9 perguntas sobre Espiritismo, feitas por uma criança

Como é a vida após a morte? Os espíritos comem? Usam roupas? Sentem frio? Muitas crianças (e adultos) gostariam de saber mais sobre a vida no plano espiritual, nossa pátria verdadeira.

Em palestra na Associação Espírita Fé e Caridade, o trabalhador da casa Paulo Allebrandt trouxe uma experiência pessoal que muitos pais e cuidadores já devem ter vivido. Ele fazia uma viagem em família pelo campo, quando a filha Júlia, de 7 anos, contemplando a natureza, começou a fazer perguntas de cunho mais filosófico. A pequena, que frequenta os encontros de evangelização na AEFC desde os 3 aninhos, queria saber mais sobre a vida, a morte, a alma e o mundo espiritual. 

“Algumas perguntas nos intrigaram pela profundidade e mesmo pela dificuldade que tivemos em respondê-las,” conta Paulo. E foram tantas perguntas que o palestrante teve a ideia de fazê-la gravar as perguntas em áudio. Na palestra, ele compartilhou essa gravação e foi respondendo as dúvidas da filha, uma a uma. 

O que Paulo compartilhou com o público na palestra foi só uma pequena amostra do que acontece na AEFC todas as semanas durante a evangelização.

1. Como é a vida depois da morte? Espíritos comem?

Só a primeira parte da pergunta já poderia render conteúdo para um encontro inteiro de um grupo de estudos. A vida depois da morte é, na verdade, a verdadeira vida. O que nós estamos experimentando aqui, encarnados, é algo passageiro, mas muito importante para o nosso aprendizado, motivo pelo qual nós devemos valorizar cada momento.

Allan Kardec nos traz que a vida aqui no mundo corpóreo é apenas um pálido reflexo do que é a vida no plano espiritual. Seguiremos vivendo em sociedade, seguiremos nos relacionando com as pessoas, seguiremos trabalhando. 

Mas vamos focar agora na parte mais específica da pergunta: Eles comem?

Para quem já leu o livro ou assistiu o filme Nosso Lar, vai lembrar que o André Luiz tomava uma sopa. Tem até uma cena do filme, logo que ele sai das câmaras de regeneração e é acolhido na casa de Lísias, quando vão servir o jantar ele comenta que já estava cansado da sopa e, quando servem a mesa… Era sopa novamente.

Isso, por si só, já nos responde que sim, eles podem comer. Agora, mais importante do que isso… Será que precisam comer?

Espíritos menos evoluídos ainda vão sentir essa necessidade, que será suprida, como demonstrado em Nosso Lar, por um alimento fluídico que lembra alimentos que temos aqui na Terra. Agora, isso não é uma necessidade do Espírito, que não precisa do alimento para sua sobrevivência.

Essa pergunta faz lembrar, também, de um diálogo que Kardec relatada na revista Espírita de dezembro de 1860, com um espírito se apresenta como um gastrônomo. Ele conta que passou a sua última encarnação vivendo todos os prazeres da boa mesa e, ao desencarnar, sofre muito pela falta do alimento. Ele tem a sensação da fome, o desejo pela comida, mas não a necessidade de comer.

2. Os espíritos sentem quando está frio?

A resposta é: depende. Depende da condição do Espírito. Eles podem sim, sentir frio e calor, mas, assim como a necessidade de alimento, com a fome a questão do frio e do calor não estão ligadas à organização do Espírito, mas a uma reminiscência das sensações que a pessoa tinha quando estava no corpo físico, como a espiritualidade nos explica na questão 256 de O Livro dos Espíritos.

Poderíamos dizer que o frio que um Espírito relata sentir em uma comunicação não é uma sensação física. Sabe aquela velha frase de que o frio é psicológico? No caso dos espíritos é mais ou menos isso mesmo.

Importante, porém, sabermos que, mesmo não sendo uma sensação física, não por isso ela deixa de ser real. O Espírito que relata sentir frio, realmente está sentindo e será tão desconfortável para ele quanto é pra nós, encarnados. O que muda é que para o corpo físico, basta um cobertor, enquanto que para o Espírito, pode ser necessária uma mudança de estado mental, o que pode ser muito mais desafiador.

