O tema Descanso, faz parte das Leis Morais, citadas em O livro dos Espíritos. Nas questões 682 a 685, atribuídas à Lei do Trabalho, temos o decanso como um repouso necessário para reparação das forças físicas do corpo. Por ser uma Lei Natural, é necessária para o desenvolvimento intelectual do homem, da sociedade.
Os Espíritos acrescentam que não são somente as atividades materiais que complementam o trabalho, mas também as atividades do espírito. Toda a atividade útil é considerada um trabalho.
O que dizer sobre o descanso?
Kardec pergunta:
Qual é o limite do trabalho?
– O limite das forças, de resto, Deus deixa o homem livre.
— O livro dos Espíritos, questão 683.
O homem tem o poder de escolher quando ele trabalha e quando ele repousa para reconstituir suas forças. Não somente as forças físicas, mas também intelectuais, porque estas também são necessárias para que o espírito se sobreponha à matéria, trabalhando para sua evolução.
E como saber o limite? A Doutrina Espírita nos traz muita informação embasada para que tenhamos certeza do que estamos fazendo das nossas vidas. Ela nos indica o caminho do autoconhecimento, para reconhecer nossos limites, e nos dá o norte de como lidar com eles.
O modelo
A matéria existe desde o princípio, como Deus, ou foi criada por ele em determinado momento?
– Só Deus o sabe. Entretanto, há uma coisa que a vossa razão deve indicar. Deus, modelo de amor e de caridade, jamais esteve inativo. Por mais distante que se consiga imaginar o início da sua ação, poder-se-á compreendê-lo um segundo sequer na ociosidade?
— O livro dos Espíritos, questão 21.
Temos a base do nosso Pai, que nunca para. Está em um trabalho incessante. Assim como Jesus também, desde o momento que foi apresentado à humanidade, trouxe o exemplo do trabalho. Nosso guia e modelo, governador do Orbe, jamais deixou de trabalhar e continua trabalhando por todos nós.
Ele nos alerta que o sábado era tido como um dia consagrado ao repouso e as pessoas ficavam surpresas porque Jesus continuava fazendo seus trabalhos. Então ele disse O meu Pai não pára de trabalhar e eu também não.
O que os Espíritos nos dizem sobre a Ociosidade?
O obreiro terrestre, engajado em serviço de Jesus, tem horário integral de ação, porque até no sono físico, em sua pequena quota de sono físico, as energias de trabalhador se lhe mobilizam na edificação do bem.
— Mais Luz – Chico Xavier por Batuíra.
Sempre que nos sentimos com tempo disponível, vamos ao trabalho. Porque se estivermos verdadeiramente engajados no serviço com Jesus, estaremos doando a nossa contribuição mesmo durante o sono do corpo físico. Pois assim nosso Espírito estará envolvido em angariar e fornecer recursos para o trabalho no bem. Portanto, enquanto nosso corpo dorme, lembremos de fazer em nossas preces o pedido para que sejamos levados para locais de trabalho, onde o trabalho no bem seja necessário.
Não te esqueças da hora que passa, convocando-te às construções do Espírito. Nosso único patrimônio real é aquele que se constitui de nossas obras.
— Instrumentos do Tempo – Chico Xavier por Emmanuel.
Emmanuel nos alerta sobre a necessidade de estarmos atentos ao que fazemos com essa preciosidade, o que nós fazemos ao nosso favor com o tempo. Será que estamos gastando com frivolidade, com coisas passageiras? Ou estamos realmente utilizando para a nossa evolução espiritual?
Emmanuel destaca que nosso único patrimônio real é aquele que se constitui de nossas obras. Então faça esta reflexão: como estais empregando as suas horas? Estais utilizando de forma a construir algo de positivo pra si e para o outro?
A Doutrina vem para nos dar este sentido de vida, nós somos Espíritos eternos, estamos caminhando para vidas melhores. Queremos ser espíritos melhores e, nesta caminhada, estamos levando nossas obras. Quais são as suas obras?
A sua contribuição
No livro O Céu e o Inferno, um Espírito chamado Angela se apresenta espontaneamente ao médium, se classificando como um espírito em nulidade sobre a Terra. Ela vem dizer que está procurando a paz e que tem medo do desconhecido.
Então é questionada: como não tem paz no mundo espiritual? Ela responde que não sabe o que é isso, porque em sua opinião o sofrimento era só relacionado a dores físicas.
Este espírito não tinha nem ideia do que era crescimento espiritual moral. E quando é indagada se gostaria de sair desta inércia, o que fazia enquanto encarnada, ela responde: “nada”.
Ela foi casada, teve filhos, mas se sentia entediada, pois era sua criada que fazia tudo. Ela achava que teve boa vida quando solteira, porque se dava aos prazeres do mundo. Depois, não via mais sentido em nada. Este espírito se encontrava em um grande vazio existencial, por não ter construído, não ter levado nenhuma obra consigo.
A hipótese feita a este Espírito é que seus problemas fossem justamente oriundos da sua inércia. Ela responde que talvez seja mesmo, mas que não sabia como sair. Ela é convidada para a ação, seja levar um consolo ou palavra amiga para outros espíritos que estejam sofrendo. Eles se propõem a ensiná-la, dizendo orar juntos. Todavia, ela recusa a oferta, com a justificativa de que isso cansa.
