Olá irmãos, hoje falaremos sobre o temperamento segundo contribuições do benfeitor espiritual Emmanuel. O conteúdo está presente no livro Encontro Marcado, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Veremos o que o temperamento tem relação com o autocontrole.
Nossa irmã Daniela Galdino foi quem carinhosamente trouxe este tema, em palestra disponível nos canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade. Boa leitura!
O que é temperamento?
A palestrante nos traz que o temperamento é o conjunto de traços psicológicos de uma pessoa que determinam sua índole.
É também uma disposição particular de cada Ser, que tem sua peculiaridade e intensidade diferente de lidar com estímulos externos.
Allan Kardec vai nos dizer na obra O Céu e o Inferno, na primeira parte do livro onde trata sobre o estudo fisiológico e moral:
[…] podemos admitir que o temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte, porque há casos em que o físico evidentemente influi sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do espírito.
Considerando-se que o temperamento é um efeito, e não uma causa, os esforços tentados para modificá-lo podem ser paralisados pelas disposições morais do espírito que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica.
É, pois, sobre a causa primeira que devemos agir; se se consegue mudar as disposições morais do espírito, o temperamento modificar-se-á por si mesmo, sob o império de uma vontade diferente ou, pelo menos, a ação do tratamento médico será ajudada, em vez de ser tolhida.
-– O Céu e o Inferno, cap VII, grifo nosso.
Entendemos que o Espírito é quem determina o temperamento. O estado fisiológico (do corpo) característico na reação dos estímulos ambientais, nada mais é que uma resposta do próprio Espírito àquele estímulo.
Assim, o espírito é o artífice de seu próprio corpo, por assim dizer, modela-o, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e à manifestação de suas tendências.
-– O Céu e o Inferno, cap VII.
Reconhecendo o efeito (o temperamento), podemos remontar até as causas (no Espírito). Dessa forma, o controle de si próprio (autocontrole) pode iniciar com a observação do temperamento. Isto faz parte do processo de autoconhecimento: notar-se, perceber o conjunto de tendências que albergamos.
Trazer para o consciente nossas reações psicológicas no cotidiano é o primeiro passo para olharmos para os automatismos do Espírito. Com isso, conseguimos aos poucos ir entendendo o que é preciso modificar, esforçar-se e agir. Mas agir acolhendo nossas sombras, com a luz do amor e da sabedoria.
O que priorizamos?
Somos cuidadosos, salvaguardando o clima doméstico. Dispositivos de alarme, faxinas, inseticidas, engenhos de proteção e limpeza.
No entanto, raros de nós se acautelam (se cuidam) contra o inimigo que se nos instala no próprio ser, sob os nomes de canseira, nervosismo, angústia ou preocupação.
– Livro Encontro Marcado, cap. 44 , grifo nosso.
A falta de cuidado com o caminho que estamos trilhando, como Espíritos imortais, pode trazer consequências funestas para nós mesmos. Canseira, nervosismo e angústia são sinais que a mente e o corpo nos dão para observar a causa íntima.
Todavia continuamos a prestar mais atenção nos fatores de segurança e higiene externos, enquanto nossa casa mental fica “entregue às traças”. Como diz Emmanuel:
Asseguramos a tranquilidade dos que nos cercam, multiplicando recursos de segurança e higiene, no plano exterior, e, simultaneamente, acumulamos nuvens de pensamentos obsessivos que terminam suscitando pesadelos dentro de casa.
-– Encontro Marcado, cap. 44.
Este “dentro da casa” a que Emmanuel se refere pode ser tanto nossa casa física, como casa mental.
Com a casa física, seja nosso lar ou nosso corpo físico, nos preocupamos com os cuidados materiais. Esse cuidado é importante, mas deve ser a prioridade? Nessa casa, acabamos suscitando uma série de eventos infelizes, atraídos por pensamentos ruins.
O plano exterior vem refletir o que se passa no plano interior, na nossa casa mental. Um lar ou um organismo físico desequilibrado decorre do descuido com a saúde mental e moral de cada Ser.
O preço da fuga
Muitas vezes, desapontados de nós para conosco, à face dos estragos estabelecidos por nossa invigilância, recorremos a tranqüilizantes diversos, tentando situar a impulsividade que nos é própria no quadro das moléstias nervosas, no pressuposto de inocentar-nos.
-– Encontro Marcado, cap. 44, grifo nosso.
Quando ficamos no automático do dia-a-dia, não percebemos os sinais do corpo e da mente que surgiram há muito tempo.
