Escolha das Provas

As provas da vida, quando bem suportadas, apagam as faltas e purificam. São o remédio que limpa a chaga e cura o enfermo.

Em palestra transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Fabiana Fertig trouxe uma reflexão sobre a Escolha das Provas.

Provas

Qual o papel da doutrina espírita em nossas vidas? Quando a vida nos dá uma prova, “aperta” nosso calo e muitas vezes sofremos. Não entendemos a situação. Contudo, estar dentro de uma casa espírita, realizar palestras, participar de grupos de estudos, não vão tirar de nós os sofrimentos da vida. Todos passamos por dificuldades. O espiritismo vem para combater o materialismo, pois a vida é uma só, as existências é que são múltiplas.

Os Espíritos não podem aspirar à felicidade perfeita senão quando são puros; toda mancha lhes interdita a entrada nos mundos felizes. Tais são os passageiros de um navio atingido pela peste, aos quais a entrada de uma cidade é interditada até que estejam purificados […]
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 10.

Já pensou um impaciente viver em um mundo onde todos são pacientes? O avarento viver no mundo onde todos dividem? Tamanho tormento seria?

Não é que Deus não deixa “entrar” nestes mundos felizes, é uma lei de afinidade, de sintonia. Por isso estamos aqui, curando nossas chagas, o tempo que for necessário.

[…] É nas suas diversas existências corporais que os Espíritos se despojam, pouco a pouco de suas imperfeições. As provas da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o enfermo. Quanto mais grave é o mal, mais o remédio dever enérgico. Aquele, pois, que sofre muito deve dizer-se que tem muito a expiar, e se regozijar de ser logo curado; depende dele, pela sua resignação, tornar esse sofrimento proveitoso, e de não perder-lhe os frutos pelas lamentações, sem o que estaria por recomeçar.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 10.

Muitas vezes nos revoltamos com as situações desafiadoras, as provas. Essa revolta não é somente daquele que agride, que maltrata. É também quando nos jogamos desanimados em um canto, quando questionamos demasiadamente o porquê, nos fazemos de vítimas, “já que não é do meu jeito, deixa a vida levar”.

Precisamos nos resignar. Nascemos em um corpo, numa família, em um local, neste país por alguma razão. Não vivemos em um planeta de felicidade plena, porque ainda temos imperfeições. O “não-resignar”, a revolta, a reclamação, só vai fazer com que repitamos essa experiência, porque ninguém aprende as Leis de Deus reclamando.

Planejamento

258) Quando no estado errante e antes de reencarnar, o Espírito tem a consciência e a previsão das coisas que lhe sucederão durante a vida?
— Ele próprio escolhe o gênero de provas que quer suportar e é nisso que consiste o seu livre arbítrio.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo VI, questão 258.

O gênero das nossas dificuldades (provas) fomos nós mesmos que escolhemos, no planejamento reencarnatório.

De acordo com os Espíritos, nós imploramos para reencarnar, imploramos por este país, por este corpo, por esta família.

Uma pessoa quando está no alto de um morro, quando há vegetação ou neblina na parte de baixo, não vê toda a caminhada. É o mesmo quando estamos do lado de lá, como Espíritos que ainda não reencarnamos, nossa consciência fala diretamente conosco.

Quem nasce no meio da violência por exemplo, o Espírito quer se provar que, mesmo na ausência de recursos, ele ainda continua íntegro. Em alguns casos, pedimos por coisas que a Espiritualidade nos adverte que não daremos conta. Nos explicam quando é demais, pois é difícil estar aqui, é difícil mergulhar nos desejos e necessidades do corpo físico, por serem muito mais amplos do que podemos supor. Este é o papel do Espiritismo, de nos educar a alma.

Liberdade de escolha

258a) Não é Deus, então, que lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?
Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus que estabeleceu todas as leis que regem o universo. Ide agora perguntar por que decretou ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou, e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito. Ademais, cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que o é da do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um meio de progredirdes, e Deus o permitiu.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo VI, questão 258a.

Já pararam para pensar nas palavras livre-arbítrio, liberdade e responsabilidade?

Nós queremos a liberdade de escolha, mas futuramente não aceitamos as consequências. Estamos demorando para entender a Lei de Ação e Reação, Causa e Efeito.

Um exemplo é a criança aprendendo a caminhar. Primeiramente damos a mão e, aos poucos, soltamos, para ela ir sozinha. Se sempre que ela tentar, não a deixarmos ir sozinha, a mesma vai demorar mais. Deus, sempre com amor, nos dá a liberdade de aprender a andar com as próprias pernas.

Escolhemos tudo?

