Em palestra transmitida pelos canais digitais da AEFC, o expositor Gilvan Cordeiro de Araújo trouxe-nos seu estudo sobre o capítulo 9 do livro Pão Nosso, de Emmanuel, a partir da psicografia de Francisco Candido Xavier. O título da mensagem é “Homem de Fé”.
No evangelho de Mateus, capítulo 7, versículo 24, temos:
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha.
— Mateus 7:24.
Homens de fé
Quando se faz a leitura deste capítulo, constata-se que os homens de fé não são os que usam bem as palavras, mas os que têm boa vontade e trabalham silenciosamente em sua própria obra, no aperfeiçoamento de si mesmos. Trabalhar para o autoaperfeiçoamento é construir e reconstruir nossa casa, assim como o João de barro, que faz sua casa na forquilha mais forte da árvore e resiste a tempestades de toda ordem.
Estamos vivendo nesse momento de transição, de fortes tempestades. A humanidade está sendo assolada por grandes dificuldades, como a pandemia e mais uma guerra, dois flagelos que trazem dor e sofrimento. Devemos nos perguntar, em reflexão, individualmente:
- Como estou me posicionando diante de tais desafios?
- Consigo ter fé, crendo profundamente que devo continuar na luta por um mundo melhor?
- Confio que estou onde deveria estar para minha evolução e que as pessoas que estão ao meu lado são exatamente os parceiros com quem devo aprender?
- Tenho paciência, amor e compreensão, ou seja, estou alicerçando minha casa interna com vigas fortes?
O exemplo de Jesus
Jesus, nosso grande amigo, é nosso apoio nas horas difíceis. Quando aqui esteve, nos deixou mensagens práticas e teóricas para nos auxiliar a edificar nossa casa, como o Sermão da Montanha. O mestre abriu o Sermão da Montanha com as bem-aventuranças, que devem ter caído como raios sobre os ouvidos do povo hebreu do primeiro século. Passado tanto tempo, conhecemos, entendemos e praticamos os ensinamentos de Jesus? Paramos e refletimos sobre nossas palavras, ações e pensamentos?
De acordo com o Novo Testamento, Jesus fez 40 dias de silêncio e meditação no deserto para proferir o Sermão, que seria a “plataforma do Reino de Deus”. A reflexão que fica aqui é sobre a necessidade de parar, pensar para agir e poder se fortalecer.
Jesus disse, no final do Sermão da Montanha:
Todo aquele, pois que ouve estas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. E caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
— Mateus, 7:24-27.
Se analisarmos com calma essas palavras de Jesus, verificamos que o Sermão da Montanha trata de atitudes e desafios a serem realizados e vencidos. Só assim estaremos fortes porque nossas ações são o resultado de nossos pensamentos e é na prática diária que, a cada ato, edificamos nossa morada interior.
Construir a casa sobre a rocha
Quando queremos construir nossa casa material, procuramos alguém que entenda do assunto e assim é com nossa casa espiritual. Jesus, nosso exemplo, nos deixou um legado de amor para que, ao refletir sobre, possamos redirecionar nossas vidas, agindo de forma a nos fortalecer no bem, dia a dia.
Vale lembrar Paulo de Tarso, que escreveu: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.” (ICo 13:1). Quer dizer, ele poderia usar os mais belos discursos, usar as palavras mais apropriadas, com todo “engenho e arte” da oratória, se não tivesse caridade, ou seja, se não sentisse o que falava, se não praticasse o que dizia, nada significaria.
Em termos práticos, não saber usar o conhecimento que possuímos para ajudar ou auxiliar o semelhante é viver sem sentido algum, por isso a importância do autoconhecimento, para não desperdiçarmos o nosso tempo na condição de encarnados. Então, trabalhemos, exercitando a prática do amor.
Edificarmos nossa casa sobre a rocha representa nossa vontade de buscar a transformação moral, mudar nossas atitudes, para que sejam alicerçadas nos ensinamentos de Jesus. Assim estaremos construindo nossa vida sobre bases seguras, não importando que desafios e tempestades enfrentemos, estaremos firmes na nossa fé na vida futura, sendo resistentes e conscientes de nossas próprias fragilidades, nos entregando a Deus e confiando, permanecendo em pé para sempre.
É hora de construir
É uma tarefa fácil? Não. Mas podemos não adiar. Somos espíritos imortais e temos que ter consciência que estamos em um processo evolutivo, em um mundo de expiação e provas e num momento de transição planetária. Somos passageiros em uma mesma viagem, ou seja, precisamos uns dos outros. Estas considerações devem ser interiorizadas para serem utilizadas em nossa vida diária, quando “esquecemos” de tudo que estudamos e lemos.
Assim como acordamos, escovamos os dentes, comemos, trabalhamos e essas ações são normais no nosso cotidiano, precisamos da consciência plena de que não somos apenas corpo. Não podemos separar nosso espírito. Ele é eterno, o corpo não. É nosso espírito que vivencia nossas experiências, vida após vida, deixando as marcas em nosso perispírito. Então, limpemos a sujeira de nossa casa: o orgulho, a vaidade e o egoísmo.
Conta-se que Gandhi, certa vez, foi procurado por uma senhora, com um filho que tinha o hábito de comer açúcar. Aquela mãe ficou sabendo de Gandhi e sua habilidade para ensinar. Após ouvi-los, Gandhi pediu que voltassem em 15 dias e, ao voltarem, foram orientados sobre como eliminar aquele mau hábito. A mãe perguntou porque Gandhi não havia feito essas observações da primeira vez que foram lá. Gandhi respondeu: “é que eu também possuía o hábito de comer açúcar. Preferi primeiro aplicar a orientação em mim próprio, para depois transmiti-la a outrem”.
Trabalhar para mim mesmo e para o outro. Trabalhar sempre. As ações são, na realidade, a prova de que o que estudei e li foi absorvido e transformado no bem. Antes de aconselhar, Mahatma Gandhi se observou, se transformou e depois colocou sua experiência em palavras. Quão difícil para nós ainda é se colocar no lugar do outro em pensamento e mais complicado ainda, em ações.
Em mensagem publicada no livro Alvorada do Reino, pelo médium Francisco Candido Xavier, o espírito Emmanuel nos convida:
A assistência social é a fraternidade em ação. Sem ela, indiscutivelmente, os nossos mais preciosos arrazoados verbalísticos não passariam de belos mostruários sonoros . É necessário teorizar com o exemplo se desejamos argumentar com eficiência e segurança, no campo de nossas realizações. (…)
Trabalhemos, auxiliando-nos uns aos outros. (…)
Hoje é o nosso dia. Agora é o momento.
O auxílio aos outros é a nossa oportunidade.
Auxiliar é a honra que nos compete.
Sigamos assim, destemerosos e firmes na convicção de que o Senhor permanece conosco e, indubitavelmente, alcançaremos amanhã a alegria e a paz do mundo melhor.
— Emmanuel, livro “Alvorada do Reino”.
Que possamos refletir e olhar nossa casa, nosso presente dado por Deus para nossa própria construção. Vamos construir nossa felicidade sobre algo duradouro, firme como a rocha.
Que assim seja!
Referências:
– JORNAL VERDADE E LUZ. nº 188 (18/09/2001).
– MATEUS, 7:24.
– O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Cap. XV. Ítem 7.
– XAVIER, Chico. PÃO NOSSO. Cap. 9 (pelo espírito Emmanuel).
– ROHDEN, Humberto. O SERMÃO DA MONTANHA.
Acompanhe a palestra que inspirou esta publicação:
*Colaborou para esta publicação: Susana Rodrigues.
**Imagem em destaque: ebird.org.