Pode ter começado com uma sensação de cansaço, ansiedade, desestímulo, ou com um problema familiar ou no trabalho. O fato é que sinais pequenos, se não notados pela invigilância, nos levam a problemas mais complexos.
Às vezes até percebemos, porém é mais fácil esquecer, fugir, colocar para baixo do tapete. Não queremos enfrentar nossos medos e angústias porque pode doer olhar para eles. Daí começamos a recorrer a tranquilizantes diversos, como comer demais, ingerir álcool, gastar horas sem proveito nas redes sociais.
Até que ponto meu corpo vai dar conta dessa forma com que lido com meus gatilhos? Até chegar uma enfermidade maior? Depressão, câncer, doenças somáticas… que chacoalham nossa vida.
Surgem no físico as doenças da alma para falar: “está na hora de olhar para si. Está na hora de olhar e fazer um enfrentamento diferente perante a vida.” Imerso na Lei de Deus, nosso próprio organismo tem mecanismos para nos convidar a sermos mais corajosos e enfrentar a própria realidade.
Quantas coisas fazemos para não lidar com os próprios gatilhos? Fugimos de assumir nosso temperamento, de assumir a própria responsabilidade em mudar isso. De assumir “eu estou criando isto para mim”.
A mente criadora
Sem dúvidas não podemos subestimar o poder da mente sobre o campo físico em que se apoia. Se acalentarmos a irritação sistemática, é natural que os choques do espírito atrabiliário alcancem corpo sensível, descerrando brechas à enfermidade.
Nesse caso, é preciso rogar por socorro ao remédio. Ainda assim, é imperioso nos decidamos ao difícil entendimento do autodomínio.
-– Encontro Marcado, cap 44.
Se somos explosivos, precisamos questionar: “de que forma faço para ter meu centro de volta quando percebo que tal impulso vem?”.
Para isso, primeiro é preciso conhecer-se e perguntar “o que funciona comigo?” Há alguns recursos… Pode ser que fazer uma prece ajude a acalmar. Tomar um copo d’água, silenciando por alguns segundos. Lembrar do lado positivo dos nossos irmãos, dos ensinos da Doutrina Espírita. Para, então, conseguir discernir de forma mais consciente o próximo passo.
Mas como fazer para essa vontade de explodir não torne a aparecer?
A causa está no Espírito, como diz Kardec. Está na forma de lidar com estímulos externos, pautada no orgulho e no egoísmo. Transformaremos nosso temperamento com o conhecimento do Evangelho e com o esforço da sua vivência.
À medida que mudamos nossa visão perante a vida, em sintonia com a Lei de Deus, vamos gradualmente conseguindo sentir e agir de maneira renovada.
Reconhecer o temperamento é permitir descobrir-se e desvendar “como eu posso me ajudar?”.
A porta estreita exige nossa decisão em nos ajudar, em buscar ajuda, em agir a favor da própria evolução.
A decisão cabe a ti
No que concerne a temperamento, é possível receber as melhores instruções e receitas de calma; entretanto, em última análise, a providência decisiva pertence a nós mesmos.
-– Encontro Marcado, cap. 44.
Mesmo que conheçamos todos os ensinos de Jesus, se não decidirmos interiorizar esse conhecimento na alma, também será difícil decidir tomar atitudes de mudança.
Ninguém consegue penetrar nos redutos de nossa alma, a fim de guarnece-la com barricadas e trancas.
Queiramos ou não, somos senhores de nosso reino mental. Por muito nos achemos hoje encarcerados, do ponto de vista de superfície, nas conseqüências do passado, pelas ações infelizes em nossa estrada de ontem, somos livres, na esfera íntima, para controlar e educar o nosso modo de ser.
-– Encontro Marcado, cap. 44.
Se erramos ontem, saibamos que em cada amanhecer de um novo dia recebemos oportunidades de acertar no presente, ou agir para acertar no futuro.
Não estamos sozinhos, temos recursos auxiliadores a recorrer. Mas é preciso que sejamos o agente decisor, pois a mudança deve partir de nós mesmos.
Se não estamos dando conta de superar uma dificuldade sozinhos, procuremos ajuda. Seja dentro de casa com um familiar, seja com um amigo, com um atendimento fraterno no centro espírita ou com ajuda psicoterapêutica. O importante é dar esse primeiro passo. Lá dentro de si cada um precisa ter força para buscar.
Essas pessoas podem ajudar a ampliar nossa percepção. Quando estamos passando por momentos atribulados, temos dificuldade de enxergar nossa realidade, e vemos de forma distorcida.