3. Espíritos usam roupas?

Sim, eles usam roupas.

Como podemos ver lá no Livro dos Médiuns, no capítulo chamado “Do laboratório do mundo invisível”, os Espíritos conseguem manipular os elementos à sua volta para dar-lhes a aparência e utilidade de que precisam.

Claro que essa capacidade depende de algum grau de evolução e de autodomínio. Um espírito menos evoluído aparecerá, muitas vezes, com a mesma aparência que tinha no momento do desencarne. Se relembrarmos André Luiz nos momentos em que esteve no umbral, ele aparecia com trapos, o que era condizente com a situação dele.

Temos, então, que sim, os Espíritos se apresentam com roupas e essas roupas vão depender da sua condição. Quanto mais evoluídos, maior a liberdade em manipular os elementos à sua volta para dar-lhes a aparência que desejem.

4. Como espíritos interferem na nossa vida, se eles moram em outro lugar?

Aqui é muito fácil lembrarmos daquela, que talvez seja uma das questões de O Livro dos Espíritos mais citadas em palestras:

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e atos?
Mais do que imaginais, pois com bastante frequência são eles que vos dirigem.
— O Livro dos Espíritos.

Mas vejam que a pergunta da Júlia já assume que é isso mesmo. Ela não questiona SE influenciam, mas sim COMO.

A explicação pra isso pode ser encontrada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, lá no capítulo XXVII – Pedi e obtereis, no item cujo título é “Ação da Prece. Transmissão do pensamento”.

O que a espiritualidade nos informa é que, assim como o som se propaga no ar, o nosso pensamento se propaga por meio do fluído universal. É assim, então, que mesmo a certa distância, um Espírito pode interagir conosco.

Mas Júlia mesma se dá conta disso e revela na sua próxima pergunta…

5. Afinal, os espíritos moram em outro lugar ou moram aqui?

Nós sabemos, pelos relatos de diversos Espíritos, que existem as colônias espirituais. Já ouvimos falar muito sobre umbral e postos de socorro e atendimento. Tudo isso faz pensar que sim, que eles moram em outro lugar.

Se voltarmos lá para O Livro do Espíritos, na questão 84, nós temos a informação de que os Espíritos constituem um mundo à parte, o mundo espiritual.

Importante lembrarmos, porém, que logo em seguida, na questão 87, quando Kardec pergunta se os Espíritos ocupam uma região circunscrita, a resposta informa que não, que estão por toda parte e povoam todos os espaços infinitos, que estão continuamente ao nosso lado.

Então podemos dizer que sim, Espíritos podem morar em outro lugar, mas ao mesmo tempo nos cercam o tempo todo. Se voltarmos à questão anterior, podemos complementar a resposta dizendo que somos influenciados principalmente por esses espíritos que nos cercam, mas também à distância, por meio do pensamento.

6. No mundo dos espíritos tem céu? Tem sol? Tem nuvem?

Intuitivamente essa parece ser uma pergunta muito fácil de responder. Parece natural que se imagine que no plano espiritual, a depender de onde se encontra a colônia, o céu, o sol, as nuvens e a lua se farão visíveis.

Mas, talvez por isso ser algo tão natural e corriqueiro, são poucas as referências que nos tragam essa informação.

A maior fonte que temos sobre a vida do mundo espiritual são as obras de André Luiz.

Em Nosso Lar, por exemplo, há uma cena em que Lísias encontra André Luiz na sua casa e lhe diz “Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios”. Logo em seguida André Luiz faz uma descrição da beleza da noite em Nosso Lar.

Em outro exemplo, agora do livro Entre a Terra e o Céu, em uma cena em que trabalhadores voltavam ao plano espiritual depois de uma noite de muito trabalho e André Luiz faz o seguinte relato:

Ante nosso olhar deslumbrado, tingira-se o horizonte de cores variegadas, anunciando o Sol que parecia nascer num mar de luz e ouro.
Muito longe, esmaeciam as estrelas e, perto de nós, nuvens leves caminhavam apressadas, tangidas pelo vento.
— Entre a Terra e o Céu.

