Os anjos e nós

Ontem os anjos eram como nós, amanhã seremos como eles. Evoluímos, cada qual segundo suas obras. Esta é a Justiça Divina.

Como vemos os Anjos

Pequenos, ouvimos a sugestão materna: rezar para os anjos da guarda, pedindo proteção. E dentro da conceituação católica o visualizávamos nos “santinhos” como aquela figura simpática de cabelos longos e asas abertas, por detrás das crianças como a protegê-las do perigo.

O homem, na verdade, além da intuição da existência de Deus, também pressente o mundo espiritual com manifestaçoes de natureza diversa e com a presença de outros seres.

Visão católica

A crença católica posiciona os anjos como seres puramente espirituais, superiores à humanidade. Criaturas privilegiadas, voltadas à felicidade suprema desde sua Criação e, como tal, sem terem trabalhado para aquisição de virtudes e saber.

Ora, essa posição contraria o Plano Divino da Criação, contraria a Justiça Divina. Seres criados para a felicidade eterna enquanto outros, desfavorecidos, só conseguindo a suprema felicidade ao preço de duras provas.

Visão espírita

A Doutrina Espírita no seu caráter lógico esclarece a questão com propriedade: há que se considerar na escala evolutiva as possibilidades de progressão dos espíritos. Estes melhoram por seus esforços. À medida que isso vai ocorrendo, mudam para ordens mais elevadas.

Caminhando rumo à angelitude

Os espíritos foram criados iguais, simples e ignorantes. Cada qual recebendo missões às quais lhes facultariam conhecer e trilhar o caminho para a perfeição. No desempenho destas missões se apresentam provações, dificuldades que o homem vai superando à medida que se esclarece.

A sua caminhada será mais ou menos rápida, a depender da sua docilidade em aproveitar bem as tarefas. Ninguém se conserva eternamente em zonas inferiores. Ninguém retrógrada. O espírito pode estacionar temporariamente na sua jornada mas não perde a ciência adquirida (nem de sentimentos, nem de sabedoria).

Deus não poderia isentar os espíritos das provações que lhes cumprem para alcançarem o grau de pureza, porque no caso teria que criá-los perfeitos. Onde estaria o mérito para gozarem os benefícios dessa perfeição? A própria harmonia do Universo depende das tarefas desempenhadas por cada um.

Ontem os anjos eram como nós, amanhã seremos como eles

Kardec perguntou aos Espíritos Organizadores da Doutrina Espírita:

122) Como podem os Espíritos em sua origem, quando ainda não tem consciência de si mesmos, gozar da liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, qualquer  tendência que os encaminhe para uma senda de preferência a outra?
— O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade desde que a escolha fosse determinada por um causa independente do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude de sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.
— O Livro dos Espíritos, parte segunda, capítulo I, questão 122.

Anjos, portanto, não são seres de uma categoria especial, são espíritos puros que percorrem todos os graus da escala evolutiva.

A Doutrina Espírita confirma a existência de suas qualidades, não os desmerecem. Acrescenta, porém, a explicação de suas naturezas e origens. O caminho a ser trilhado é aquele a que nos referimos, as condições são as mesmas para todos. Deus não favorece uns em detrimento de outros. As escolhas são dos homens.

Somos filhos de nossas obras

Kardec sintetizou no capítulo “Os Anjos”, na obra O Céu e o Inferno:

A alma, nas primeiras fases de sua existência, da mesma maneira que a criança, não tem experiência; e por isso é falível. Deus não lhe dá a experiência, mas lhe concede os meios de adquirí-la. Cada passo falso no caminho do mal representa um atraso para a alma. Ela sofre as consequências do erro e aprende à própria custa o que deve evitar. É assim que pouco a pouco ela se desenvolve, se aperfeiçoa e avança na hierarquia espiritual até chegar ao estado de espírito puro ou anjo.

A humanidade não está limitada à Terra. Ocupa inumeráveis mundos que circulam no espaço. Ocupou os mundos que já desapareceram e ocupará os que ainda se formarão. Deus criou desde toda a eternidade e cria sem cessar. Muito tempo antes que a Terra existisse, por maior antiguidade que lhe atribuamos, já havia em outros mundos Espíritos encarnados que percorreram as mesmas etapas que nós, Espíritos de formação mais recente, que estamos percorrendo agora o mesmo caminho que eles percorreram, chegando ao seu destino antes mesmo que nós houvessemos saído das mãos do Criador.

Por toda eternidade sempre houve anjos ou espíritos puros mas como a sua existência humana se perde no infinito do passado, temos a impressão de que eles sempre foram anjos.

Todos, antigos ou novos, conquistaram a sua elevação através da luta e pelos próprios méritos. Todos, enfim, são filhos de suas próprias obras. Assim se cumpre igualmente a soberana justiça de Deus.
— O Céu e o inferno, capítulo VIII.

Na vida prática, temos a companhia incessante desses Amigos (Anjos) nos incentivando para as ações nobres, nos inspirando o bom uso do livre-arbítrio, e até nos protegendo se lhes for permitido por Deus, nas situações perigosas (física e moralmente) a que nos submetemos. Não podem, porém, tomar as rédeas de nossas vidas. Velam e nos auxiliam para o progresso mas as escolhas finais são nossas.

Se quisermos usufruir dos direitos de Filhos de Deus temos que abraçar os deveres de Ajudantes do Pai, na obra da Criação.

Acompanhe também a palestra sobre o tema anjos e demônios:

*Colaborou para esta publicação: Maria Thereza Carreço de Oliveira.
** Imagem em destaque: via Pixabay.

Compartilhe:

Outros Posts