A experiência de dor mostra que chegou o momento de mudar. Aquilo que não mudamos pelas oportunidades do amor vem agora gritando pela oportunidade da dor. Mas a mudança parte de dentro, começa em algo que eu preciso sentir ou fazer buscando Deus. Quando busco, também serei melhor amparado pela espiritualidade benfeitora.
Ajuda-te e o céu te ajudará
Deus está sempre conosco. Deus está sempre disponível para entregar aquilo que precisamos para superar a nós mesmos. Para superar, por exemplo, nossos temperamentos que nos trazem consequências dolorosas.
Dentro do nosso orgulho, queremos que essa ajuda seja de um jeito, que nem sempre é o melhor. Confiemos em Deus, façamos a nossa parte e estejamos atentos a Sua ajuda.
Encontrando a fé em Deus dentro de mim, os recursos vão aparecer. E às vezes vamos nos dar conta só lá na frente, quanta ajuda recebemos.
O ponto decisivo do autocontrole está dentro de cada um. A responsabilidade está dentro de cada um de nós.
Assumindo as rédeas da própria evolução espiritual
Saibamos enfrentar os nossos problemas como sejam e como venham, opondo-lhes as faculdades de trabalho e de estudo que somos portadores. Nem explosão pelas tempestades magnéticas da cólera e nem fuga pela tangente do desculpismo. Conter-nos. Governar-nos.
-– Encontro Marcado, cap. 44.
A felicidade relativa depende da forma que enfrentamos a vida. Observemos como lidamos com os problemas que nos chegam. Se sabemos que eles têm um propósito de nos ajudar, por que se rebelar ou fugir? O enfrentamento dos problemas com fé e razão, resignação e coragem vem com o tempo, à medida que nos esforçamos para amadurecer espiritualmente.
Busquemos nos preparar para o que vier, do jeitinho que vier. Tenhamos sempre como base o temperamento mais perfeito que a humanidade conheceu: Jesus. Ele é o único caminho.
Se já consigo me controlar, compreendendo as dificuldades e temperamentos que eu tenho na vida, consigo compreender mais facilmente as dificuldades dos outros nesse processo. Quanto mais carinho eu tenho ao olhar para mim, sendo compreensivo com minhas necessidades e limitações, mais amor e carinho eu vou ter para com o próximo.
O sucesso mais efetivo e duradouro que podemos conhecer é a vitória sobre si mesmo. Quem busca esse sucesso se sente vencedor ao conseguir dominar-se, modificando o temperamento e emoções degradantes. Tal sucesso é o que traz a paz íntima, que nos torna mais gentis, afáveis e nos faz irradiar bondade.
O sucesso sobre si mesmo acentua a harmonia e aumenta a alegria do Ser, que se candidata a contribuir em favor do grupo social mais equilibrado e feliz, levando o indivíduo a doar-se ao mister.
-– Desperte e seja feliz, cap. 15.
Ajuda mútua
Não nos esqueçamos de que fomos colocados, no campo da vida, com o objetivo supremo de nosso rendimento máximo para o bem comum. Aqui e além, estamos chamados a conviver com os outros, mas viveremos em nós estruturando os próprios destinos, na pauta de nossa vontade, porque a vida, em nome de Deus, criou em cada um de nós um mundo por si.
-– Encontro Marcado, cap. 44
Podemos ser a mão estendida ou a mão que pede ajuda. Buscando nos melhorar, poderemos ser alguém melhor para o outro. Cuidando para que estejamos bem, poderemos ajudar, servir, amparar o outro.
Deus nos criou para estarmos nessa grande corrente de ajuda. Todos estamos aqui para nos apoiar. Embora a trajetória evolutiva seja individual, a ponte de nós até Deus é a caridade para com nosso irmão.
Todos estamos enfrentando dificuldades, mas não estamos sozinhos. Que tenhamos força de vontade dentro de nós para continuar lutando e acreditando. Lembremos que somos senhores do nosso destino. Nosso Pai e uma grande espiritualidade torcem por nós.
Acompanhe na íntegra a palestra que inspirou esta publicação:
Referências bibliográficas:
XAVIER, Francisco Cândido. Encontro marcado. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. 1. imp. – Brasília: FEB, 2013. 158p. Cap. 44 – Temperamento, p. 62.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 57ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, Cap. VII – As penas futuras segundo o Espiritismo (A carne é fraca – estudo fisiológico e moral).
FRANCO, Divaldo Pereira. Desperte e Seja Feliz. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 12. ed. Salvador: LEAL, 2014. 92p. (Série Psicológica – Volume 7). Cap. 15 – Sucesso e “sucesso”, p. 67.
* Colaborou para esta publicação: Ana Maria Beims Lopes.
** Imagem em destaque: Tara Winstead via Pexels.