Em palestra aos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a expositora Elisa Luz nos traz que a ingratidão é um sentimento de inconformidade, que gera em torno de nós um magnetismo que afeta todos os nossos relacionamentos, porque estabelecemos sintonia de desequilíbrio. Por outro lado, quando alimentamos um sentimento de resignação, paciência e amor, nossa energia é pura luz e se torna irresistível, se espalhando e trazendo harmonia porque somos gratos.
Façamos, então, um paralelo entre a ingratidão e a gratidão:
- Ingratidão: vem de ingrato, revoltado (sem resultados satisfatórios à nossa economia espiritual);
- Gratidão: vem de grato (com resultados satisfatórios à nossa economia espiritual; reconhecimento/agradecimento).
Difícil para todos nós aceitarmos a ingratidão que recebemos. Indica:
Deixarmos de olhar o presente e voltarmos os olhos ao passado para, com a ideia das múltiplas existências, encontrarmos um consolo e forças para prosseguir.
— Revista “O Consolador” – Ano 10 – Nº 469 – 12/06/2016.
Não percebemos que a ingratidão que sofremos nos ensina a sermos persistentes, sem esperar nada em troca, característica do espírito em evolução. Quando somos ou estamos ingratos, passamos a exigir das pessoas aquilo que acreditamos que elas têm que nos dar.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, no item 19, vemos que:
Devemos sempre ajudar os fracos, embora saibais de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão.
— O Evangelho Segundo o Espiritismo.
A dor da ingratidão
Temos dificuldade de aceitar e compreender a ingratidão enquanto encarnados, já que não temos ideia exata de nossas dívidas e compromissos passados. Após o desencarne, nosso espírito pode perceber o porquê da ingratidão.
De todas as provas, as mais duras são as que afetam o coração.
— Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV, item 9 – Santo Agostinho, Paris, 1862.
As amarguras no lar, os laços de família, a ingratidão dos filhos são dificuldades que machucam nosso coração e que, muitas vezes, nos fazem perguntar a nós mesmos o que fizemos para merecer tal dor.
No livro O Consolador, item 252, Emmanuel esclarece que:
Receberemos a dor de acordo com as necessidades próprias, com vistas ao resgate do passado e à situação espiritual do futuro.
— Emmanuel, no livro O Consolador.
Cada um segue seu caminho evolutivo, enfrentando situações diferentes. Somos diferentes em corpo, espírito e perispírito e não estamos juntos por acaso. Que possamos trabalhar em nossa mente que as famílias na terra estão muitas vezes unidas por afinidade, mas, muitas vezes, não. Só poderemos evoluir exercendo a gratidão diante da ingratidão. Essa é uma prática diária, pois a ingratidão, como já dissemos, gera dor. Então, precisamos aguçar nossa percepção e mudar nosso comportamento, não nos acomodando às nossas vivências problemáticas milenares.
Joanna de Ângelis, no livro Psicologia da Gratidão, capítulo 3, ressalta:
Conseguir a prática da gratidão em relação aos familiares hostis constitui um desafio à sombra pessoal dominante no clã. Nem sempre se conseguirá o melhor resultado, no entanto, criando o hábito de compreender o outro, tendo-o na condição de enfermo ou necessitado, transforma-se em método eficaz para que se tenha resultado positivo.
— Joanna de Ângelis, no livro Psicologia da Gratidão.
Não devemos esquecer jamais, quando reclamamos por exemplo de nossos pais, que eles nos deram uma dádiva impagável, a vida! Então, só podemos ser eternamente gratos.
Deus está sempre ao nosso lado e não é nosso objetivo sofrer indefinidamente. A vida nos oferece oportunidades de lidar com a ingratidão (paciência). Que possamos exercer a paciência para nos curar e auxiliar quem está conosco na jornada, para que possamos aprender e evoluir para o bem do universo. Santo Agostinho já nos alertava: “as feridas na terra são pequenos arranhões” e têm um motivo de estarem ali.
