É tempo de perdoar

Amar os inimigos é não ter ódio da pessoa, é não guardar rancor pelo que nos fez, é não desejar vingança. É perdoar e querer o bem em vez do mal. É ficar feliz se o bem atingir essa pessoa.

Em edição do Conversando sobre Espiritismo, transmitido pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Julia Fertig traz o tema: amai os vossos inimigos. Julia trata do desafio de perdoar, por que devemos amar os inimigos e como podemos começar — elaborando toda sua reflexão com base nos ensinamentos de Jesus e em explicações trazidas em mensagens do espírito Emmanuel, a partir da psicografia de Francisco Candido Xavier. 

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu vos digo, porém: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.
— Jesus, em Mateus 5:43–44.

Nessa passagem, Jesus nos diz que até aquela época em que Ele esteve aqui encarnado entre nós, a humanidade havia vivido segundo o preceito que deveríamos amar aqueles que estão próximos de nós, aqueles que pensam de forma semelhante à nossa, que nos apoiam nas decisões que tomamos. Costumávamos naquela época viver sob o preceito de que seria recomendado odiar o nosso inimigo. 

Jesus, porém, nos ensina a ir além. Nos traz um novo olhar, uma mudança de paradigma. Além de amar o próximo, devemos também amar os nossos inimigos. É um conceito complexo. Não é à toa que este versículo é mencionado por Emmanuel em toda sua obra pelo menos 22 vezes.

Perdoar os inimigos

Em O Livro dos Espíritos, Kardec questiona à espiritualidade superior sobre esse tema, na pergunta 887.

887. Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá de uma falta de simpatia entre os Espíritos?
— O Livro dos Espíritos, questão 887.

Uma pergunta bem genuína essa de Kardec. Muitos de nós nos questionamos por vezes sobre a dificuldade que parece ser o “amar vossos inimigos”. Não seria contrário à nossa tendência natural gostar de alguém que nos fez mal energeticamente? Será que essa inimizade não ocorreria justamente porque duas pessoas não simpatizam? 

Os espíritos então respondem a Kardec:

R: Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem.
— O Livro dos Espíritos, questão 887.

Vejamos a mudança que Kardec com a sua pergunta e que os espíritos com as respostas nos trazem sobre a forma de encarar esse amor aos inimigos. Amar o inimigo não é ter ternura, não é confiar necessariamente naquela pessoa, não é ter uma amizade, simpatia ou satisfação de estar com aquela pessoa perto de nós. Não é ter afeição de qualquer forma. 

Amar os inimigos é não ter ódio da pessoa, é não guardar rancor pelo que nos fez, é não desejar vingança. É desejar o bem em vez do mal e ficar feliz se algum bem atingir essa pessoa. É perdoar incondicionalmente. Então vejamos bem a diferença entre ambas as atitudes, para tornar um pouco mais próximo da nossa realidade esse objetivo de amar os inimigos. 

A hora de perdoar é agora

Percebamos os tempos verbais da frase de Jesus conforme apresentada no capítulo 5 de Mateus:

  • Amarás teu próximo (…) 
  • Amai teu inimigo (…)

Amarás está no futuro, pois é nosso destino. Estamos aprendendo e um dia iremos amar incondicionalmente a todos os seres como a nós mesmos. É este o objetivo do nosso caminhar evolutivo. 

Já o verbo amar quando diz respeito ao inimigo, está no presente, não no futuro. E está no modo imperativo. Ou seja, é uma ordem imediata. Amai os inimigos: hoje, não amanhã. Agora, não depois. Não é uma sugestão, é uma necessidade. 

Já foi o tempo em que podíamos afirmar: “sou bom, não faço o mal, mas amar o inimigo eu não consigo”. Já somos capazes sim de amar o inimigo. Não se trata de abraçar, confiar e querer ser amigos. Mas já podemos desejar o bem ao inimigo. 

Saber que aquela pessoa, apesar de ter cometido um equívoco conosco, não se resume àquele erro. Ela merece mais, ela é capaz de fazer melhor. Se Deus perdoa os nossos erros, quem somos nós para recusar o perdão a quem erra conosco? 

Exercício para perdoar

Uma forma de facilitar esse processo é encarar o inimigo como alguém que já nos amou muito, mas que a gente magoou. Alguém para quem mentimos, a quem enganamos, alguém que afastamos da felicidade por algum motivo. O exercício é olhar o inimigo, portanto, como alguém que já foi próximo de nós e que nós magoamos. Dessa forma, assumimos a responsabilidade por amar os inimigos. 

Podemos até pensar: “não fiz nada para ninguém, não lembro dessa vida anterior, tratei todo mundo bem, não tenho nenhum inimigo”. Mas Jesus veio nos ensinar que somos Espíritos Imortais. Já tivemos outras vivências, com outras pessoas e até com as mesmas pessoas com as quais convivemos no momento. 

Estamos na atualidade em nossa melhor versão, ainda distantes da perfeição relativa, mas vivendo nosso melhor. Em épocas passadas, portanto, já cometemos enganos, por intenção ou desconhecimento. Esses equívocos estão marcados em nossa consciência e em nosso corpo espiritual, nos atraindo aos desafetos do passado. Nossa dívida é com a Lei Divina, com nossa consciência — não com o outro.

Podemos até pensar que queremos nos afastar, “nos livrar” do convívio com o inimigo. Mas esse afastamento é temporário. Iremos em alguma oportunidade reatar os laços e construir o amor. Por que deixar para depois?

Entre as consequências de não perdoar estão: 

  1. Adoecimento fisico
  2. Adoecimento emocional
  3. Adoecimento psicológico
  4. Adoecimento espiritual
  5. Renascer num lar estranho

Não queremos estas consequências. Precisamos, portanto, de amor. O que, senão o próprio amor, seria capaz de quebrar as barreiras da indiferença, do desprezo, da intolerância que temos no mundo e dentro de casa? O amor é o único meio, é o o único caminho. 

Vamos portanto, começar a amar. Amar hoje, amar agora. Não vamos deixar para amanhã.

Acompanhe a mensagem na íntegra:

* Colaborou para esta publicação: Julia Fertig.
** Imagem em destaque via DALL.E do ChatGPT.

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