259) Do fato de pertencer ao Espírito a escolha do gênero de provas que deva sofrer, seguir-se-á que todas as tribulações que experimentamos na vida nós as previmos e escolhemos?
Todas, não, porque não escolhestes e previstes tudo o que vos sucede no mundo, até às mínimas coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações. As particularidades são a consequência da posição em que vos achais e, muitas vezes, das vossas próprias ações.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo VI, questão 259.

Temos o livre-arbítrio e os pormenores da reencarnação não são previstos. 

Vale lembrar que se dividirmos as tribulações da vida em duas partes: uma inevitável (provas-expiações); e outra evitável (decorrentes da nossa própria ação descuidada nos excessos); a segunda é muito mais numerosa que a primeira. 

Faz-se, portanto, evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, às quais se pouparia, se sempre obrasse com sabedoria e prudência.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 12.

Ou seja, nem toda tribulação que passamos aqui na Terra foi planejada. Colocamos arbitrariamente mais peso sobre nossos ombros, quando desviamos do caminho de amor e sabedoria de Jesus.

Fortalecer a vontade

Antes de reencarnar, vamos para uma escola na Espiritualidade, para aprender a suportar e vencer as provas íntimas, e recebemos ajuda para isso.

Escolhemos, por exemplo, o país, família, profissão, companheiro, número de filhos, mas podemos mudar. A Espiritualidade nos sustenta, nos esclarece, mas a modificação é nossa. De acordo com os Espíritos, o que nos falta é a vontade, pois é ela que modela e impulsiona nosso pensamento e o nosso pensamento vai impulsionar nossas atitudes.

Os Espíritos advertem que conhecemos pouco o Evangelho do Cristo. O fardo nunca é maior do que podemos carregar. Cada um de nós está passando por situações que tem condições de suportar, que pediu para então evoluir e adentrar no mundo feliz. 

Os “nãos” da vida nos curam

265) Se alguns dos Espíritos escolhem o contato com o vício como prova, há os que o escolhem por simpatia e pelo desejo de viver num meio adequado aos seus gostos, ou para poderem entregar-se livremente às suas inclinações materiais?
— Há, por certo, mas só entre aqueles cujo senso moral é ainda pouco desenvolvido; a prova decorre disso, e eles a sofrem por tempo mais longo. Cedo ou tarde, compreenderão que a satisfação das paixões brutais tem para eles consequências deploráveis, que terão de sofrer durante um tempo que lhes parecerá eterno. Deus poderá deixá-los nesse estado até que eles tenham compreendido suas faltas, pedindo por si mesmos o meio de resgatá-las em provas proveitosas.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo VI, questão 265.

Por vezes não entendemos quando uma porta na vida se fecha. Contudo, neste momento podemos orar. Não precisa ser de falas decoradas, mas uma conversa de coração para agradecer, para pedir um conselho, uma ajuda. É uma forma de dominar as nossas tendências, nossas inclinações e suportar a prova.

O aluno pode reprovar de ano na escola, os colegas vão ficando distantes e ele fica sendo o mais velho no meio dos pequenos e se constrange. As consequências podemos não ver hoje, mas aparecem na idade avançada, no retorno ao mundo espiritual, em outras existências.

Caridade é a salvação

Muita coisa que achamos que estamos fazendo trabalho extra, é simples dever. Consultemos nossa consciência, onde está a escrita a Lei divina, e veremos que ela nos requisita o amor em movimento.

Caridade é, sobretudo, amizade. Para o faminto é o prato de sopa. Para o triste é a palavra consoladora. Para o mau é a paciência com que nos compete auxiliá-lo. Para o desesperado é o auxílio do coração. Para o ignorante é o ensino despretensioso. Para o ingrato é o esquecimento. Para o enfermo é a visita pessoal. Para o estudante é o concurso no aprendizado. Para a criança é a proteção construtiva. Para o velho é o braço irmão. Para o inimigo é o silêncio. Para o amigo é o estímulo. Para o transviado é o entendimento. Para o orgulhoso é a humildade. Para o colérico é a calma. Para o preguiçoso é o trabalho. Para o impulsivo é a serenidade. Para o leviano é a tolerância. Para o deserdado da Terra é a expressão de carinho. Caridade é amor em manifestação incessante e crescente. É o sol de mil faces brilhando para todos e o gênio de mil mãos, amparando, indistintamente, na obra do bem, onde quer que se encontre, entre justos e injustos, bons e maus, felizes e infelizes, por que, onde estiver o espírito do Senhor aí se derrama a claridade constante dela, a benefício do mundo inteiro.
(Emmanuel, psicografado por Chico Xavier na obra Viajor)

Acompanhe agora o áudio da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.
**Imagem em destaque: via Pexels.

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