O que pedimos a Deus

A espiritualidade age de forma delicada, sutil. Às vezes o que achamos ser pura sorte é, na verdade, a intuição, o envolvimento dos espíritos amigos que trabalham em nome de Deus para nos auxiliar.

Em mensagem gravada para os canais digitais da Associação Espírita Fé e Caridade, a trabalhadora da casa Fabiana Fertig trouxe uma reflexão sobre o que pedimos a Deus. O tema está presente na parte III do Livro dos Espíritos, capítulo 2, que traz a Lei de Adoração e trata sobre a prece e seus vários aspectos.

Allan Kardec coloca à espiritualidade superior na questão de número 663:

As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Ou seja, é válido rezarmos a Deus e pedir para tirar as provas que todos nós passamos pela vida? Desviar o curso, é válido?

A espiritualidade responde:

Vossas provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim. (…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Quando se fala nas mãos de Deus, não pensemos naquela figura humana que vai avaliar a situação dos seus filhos e decidir por vezes pendendo mais pra um ou para outro, de acordo com o dia.

Nas mãos de Deus significa as Suas leis justas, sábias, imutáveis, baseadas na lei de justiça, amor e caridade, que nós temos que nos empenhar em conhecer para poder vivenciar.

Suportar as provas

As nossas provas estão nas Leis de Deus e existem algumas que devem ser suportadas até o fim. Um exemplo é a história de Francisco Candido Xavier com sua doença ocular. Através das mãos desse importante médium foram psicografadas centenas de obras, que ampliam nosso entendimento sobre o evangelho de Jesus e sobre a Doutrina Espírita. Inúmeros pais e mães foram consolados por cartas que Chico intermediava para os espíritos desencarnados, trazendo a esperança para tantos corações aqui na Terra. Ele estendeu auxílio para necessidade espirituais e materiais para tantas pessoas por mais de 90 anos.

Porém, Chico Xavier tinha problemas sérios no coração e também nos olhos. Os Espíritos disseram que não poderiam curá-lo. Poderiam tratá-lo mas não curá-lo, pois se tratava de uma prova que ele deveria suportar até o fim.

Mesmo sendo uma pessoa boa, um médium extraordinário, não foi poupado de uma prova que ele necessitava vivenciar aqui na Terra para o seu progresso espiritual.

Portanto, existem provas que vamos suportar a vida inteira porque são necessárias para o nosso crescimento. Ou situações que ainda vamos viver e nos tornarão mais fortes, mais habilitados a passar por outras experiências.

Resignar-se

Deus porém, leva sempre em conta a resignação (…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Chico Xavier enfrentou com resignação seu problema nos olhos. Ele nunca parou de trabalhar para o seu sustento físico, para divulgação da Doutrina, nem para o auxílio ao semelhantes. Ele trabalhou, ele viveu e se resignou.

Resignar-se é saber que determinadas situações não vão ser modificadas agora, de modo instantâneo, mas que devemos viver conforme dá, como é possível, angariando condições para que quando findar esta prova nós estejamos aptos a continuar.

Se nós estagnamos na revolta, na indiferença, na maledicência, na raiva, nós não estamos sendo resignados. E quando às vezes já passamos pela prova e continuamos ligados a ela, à dor ou ao sofrimento é porque não aceitamos, porque não exercitamos a resignação. Quando a prova passar estaremos mais habilitados internamente a continuar a nossa vida.

O poder da prece

A prece atrai para vós os bons Espíritos, que ao vos darem a força de suporta-las com coragem, faz que elas vos parecem menos rudes. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque fortalece aquele que ora, o que já é um grande resultado (…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Quando vamos a um templo religioso, sentimos um bem-estar.

Isso é um exemplo de que aquele local é cercado, é preenchido por espíritos amigos, do bem, que querem o nosso bem.

Então quando oramos, o primeiro efeito é este, estar em contato com espíritos que querem o nosso bem, o nosso progresso, que vêm nos auxiliar e, acima de tudo, nos dar coragem, nos intuir, dizer que nossos capazes.

