Deus, em sua bondade e misericórdia eterna, nos deu a oportunidade da encarnação permitindo a evolução de cada um enquanto seres imortais. No entanto, nem sempre nos damos conta da existência e presença de Deus em nossas vidas. Em palestra nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Timolau Adada nos traz esclarecimentos sobre essas questões.
Por vezes, não lembramos de agradecer à benção da vida, à mais uma oportunidade de aprendizado em mais um dia de nossa existência enquanto encarnados. Nosso envolvimento com a matéria (trabalho, dificuldades, problemas, …) faz com que avaliemos nosso aprimoramento, mesmo que de forma indireta, com base no dinheiro, prestígio, sucesso, entre outros fatores materiais.
As dificuldades e aflições
Em todos os momentos de nossa vida somos atingidos por fenômenos que, por vezes, não sabemos as causas. As dificuldades da vida podem se apresentar de diversas formas, como os fenômenos naturais destrutivos (furacões, terremotos), ou mesmo as questões materiais individuais, como a perda de um emprego, perda de um ente querido ou doenças.
Essas situações, eventualmente, nos vêm como situações que não conseguimos controlar, trazendo angústias que nos fazem recorrer à Deus em meio ao desespero, pedindo ajuda e clamando por sua misericórdia.
No entanto, devemos reconhecer qual realmente é a verdadeira desgraça, aquela que pode se escorder sob a aparência. O Espírito de Delfina de Girardin nos esclarece em relação à verdadeira desgraça/verdadeira infelicidade em O Evangelho Segundo o Espiritismo:
“A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro.”
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V, Bem aventurados os aflitos, item 24.
Dessa forma, os tropeços e dificuldades da vida são, na verdade, passos largos que podemos dar em nosso crescimento espiritual e no crescimento de nossas virtudes.
Justiça das aflições
Vale, ainda, pensar que nada acontece sem a vontade Divina. Como muitas vezes é falado, nem um fio de cabelo cai sem que Deus permita. Em sua bondade infinita, Deus não quer que nada de mal aconteça aos seus filhos. Recorrendo a O Evangelho Segundo o Espiritismo, podemos obter maiores interpretações em relação à justiça das aflições:
“Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa.“
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V, Bem aventurados os aflitos, item 3.
Dessa forma, devemos refletir em relação ao significado de um determinado sofrimento que a vida nos impõe. Por que estamos passando por uma dificuldade dessa forma e não de tantas outras?
O empecilho que parece uma desgraça em nossos olhos limitados pela ótica da materialidade pode ser considerado um grande avanço no sentido do progresso quando pensado sob o prisma da vida eterna. Esse avanço nos leva rumo à verdadeira felicidade, que só acontece quando estamos moralmente transformados.
Jesus e as aflições
Quando passamos por desafios, sempre é importante lembrar de Jesus e seu manual para a verdadeira felicidade. Se seguirmos as suas orientações, conseguiremos atingir uma nova visão das aflições, as entendendo como parte de nosso progresso. Ainda assim, ele nos trouxe consolo quando estivermos passando por dificuldades:
“Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porquanto, quem pede recebe e quem procura acha e, àquele que bata à porta, abrir-se-á.”
— Mateus, 7:7 e 8
No entanto, parece que pedimos e não conseguimos, buscamos e não achamos. Isso não faz sentido com a fala de Jesus.
Pedidos de amparo
Devemos entender que pedir é importante, mas não basta. Pedimos à Deus por forças para continuar e amparo para seguir, mas às vezes achamos que isso não acontece porque Deus não nos ofertou exatamente o que pedimos.
O palestrante ressaltou a importância de analisar algumas coisas quando pedimos algo à Deus:
- O pedido é justo?
- Vai nos beneficiar de alguma forma?
- É realmente necessário?
- Será que é adequado a essa situação?