Isso quer dizer que se este Espírito ainda não está imbuído deste sentimento, ainda não entende a necessidade desta construção espiritual.
O serviço com Jesus é saúde
“Sejamos, por nossa vez, peças atuantes do Evangelho Vivo, demonstrando que o serviço é condição de saúde eterna.”
— Ideal Espírita– Chico Xavier e W. Vieira por Eurípedes Barsanulfo.
Quando nos deixamos dominar pela preguiça, devemos observar se é um momento passageiro ou não. Se essa preguiça não for logo combatida com as pílulas salutares do trabalho, da atividade tanto do corpo como da mente, acaba gerando um desânimo. E este, naturalmente, já quer se instalar em nossas entranhas psíquicas.
Uma vez instalado este desânimo, podemos perceber em vários depoimentos, ou até em experiências que nós tenhamos passado, que é difícil de combater. E por que será? Porque o desânimo uma vez instalado, abre uma grande brecha para a ociosidade.
Esta ociosidade é amiga de pensamentos negativos e sentimentos destrutivos. Isso, pois abrimos nosso campo vibracional para que irmãos menos evoluídos venham nos influenciar.
Mas não podemos dizer que estes irmãos com ideias inferiores são nossos algozes. Eles só fomentam aquilo que já existe dentro de nós, ideias que nós já cultivamos. A ociosidade é um campo muito fértil das ideias negativas.
Com pensamentos e ideias enfermiças, vamos procurando dentro de nós aquilo que vira o vazio existencial. Nos vemos tomados por sentimentos que às vezes precisamos de medicamentos. Mas o nosso Espírito também precisa ser trabalhado. E assim que surgem os tormentos.
“Preguiça é ópio das trevas. Os que não trabalham transformam-se facilmente em focos de tédio e ociosidade, revolta e desespero, desequilíbrio e ressentimento, pessimismo e loucura.”
— Justiça Divina – Chico Xavier por Emmanuel.
Podemos citar aqui o relato de Angela, o espírito tomado pelo tédio, por estar ociosa.
Na hora da Fadiga
Quando a fadiga te espreite a esfera da ação, pensa naqueles companheiros ilhados em padecimentos do corpo e da alma, a esperarem pelo auxílio, ainda que ligeiro, de teu pensamento, de tua palavra, de tua providência, de tuas mãos…
— Estude e Vida – Na hora da Fadiga – Emmanuel/André Luiz.
Aqui está um grande convite ao trabalho. De levar nossa palavra, nosso ombro, nosso ouvido, nosso olhar e a nossa atenção aqueles que se encontram às vezes, em martírios muito grandes. E este convite é para estudar e levar o conhecimento que já temos a quem precisa, levar a esperança e o sentido de vida para as pessoa que necessitam.
O Desânimo
Se o desânimo te ameaça, examina se o abatimento não será unicamente anseio de repousar antes do tempo, e se te reconheces conscientemente dotado de energias para ser útil, não te confies à inércia e à lamentação.
— Estude e Vida – Na hora da Fadiga – Emmanuel/André Luiz.
Sejamos honestos conosco na autoavaliação. Se ainda temos forças, ainda podemos trabalhar, ainda podemos ser úteis. Estejamos atentos.
As chances batem a nossa porta. Jesus coloca a nossa disposição, inúmeras oportunidades para que possamos ser trabalhadores, mas muitas vezes questionamos, duvidamos ou dizemos não estarmos prontos.
E quando estaremos realmente preparados?
Lembre-se que, estar na atividade é estar se preparando. Vamos aprendendo com aquele que já tem um pouco mais de experiência. Mas tenha certeza que sempre seremos peças importantes.
O Seu Tempo
Muitas vezes, temos a mania de dizer “não sei se posso”, “não sei se devo”, “não sou digno deste trabalho”.
Estamos sempre arrumando desculpas, tentando nos convencer de que aquilo não é para nós. Mas se o convite está vindo, é porque precisamos. Lamentamos de situações que não mudam, quando na verdade quem precisa mudar somos nós mesmos.
O trabalho é importante e necessário, não tem dia nem hora. Quando for chamado, leve em conta seu sentimento, sua emoção. Não esteja ocioso tendo o conhecimento que tens.
O tempo concedido ao Espírito para uma reencarnação, por mais longo, é sempre curto, comparado ao serviço a que somos chamados a realizar. Importante assim o aproveitamento das horas.
— Estude e Vida – Na hora da Crítica – Emmanuel/André Luiz.
O que estamos fazendo em prol do outro e de nós mesmos?
Antes de Cristo, as pessoas que trabalhavam eram vistas como menores, como se fosse uma desonra trabalhar e depois de Cristo o trabalho adquiriu uma nova visão, como uma benção divina.
... E, até hoje, honrando no trabalho digno a sua norma fundamental de ação, o Cristianismo é a força libertadora da Humanidade, nos quadrantes do mundo inteiro.
— Roteiro – Evangelho e Trabalho – Chico Xavier por Emmanuel.
A espiritualidade sempre nos alerta, não deixamos nos dominar pelo desânimo, pela preguiça. Sejamos ativos através do estudo, da caridade, do pensamento, através do trabalho no bem.
Acompanhe a íntegra da palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Débora Hemkemeier.
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