Claro que os exemplos que eu trouxe são de locais mais harmoniosos. Lísias conta a André Luiz, em Nosso Lar, que o ambiente bonito que ele vislumbra quando sai para ver o luar, é fruto de um acordo dos habitantes da colônia de só emanarem bons pensamentos, de forma a manter o ambiente límpido, o que promove essa beleza.

Se voltarmos no começo do livro, quando ele relata a passagem dele pelo umbral, o relato é de que a luz quase não penetra o ambiente, tão espessa que é a neblina.

Isso nos leva à conclusão de que sim, no mundo dos espíritos o céu, o sol, as nuvens e a lua estão presentes, mas serão mais ou menos visíveis de acordo com a pureza de pensamento dos que habitam cada local.

7. Os espíritos respiram? Se sim, tem árvores lá no mundo dos espíritos para produzir oxigênio?

Comecemos pela segunda parte da pergunta. Existe vegetação no plano espiritual? André Luiz nos traz diversas informações sobre isso, citando as árvores que cercam as câmaras de tratamento em que ele trabalhava, os jardins destinados ao descanso e refazimento, as ruas ladeadas por árvores frondosas.

Mas daí a serem árvores com o mesmo tipo de funcionamento que as nossas, absorvendo gás carbônico para produzir oxigênio… Sinceramente, não sabemos!

Uma coisa, porém, podemos afirmar. Voltando para o começo da pergunta… Eles respiram?

Não! Espíritos não têm a necessidade de respirar. A respiração, assim como a alimentação, é uma necessidade do corpo físico. Quando estamos desencarnados nós permanecemos apenas com o perispírito, que é um corpo fluídico cuja organização não depende de órgãos como o nosso corpo físico. Não há, portanto, um sistema respiratório e não há necessidade da respiração ou da alimentação para manutenção da vida uma vez que, no estado natural, que é o estado espiritual, somos imortais.

8. Os animais vivem junto dos espíritos humanos? Ou habitam outro mundo?

Para esse ponto nós podemos recorrer a O Livro dos Espíritos. Lá no capítulo XI da parte segunda Kardec traz uma série de perguntas sobre minerais, vegetais e animais.

Na pergunta 597 fica muito claro que os animais possuem, também, uma espécie de alma e que ela sobrevive ao corpo após a morte. Na questão seguinte, a 598, a espiritualidade nos indica que os animais conservam, inclusive, a individualidade depois da morte, porém, não permanecem na erraticidade da mesma forma que os Espíritos humanos. A questão 600 diferencia bem na medida em que indica que Espíritos humanos têm consciência de si mesmos, o que os animais não têm. Além disso, em geral os animais reencarnam muito rapidamente, sendo classificados por Espíritos que se encarregam de dar-lhes alguma destinação.

André Luiz, porém, nos traz uma informação curiosa, de que ele vê, em Nosso Lar, animais domésticos. Além disso, ele relata que no umbral os trabalhadores dispõem de cães e aves que os auxiliam nos trabalhos. Esses são exemplos de utilização dos animais para atividades também na esfera espiritual, assim como muito fazemos aqui no plano material.

9. O dia deles têm 24 horas? Ou menos? Ou mais?

Ouvimos falar muito que o tempo é diferente no plano espiritual. Na questão 240 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se os espíritos compreendem a duração como nós, ao que a espiritualidade responde que não. Kardec complementa dizendo que para eles os séculos, que nos parecem tão longos, são apenas instantes na eternidade.

Podemos interpretar que é tudo uma questão de percepção com relação ao tempo. Assim como nós percebemos o tempo de forma diversa em momento de diversão ou de tédio, no trabalho e no lazer, na infância e na idade adulta.

Temos algumas informações, por exemplo, em Nosso Lar, onde André Luiz nos relata a questão da jornada de trabalho dos habitantes daquela colônia. A senhora Laura, em conversa com André Luiz, relata que trabalha no mínimo 8 horas por dia, 48 horas por semana. Ela afirma, ainda, que trabalha 8 das 24 horas que o dia possui.

Assim sendo, parece que são as mesmas 24 horas com que já estamos acostumados, pelo menos nessas colônias mais próximas da crosta terrestre.

Acompanhe agora o áudio da palestra que inspirou esta publicação:

*Colaborou para esta publicação: Paulo César Allebrandt.

** Imagem em destaque via pexels.com.

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