A desgraça real

Em meio a tantas turbulências, dificuldades e acontecimentos que, por vezes, nos convidam a refletir sobre a estrada evolutiva de nosso planeta, podemos nos encontrar com questionamentos em relação à justiça divina. “Qual a causa de tanto sofrimento?” “Por que isso tudo está acontecendo?” “Por que a Humanidade precisa passar por tantas calamidades?” No entanto, […]

Em meio a tantas turbulências, dificuldades e acontecimentos que, por vezes, nos convidam a refletir sobre a estrada evolutiva de nosso planeta, podemos nos encontrar com questionamentos em relação à justiça divina.

“Qual a causa de tanto sofrimento?”

“Por que isso tudo está acontecendo?”

“Por que a Humanidade precisa passar por tantas calamidades?”

No entanto, podemos sempre recorrer à Doutrina Espírita que nos revela, de forma clara e concisa, uma compreensão mais ampliada em relação às Leis de Deus.

Deus e Suas Leis

Ao recorrermos à visão espírita de Deus, podemos encontrar uma definição ampla no Livro dos Espíritos:

1. Que é Deus?

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

— O Livro dos Espíritos, questão 1.

Dessa forma, ao pensar em Deus como sendo soberanamente justo e bom, em uma primeira análise, poderia ser um contracenso pensar que todos os sofrimentos estão de acordo com a vontade desse Deus. No entanto, o Espiritismo nos esclarece as causas reais dessas aflições.

A desgraça

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos uma explicação relacionada à desgraça real. Escrita pelo Espírito Delfina de Girardin, a mensagem se encontra no item 24 do Capítulo V do Evangelho.

Esta e outras mensagens nos evidenciam as dificuldades que passamos como sendo consequência de nossas atitudes e pensamentos enquanto seres imperfeitos.

Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, o expositor Sérgio Egídio nos esclarece que ao voltarmos nosso pensamento a nós mesmos, em detrimento dos outros, tendemos a realizar escolhas que nos levam ao nosso próprio sofrimento. Recorrendo à mensagem citada, podemos realizar interpretações interessantes em relação à essa desgraça:

“Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem.”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

Dessa maneira, observa-se a presença de uma visão limitada e materializada enquanto encarnados. Apesar de nossa moradia eterna ser a pátria espiritual, necessitamos da matéria para o desenvolvimento do gérmen divino de virtudes.

Assim, a presença da dor como obstáculo material temporário convida à reflexão das escolhas e pensamentos que tomamos, entendendo essa dor como sendo impulsionadora do processo evolutivo individual.

Visão material da desgraça

Seguindo na mensagem:

“Eles a veem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

O palestrante ainda evidencia que, por vezes, nossa visão ainda é pautada pelos tesouros e/ou felicidades da terra. Dessa forma, é necessário um cuidado com as escolhas de vibrações e padrões mentais que nos inserimos, entendendo que devemos equilibrar esses pensamentos e ações, visando a escolha dos bens imortais como a caridade e o amor.

Consequências das dores

Delfina de Girardin segue elucidando em relação à esse tema:

“Sim, é desgraça para os que só veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas consequências de um fato, mais do que no próprio fato.”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

Nesse sentido, podemos entender que as consequências de nossas ações são medida necessária para avaliar as dores e desgraças. Por vezes, colhemos as consequências de nossas ações nessa vida corporal, como em casos como alimentação excessiva.

No entanto, as consequências de algumas ações podem aparecer apenas após o desencarne, ou mesmo em outras encarnações, visto que ao tomar uma desição enquanto encarnado, na verdade quem está decidindo é o Espírito imortal, tendo o corpo como instrumento.

O amor divino

No entanto, Deus está sempre presente, aproveitando cada situação e escolha como forma de contribuir com nosso progresso:

“Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem.”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

Ainda, o palestrante realizou uma comparação entre nosso caminho evolutivo e um rio que flui até o oceano. Podemos analisar o oceano como sendo Deus, um pai bondoso, amoroso e caridoso e o rio como sendo o caminho que devemos percorrer durante nossa evolução.

Dessa forma, todos iniciam sua jornada na nascente desse rio e está destinado a chegar no grande oceano de amor. No entanto, por vezes, tentamos lutar contra essa correnteza enquanto não compreendemos a grandeza do destino final, pensando que o local que estamos é confortável. Mas Deus, com sua bondade eterna, cria uma corrente natural e eterna que leva esse rio ao oceano, basta nos conectarmos com essa corrente e trabalharmos para chegar em nosso destino final de amor.

A verdadeira infelicidade

O Espírito de Delfina de Girardin ainda nos evidencia a visão imortal da verdadeira infelicidade:

“Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

Dessa forma, tudo que nos prenda ao mundo material é a verdadeira infelicidade. O apego a acontecimentos momentâneos é o que nos faz sofrer no contexto imortal do Espírito.

Quando os meios materiais são mais preciosos que as virtudes imortais, o ser passa a acreditar que seja possível atingir a felicidade duradoura enquanto encarnado aqui e agora.

No entanto, nos é alertado que “A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.”. Dessa forma, procuramos esquecer nossa realidade do Espírito, passando a procurar prazeres momentâneos que, como consequência nos trarão infelicidades futuras, por não apresentarem bases sólidas para o contexto imortal.

Ainda, o palestrante nos alerta que devemos cuidar de nossas escolhas, tentando garantir um futuro promissor para nós mesmos em outras encarnações.

A Bússola moral

Enfim, o Espírito finaliza sua mensagem dizendo:

“Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.
Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no Reino celeste?”

— Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Bem aventurados os aflitos, item 24

Assim, esse item nos traz reflexões que devem estar em nossas reflexões diárias. Delfina de Girardin compara o Espírito como um soldado que se prepara para a batalha contra suas próprias imperfeições, em especial o egoísmo, orgulho e vaidade.

Nessa caminhada encarnatória, devemos lembrar que todos a nossa volta estão em mesma condição que nós. Isso faz com que devamos estender a mão e caminhar juntos rumo à perfeição.

Ainda, o palestrante esclarece que Deus não é a causa de todas as desgraças e tudo caminha rumo a Deus. Mesmo os irmãos complicados e transviados estão no mesmo rio que leva ao grande oceano de amor.

Assim, devemos tomar como meta escolher as virtudes imortais sobre a matéria passageira. Todos nós temos condições de superar nossas dificuldades. Ainda, contamos com a ajuda de companheiros espirituais que nos atendem e amparam.

Por fim, devemos utilizar os ensinamentos de Cristo como bússola moral durante nossa estadia carnal.

“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”

Deus é o nosso mestre e perante ele todos somos irmãos, independente das dificuldades, traçando caminhos para chegar a ele.

Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:

Referências Bibliográficas:

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Parte Primeira (Das Causas Primárias) – Capítulo I (De Deus).
  2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro, 131ª edição, 2013. Cap. V (Bem aventurados os aflitos), item 24.

* Colaborou com esta publicação: Alberto Luz.
** Imagem em destaque: Lisa via Pexels.

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