Quando oramos, nos aproximamos de Deus. Durante o sono físico temos mais contato com os Espíritos. Vamos conversar melhor, estaremos mais lúcidos e quando retornamos ao corpo físico, podemos não lembrar, mas a impressão fica dentro de nós.

As provas

Aliás, ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará; bem o sabes como Jesus os falou. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal, do vosso ponto de vista mesquinho, para a vossa vida efêmera, é quase sempre um grande bem na ordem geral do Universo(…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Temos que aprender com essas dificuldades, essas provas da vida. Elas servem para redimensionarmos os verdadeiros valores de onde estamos inseridos.

O Espiritismo veio para nos libertar da materialidade, da visão do aqui e agora, do peso que a matéria tem sobre as nossas escolhas. É momento de, nesse grande sofrimento que passamos como indivíduos, como sociedade, abrirmos nossos olhos, tomarmos consciência do ser espiritual que somos e o que estamos fazendo aqui.

Não somos só um corpo, um cargo. Não somos só nossas relações afetivas, por mais nobres que sejam. Somos espíritos imortais. Aqui na Terra, tudo é transitório.

A imprevidência

Além disso, de quantos males o homem não é o próprio autor, pela sua imprevidência ou pelas suas faltas(…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

Temos provas e dificuldades referentes ao nosso crescimento, referentes a equívocos e desvios do passado que precisamos ir redirecionando. Porém, temos que ser honestos conosco mesmos.

Os valores que estamos dando na vida, são os valores do espírito ou os valores do aqui e agora?

A nossa imprevidência? Quanto do nosso sofrimento nós que somos os próprios autores?

A imprevidência no trânsito, a imprevidência na nossa fala “eu sou assim mesmo, eu falo o que eu penso, eu sou sincero” e esquece da gentileza. Esquece que você que fala o que pensa, em nome de ser franco, acaba por julgar os erros e as falhas dos outros.

Somos imprevidentes na fala e na escuta quando escutamos os outros já com pré julgamento, nosso olhar vê com maldade. Isso gera sofrimento para todos.

E estes sofrimentos Deus nos permite vivenciar, para que a gente acorde para essa necessidade de vermos quem nós somos, a que estamos destinados. Somos filhos de Deus, somos todos irmãos. Exigimos dos outros mas não habilitamos a dar aos outros.

A punição

Nós somos punidos naquilo em que nós pecamos(…)
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

A punição aqui é o reajuste, é a prova, a experiência dolorosa que causamos aos outros. No livro Reencarnação e Vida, de Amália Domingo Soler, um dos contos é a história de uma mulher, que em uma existência passada, aprisionou o homem que ela amava demais.

Ela era uma mulher de poder de terras e aprisionou este homem em um quarto por 20 anos. Passaram algumas existências, ela percebeu o equívoco do seu comportamento e pediu uma prova para que ela aprendesse esta lição e não mais errasse ao cercear a liberdade da vida do próximo.

E o que aconteceu com ela?

A mulher sofreu um acidente e ficou em coma por 20 anos. Foi um daqueles casos raros da pessoa passar por um coma de muitos anos e depois acordar. Finda a prova daquele espírito que ficou enclausurado por 20 anos, ela acordou e continuou sua vida.

Ação da Espiritualidade

Entretanto, os vossos justos pedidos são atendidos muito mais vezes do que supões. Julgais que Deus não vos ouviu, porque não fez um milagre em vosso favor, quando vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do acaso ou da força das circunstâncias. Muitas vezes também o é que, quase sempre o acontece, ele vos sugere a ideia necessária para nos desembaraçardes por vós mesmos das dificuldades que enfrentais.
— O Livro dos Espíritos, questão 663.

A espiritualidade age de forma delicada, sutil. Às vezes achamos ser pura sorte ou que tivemos uma ideia maravilhosa, mas na verdade é a intuição, o envolvimento dos espíritos amigos que trabalham em nome de Deus para nos auxiliar.

Assim como vemos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 27, Pedi e Obtereis: “Quando dá errado, colocamos a culpa em Deus e quando dá certo, achamos que é somente nosso mérito.”

Confira a íntegra da reflexão que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.

**Imagem em destaque via Pexels.com

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