, não posso reportar-me senão ao meu próprio ponto de vista, com as deficiências do selvagem surpreendido junto à coroa da Civilização.
Preliminarmente, admito deva referir-me aos nossos antigos maus hábitos. A cristalização deles, aqui, é uma praga tiranizante.
Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.
Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.
Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.
Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, aguente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia.
E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo. Temos aqui muita gente boa carregando consigo o inferno rotulado de “amor”.
Se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a faze-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.
Em família, observe cautela com testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios.
Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consanguíneos. Ame sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando-lhe a volta inoportuna.
Se você já possui o tesouro de uma fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, sem equilibrar-se dentro dele.
Faça o bem que puder, sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.
Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.
O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas. Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres.
Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer. — Irmão X.
Confira a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Marli Fragoso.
** Imagem de capa por Dziana Hasanbekava do Pexels.