Temos de lembrar que Deus é a bondade e sabedoria suprema. Por isso, às vezes pode existir algo mais adequado para uma determinada dificuldade. Deus nos dará o que precisamos, não necessariamente o que pedimos. Ainda, o palestrante nos informa que daquilo que pedimos em preces, existem quatro coisas que sempre nos são concedidas:
- Resignação
- Coragem
- Paciência
- Inspiração
A necessidade da ação
Ao analisarmos o enunciado de Jesus, o pedir não se encontra sozinho, mas sim junto do buscar e bater na porta, trazendo a ideia de ação. Não basta apenas pedir e aguardar inercialmente, deve existir esforço para que o pedido se concretize. O primeiro passo deve ser dado no sentido de acreditarmos no que podemos fazer, tendo fé em Deus e fé em nós mesmos.
É possível pensar, ainda, no porquê de pedir e fazer preces, já que Deus conhece a todos… E o esforço deve ocorrer da mesma maneira. O palestrante informa que devemos pensar sempre que o ato de pedir significa aceitar que Deus aja em nossas vidas, abrindo o coração às boas inspirações. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos informa sobre a ação da prece:
“As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus.”
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXVII, Pedi e obtereis, item 9.
Dessa forma, ao nos colocarmos, por meio de nosso livre-arbítrio, em prece e pedindo, estamos nos colocando em contato com os Espíritos superiores, recebendo as intuições e inspirações que nos ajudarão. Assim, Deus nos fortalece e nos concede meios para que nós mesmos saiamos das dificuldades a partir das sugestões e intuições dos bons espíritos, que são seus mensageiros. Dessa maneira, o mérito de superar a dificuldade será inteiramente nossa.
Provas e expiações do cotidiano
No estágio evolutivo em que nos encontramos, nem sempre achamos fácil aplicar as instruções de Jesus. Por vezes, as coisas fogem de nosso controle, nos desesperamos e temos dificuldades de aceitar as situações adversas que nos acontecem. O desânimo e o sentimento de desistência chegam, fazendo com que fujamos de situações que poderiam ser proveitosas para nosso progresso.
No entanto, os obstáculos da vida nos proporcionam momentos de provação de nossas próprias limitações. Os limites de nossa paciência, fé, compreensão e até mesmo das nossas forças morais, são expandidos pouco a pouco conforme nossas provações.
Em nosso estado evolutivo, tentamos reparar nosas faltas ou provando a nós mesmos. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos esclarece:
A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, Há muitas moradas na casa de meu Pai, item 4
Fardo leve
O palestrante nos lembra ainda que, embora nosso fardo pareça ser pesado, ele tem o peso exato de nossas necessidades evolutivas. Se um peso foi colocado em nossos ombros é porque Deus, em sua sabedoria máxima, considerou que temos condições de superar esse desafio.
Dessa forma, se somos tentados a fugir de dificuldades, devemos mudar esse pensamento, mudando a palavra “dificuldade” para “desafio”. A vida nos desafia a mostrarmos que somos capazes. Novamente, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos esclarece:
“Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.”
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem-aventurados os aflitos, item 18
A cada um segundo as suas obras
Jesus, ainda, nos informa que:
“Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.”
— Mateus 16:27
Dessa forma, conseguimos entender que se a prova é justa, o prêmio é justo. Devemos, assim, reformular nosso senso de Justiça divina e entender que nunca vamos receber por aquilo que não merecemos receber, reforçando a ideia do esforço individual para o progresso.
O simples fato de se dizer caridoso ou se dizer crente não é suficiente frente ao tribunal de nossa própria consciência. Nós mesmos seremos os que vamos nos julgar. Assim, o palestrante informa que só terá valor o que tivermos feito em prol do próximo, em prol do bem.
Quando chegar a hora, será cada um segundo as suas obras. Chegaremos à perfeição a partir de uma escada construída por meio de nosso próprio esforço, com nossa busca e nossa dedicação. Receberemos de acordo com aquilo que fazemos.
Por fim, devemos sempre tentar aplicar a seguinte máxima:
“Fora da caridade não há salvação”
— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, Fora da caridade não há salvação
Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
Referências Bibliográficas:
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, 131ª edição, 2013.
- Evangelho de Mateus.
* Colaborou com esta publicação: Alberto Luz.
** Imagem em destaque: Igor Starkov via Pexels.