Ingratidão e expectativas
Muitas vezes esperamos a gratidão em resposta a nossos atos bondosos. Não devemos criar expectativas, já que não importa a troca. Em O Livro dos Espíritos, as questões 937 e 938 tratam das decepções provocadas pela ingratidão:
Já vos ensinamos a lastimar os ingratos e os amigos infiéis, que serão mais infelizes do que vós. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta encontrará mais tarde corações insensíveis como ele próprio o foi. Pensai que o próprio Jesus, quando na terra, foi injuriado e desprezado.
— O Livro dos Espíritos, questões 937-938.
Já que nada é por acaso, façamos da gratidão um exercício pessoal que nos impulsiona para frente e para o alto. Recordemos as palavras de Divaldo Franco: “gratidão não é agradecimento, são as ações” (palestra realizada no Paraná, 12 a 14/março/2018).
Posição de gratidão
Se conseguirmos adotar uma posição de gratidão pela vida, pelos ensinamentos diários, pelo sol que nasce e se põe, pelas pessoas que estão ao nosso lado dividindo alegrias, tristezas e dificuldades, não os vendo como mal-agradecidos, mas como batalhadores, como nós mesmos, constataremos que cada momento, cada vivência, na realidade, seja grata ou ingrata, é mais um passo no nosso ciclo evolutivo.
Se conseguirmos olhar para dentro de nós, veremos que também já fomos ingratos, que já magoamos nessa vida, e, se cada momento é um passo para o futuro, é certo que temos um passado. Uma vez que não retrocedemos, com certeza hoje somos melhores do que ontem. Mas podemos ter uma ideia de que, como espíritos eternos, já erramos em outras experiências encarnatórias, já cometemos injustiças e, com certeza, já fomos desprovidos de gratidão em algum momento. Verificar esses aspectos pode mudar nossa percepção em relação ao outro. Se eu erro, por que o outro não pode errar? Até porque é no erro que verificamos que precisamos (e podemos) mudar e melhorar.
Sem sombra de dúvida, a ingratidão que sofremos é difícil de “digerir”, fere nossos sentimentos e torna difícil o entendimento. Mas, com certeza, quando somos capazes de “deixar nas mãos de Deus” e continuar sem olhar para trás, sem guardar mágoas, transformamos nosso dia e impregnamos a atmosfera com energias puras de amor e compreensão, fazendo bem a nós mesmos e a todos que nos rodeiam. Temos essa capacidade e podemos acionar nossa vontade.
Existem, no mundo, as pedradas da ignorância e da má-fé, partidas dos sentimentos inferiores e convém que o cristão esteja preparado e sereno, de modo a não recebê-las com sensibilidade doentia, mas com o propósito de trabalho e esforço próprio, conhecendo que as mesmas fazem parte do seu plano de vida temporária, onde veio para se educar, colaborando ao mesmo tempo na educação de seus semelhantes.
— Emmanuel no livro O Consolador, psicografia de Francisco Candido Xavier, q. 252.
Finalizando, observemos com calma estas belas palavras de Joanna de Ângelis que nos auxiliam muito a amar incondicionalmente, como Jesus nos ensinou:
O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, aturdido, deambula por caminhos equivocados.
Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um salto.
Aprende-se a gratidão mediante sua prática, que deve ser iniciada na família, essa sociedade em miniatura, na qual a efetividade manifesta-se com naturalidade.
— Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco.
Acompanhe agora a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
REFERÊNCIAS:
– EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. XIII, ítem 19. – EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. XIX, ítem 9.
– LIVRO DOS ESPÍRITOS. Questões 937 e 938.
– CHICO, Xavier. O Consolador. Psicografia. Pelo espírito Emmanuel, ítem 252. – MINUTOS COM HAROLDO DUTRA: 13/06/2017.
– FRANCO, Divaldo Pereira. Psicologia da Gratidão. Psicografia. Pelo espírito Joanna de Ângelis.
– PALESTRA. Divaldo Pereira Franco, 12 a 14/03/2018.
– REVISTA “O CONSOLADOR”, ano 10, nº 469, 12/06/2020.
* Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
** Imagem em destaque: via Pexels.