Em palestra transmitida pelos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Flavio Stersi trouxe o tema bem-aventurados os aflitos, pertinente ao momento que o orbe terrestre atravessa, mediante perdas de entes queridos, desemprego e demais mazelas que cada indivíduo enfrenta em seu dia a dia. Ou seja, os infortúnios ocultos vividos por cada um de nós, espíritos encarnados nesse planeta de provas e expiações.
Paremos então para refletir por um instante nestas situações individuais de cada um, junto ao Sermão do Monte, encontrado no livro de Mateus, capítulo 5 versículos 3 a 10:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os mansos. porque eles herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos. porque eles receberão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidores por causa da justiça, porque deles é o Reino de Céus.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e {mentindo} disserem todo mal contra vós, por causa de mim.
Alegrai-vos e regozijais-vos, porque é grande a vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os Profetas anteriores a vós.
— O Novo Testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias, página 49.
A partir dessa passagem aprofundaremos as causas das nossas aflições.
Por que, então, sofremos?
Esta indagação por vezes invade nossa mente e nos perguntamos: por que alguns nascem na miséria, outros na riqueza, homens justos sofrem ao lado de homens que prosperam, crianças morrem na tenra idade, outros nascem com doenças congênitas? Alguns chegam até a questionar a Justiça Divina.
Primeiramente, devemos ter em mente que nossa vida atual não é nossa primeira existência, nem nossa única passagem pelo planeta. Como consta na questão 166 de O Livro dos Espíritos:
– A alma passa, pois, por várias existências corpóreas?
Sim, todos nós passamos por várias existências físicas. Os que dizem o contrário, pretendem manter-vos na ignorância em que eles prórios se encontram. Esse é o seu desejo.
E, mais adiante, na questão 167:
– Qual é o objetivo da reencarnação?
Expiação, aprimoramento progressivo da humanidade, sem o que, onde estaria a justiça?
Por acreditar na presença de Deus, e que Deus é a perfeição máxima, nosso Pai misericordioso, bom e justo, entendemos que todas as vicissitudes da vida têm um causa. A causa pode ser de duas espécies: fruto de ocorrências e escolhas dessa vida ou débitos e créditos de existências anteriores.
Lei de causa e efeito
Temos no livro Na Era do Espírito, por J. Herculano Pires e Francisco Candido Xavier:
Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos Espíritos faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o progresso.
— do livro Na Era do Espírito, capítulo 3.
Muitas das aflições que enfrentamos são originárias de nossas próprias escolhas, feitas no momento da programação reencarnatória, conforme vemos na questão 258 de O Livro dos Espíritos:
– Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre arbitrio.
a) – Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?
Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito. Demais, cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que o é da do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um meio de progredirdes, e Deus o permitiu.
Assim, no intervalo compreendido entre as reencarnações, o Espírito imortal, no exercício de seu livre-arbítrio, escolhe o gênero de provas pelas que há de passar em sua próxima experiência. Com isso, assume desde logo a responsabilidade por suas decisões e logicamente pelas consequências delas decorrentes.
Vale ressaltar que esta escolha diz respeito ao gênero das provas propriamente ditas não as suas particularidades. Escolhas bem sucedidas também podem atenuar essas provas. O destino não é imutável e a trajetória de vida por ser alterada mediante a vontade e as conquistas que fazemos.
As causas atuais das aflições também dizem respeito ao livre-arbítrio, mediante escolhas feitas na encarnação presente.
Voltando à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e da conduta dos que os suportam. Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos! Quantas uniões infelizes, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade, e nas quais o coração não tomou parte alguma! Quantas dissensões e disputas funestas se teriam evitado com mais moderação e menos suscetibilidade! Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero! Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram as más tendências desde o princípio!
— O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5.
Como enfrentar as aflições
Nesta linha de reflexão, o ideal é que enfrentemos as dificuldades com fé, resignação e amor, mantendo-nos ativos, trabalhando e estudando sempre, procurando eliminar quanto antes as queixas de nossa vida.
O Espírito Joanes aconselha para nossa melhora espiritual:
Evite a lamentação, uma vez que ela em nada lhe auxiliará. Não diminuirá o peso da sua cruz, nem dispensará as nuvens que estejam toldando, porventura, os seus horizontes.
— do livro Para Uso Diário, psicografia de Raul Teixeira.
Até atingir a perfeição relativa, o Espírito passa por provas e expiações, que, se permitirmos e acolhermos, tendem a ser altamente reparadoras.
As dores (…) são capazes de produzir frutos excelentes de experiência e compreensão. São processos reparadores visando ao reajustamento da criatura nos seus transvios, no curso da evolução.
— do livro Tempos de Renovação, por Juvanir Borges de Souza.
Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
* Colaborou para esta publicação: Magda do Carmo Gonçalves.
** Imagem em destaque via Pexels.